Iuri 23/08/2021
Uma visita ao "nosso lar"
“ Cada vez que me via na esfera do Ponto de Vista da Minhoca, eu podia me lembrar da reluzente Melodia Giratória que me conduzia ao Portal e ao Núcleo. Passei muito tempo - que paradoxalmente parecia tempo algum - na presença de meu anjo guardião sobre as asas da borboleta e uma eternidade aprendendo as lições do Criador e da órbita de luz nas profundezas do Núcleo.
Mas, em algum ponto da viagem, cheguei à beira do Portal e descobri que não podia entrar de novo. A Melodia Giratória - até então a minha chave para aquelas regiões mais elevadas - não me levava mais para lá. Os portões do Céu estavam fechados”
Assim o Dr. Eben Alexander III descreve suas andanças pelo Céu, enquanto esteve em coma durante sete dias em 2008, no livro “Uma Prova do Céu” (Sextante – 2013).
Alguém entendeu alguma coisa?
Piração total.
Mas esta piração adquire algum sentido se adotarmos o ponto de vista dele (ou seja lá no que ele se transmutou) durante sua tour pelo além
Antes desta visita ao Nosso Lar, o Dr. Eben desdenhava os lances de espiritualidade e pautava sua crença através daquilo que passava pelo crivo do experimento científico direto. O que não podia ser comprovado materialmente caía para o reino da ilusão, do delírio.
Sendo um avançado neurocirurgião, encarava todas as tais de experiências místicas de seus pacientes, e demais que tomava conhecimento, como não sendo mais nada do que respostas a reações e fenômenos naturais do cérebro.
Isto até contrair, de forma absolutamente inexplicável, um tipo raríssimo (um a cada 10 milhões de adulto são infectados) de Meningite que o levou ao coma, período em que atingiu o fatídico 97% de chance de morrer. Mas eis que de forma absolutamente inexplicável (seria um milagre?), acordou e, de forma absolutamente inexplicável, recuperou sua saúde plena.
É muito mistério para um cristão só.
Segundo o que o doctor registra, nunca houve um caso igual ao seu registrado na história da medicina.
Ele então seria algum tipo de “escolhido”, um “eleito” , um Neo? Alguém que deveria que passar por uma grave provação do corpo, que resultou na viagem do seu espírito às esferas celestiais, das quais retornou com a missão de compartilhar sua experiência com todos os (ainda) encarnados?
Ele chega a cogitar isto e vai na linha de que um cientista materialista (e eu acrescento ocidental, norte-americano, branco, bem sucedido e de boa aparência), que passou por uma experiência profunda de EQM, seria a persona ideal para revelar à humanidade a verdade sobre o mundo das almas.
O desconfiômetro sobe diante de tanta seleção e a tendência é tachar o livro de uma viagem na maionese, ou uma furiosa egotrip.
Mas a coisa não é bem assim.
Com uma sinceridade e coragem ímpares, Eben arrisca destruir sua imagem de médico-cientista ao assumir sua verdade diante do que vivenciou durante o coma.
E suas vivências foram as mais bizarras.
Confesso que foi difícil aceitar a descrição do tal “Região do Ponto de Vista da Minhoca”, do “Portal” e do “Núcleo” - ainda mais que ele tinha por guia “uma linda garota borboleta de olhos azuis” (a qual, lá pelo final do livro, foi responsável por me fazer embarcar numa constrangedora choradeira. Ou seja, vi a tal “garota borboleta” primeiramente com toda a descrença e ironia, mas a coisa muda totalmente de figura depois, acreditem).
Depois ele fala da sensação de unidade com o Todo, da consciência plena, da “dissolvição” do ego, do esquecimento da personalidade, e muitos outros conceitos já conhecidos em várias religiões e filosofias.
Neste sentido o Céu é atemporalidade, presença (ausência do ego), universo, visão, sabedoria, conexão, unidade, êxtase, plenitude. Tudo vivenciado num eterno aqui e agora amado e protegido.
Ben retorna do coma com a certeza da realidade das suas experiências e busca explicação para tais nas diversas teorias científicas baseadas nas reações químicas do cérebro. Porém chega à conclusão de que, diante da impossibilidade de aplicar qualquer uma delas ao seu caso (seu cérebro estava “morto” durante o coma) sua consciência só poderia estar em outro local.
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Felizmente o livro não fica “só” na descrição do Céu e as consequências do retorno à carne (dúvidas, crenças, desafios).
Também conta um grande drama íntimo / familiar do doutor, que acaba solucionado da forma mais inesperada possível. Fantástico.
O saldo da obra é muito bom e, mesmo que não concordemos com todo seu conteúdo, nos faz refletir sobre os mistérios da vida e da morte, sobre o que acreditamos ou não, sobre nossos medos, esperanças e fé.