Matheus 01/09/2020
Uma crítica atemporal ao totalitarismo
Quando George Orwell escreveu "A Revolução dos Bichos", a Europa vivia um período de combate ao nazifascismo, durante o qual a URSS ainda era tratada como aliada.
Conforme escreve em seu prefácio da primeira edição inglesa de 1945, nesse período percebia-se significante relutância por parte da imprensa inglesa de noticiar e publicar críticas aos soviéticos. "O que ocorria na Rússia devia ser julgado por padrões diferentes dos empregados para avaliar o que ocorria no resto do mundo", escreve Orwell.
Nesse contexto político, "A Revolução dos Bichos" foi escrito para desmistificar o regime Stalinista vigente. O livro foi publicado com muita dificuldade e enfrentou críticas no período, mas, ironicamente, passou a ser amplamente adotado posteriormente como propaganda anticomunista durante a Guerra Fria.
O livro traz alegorias escancaradas e, para quem teve a oportunidade de aprender um pouco sobre a história da Revolução Russa, fica evidente que o porco Napoleão representa Stalin e que Bola-de-neve é Trotsky.
Fica claro como o povo soviético, representado pelos bichos da granja, foi usado e explorado ao destituir o Czarismo apenas para tempos depois se deparar com o regime totalitário Stalinista. Um povo que, apesar de passar a viver num país socialista, não viu sua qualidade de vida melhorar, mas assistiu aos privilégios recebidos pelos burocratas, representados na obra pelos demais porcos.
Ainda que o desenrolar da história se encaixe perfeitamente nesse período histórico, ela não deixa de ser atual. Mesmo após assistirmos ao fim da URSS, ainda percebemos uma nova crescente de totalitarismo em todo o mundo.
A censura, a divulgação de notícias falsas, os abusos de poder, a eliminação de minorias e da oposição e a privação de liberdades individuas a troco da promessa de um futuro melhor. Tudo isso pode ser visto ao redor do mundo sem muito esforço.
O livro se trata do totalitarismo soviético, mas facilmente se aplica a qualquer momento histórico. Como escreve o autor, "A troca de uma ortodoxia por outra não representa necessariamente um avanço. O inimigo é a mentalidade de gramofone, concordemos ou não com o disco que está tocando agora."
Ao replicarmos, naturalizarmos, aceitarmos ou mesmo defendermos ações totalitárias contra algum inimigo, pode ser que, após esse inimigo ser derrotado, essas ações se voltem contra você. E é essa a mensagem genial que Orwell traz nessa obra.