Patty Ferreira 07/07/2023Para falar sobre o massacre cometido por seu filho Kevin Khatchadourian - KK - Eva escreve uma série de cartas, analisando desde a conversa sobre ter filhos com o marido até as visitas feitas ao Kevin na prisão.
A forma como a autora resolveu abordar mais uma história de massacre é muito inteligente. Ao invés de acompanharmos o Kevin, somos presenteados pela visão única da mãe do delinquente, e mais ainda, pelo ponto de vista dela após o acontecimento daquela fatídica quinta-feira.
O mais interessante de como a Eva narra é que acompanhamos uma sinceridade brutal, deixando de lado aquela romantização da maternidade e casamento.
Mas se por um lado tem-se a queda do véu de que “tudo são flores” na maternidade, do outro lado Eva aparenta ser uma mulher amarga (e com razão, afinal seu filho é um assassino), e como isso ela deixa todos os personagens amargos também.
Na vida da Eva não existe uma única coisa positiva, até a segunda maternidade a qual ela tanto sonhou, não passou de um egoísmo da personagem.
E com essa visão que temos de todos os personagens, todos eles se tornam igualmente chatos e amargos como a Eva, e com isso, o leitor não se importa com nenhum personagem, nada que acontece na história é impactante. A leitura só flui pela curiosidade mórbida do leitor sobre a vida de outra pessoa.
E esse tom dado a autora parece ser proposital, visto que essa é uma das críticas trazidas no livro. Os jornais tendem a dar um espaço aos crimes bárbaros, beirando uma glamourização dos criminosos. A tragédia do outro é o que sustenta as grandes mídias, e só é alimentada porque é isso que o povo quer consumir.