Rifaste 14/07/2020
Precisamos falar sobre Kevin, Eva e Franklin
Precisamos falar sobre o Kevin é um livro lento, possui um ritmo próprio, diria até um pouco agoniante, e talvez esse seja o propósito. Acompanhamos as cartas de Eva endereçadas a Franklin, seu marido, narrando acontecimentos de sua vida antes e durante o casamento. O livro é dotado de uma não linearidade, as lembranças se misturam com a reconstrução de sua vida após o dia 08 de abril de 1999 e visitas ao Kevin. O livro é repleto de indagações do início ao fim, a primeira delas (e um dos grandes choques ao descobrir) onde está Franklin? No meio da leitura me peguei inúmeras vezes me perguntando se haviam se separado, se ele estava viajando, se ele lia as cartas e até mesmo se as repondia. Por ser narrado em 1° pessoa, ponto de vista de Eva, me questionava se ela estava em posição de contar todos os acontecimentos de forma imparcial, abordando os acontecimentos de maneira a não manipular o leitor, não cheguei a uma conclusão, mas o fato é que mães conhecem seus filhos melhor que ninguém, e a posição de Franklin em relação aos avisos de Eva sobre Kevin me deixavam um pouco irritado, é absurdamente fácil ser pai quando se fica pouquíssimas horas com o filho, o mina com brinquedos e acredita que vive uma vida feliz. As aparências enganam, e, o relacionamento entre Kevin, Franklin e Eva é bem mais profundo do que se pode imaginar. Um dos pontos chave da trama é a maneira que Kevin foi concebido. Nunca foi o grande sonho de Eva se tornar mãe, sendo desejo apenas de Franklin, esse último é um dos personagens mais intrigantes (o que é bem estranho já que todos os personagens são no mínimo enigmáticos). Eva deu o filho que ele tanto queria para ver o homem que amava feliz, Franklin passava grande parte do tempo longe de casa, a trabalho, as obrigações de cuidar da casa, do filho recém-nascido, além de seu emprego sobrecarregavam Eva. Em raras situações, a leitura fluiu de forma rápida, narro o episódio que Kevin fica doente e demonstra afeto por sua mãe, talvez a única vez, esse momento me peguei ansiando por um final feliz e querendo terminar o livro o quanto antes. Por fim, não acredito na visão maniqueísta, ou seja, Kevin não era mau do nascimento até as páginas finais do livro, ele devia ter uma parte boa e até mesmo ser capaz de amar a mãe, o que o levou a cometer crime tão terrível fica apenas como especulação em nossa cabeça, já que o livro não deixa claro, e talvez esse seja o ponto chave da obra, instigar o leitor a refletir.