Paula 23/04/2017
Frankenstein, de Mary Shelley
A ideia inicial para a escrita de Frankenstein, surgiu quando Mary Shelley (1797-1851) estava de férias em Genebra, em companhia de Lord Byron, Percy Shelley e o médico John Polidori. Uma noite tempestuosa no verão de 1816 foi o cenário que incitou Lord Byron a propor um desafio a seus companheiros: Todos deveriam escrever histórias de terror. Com publicações que datam de 1818 e 1831, a história de Mary Shelley foi a única terminada. A publicação de 1831 é a mais conhecida nos dias de hoje.
A história começa a ser contada por meio de cartas que o marinheiro Robert Walton, que está em uma expedição rumo ao Polo Norte, envia à irmã Margareth Saville. Durante a expedição, Walton, que se sentia solitário, resgata Victor Frankenstein, que estava a procura de alguém que fugiu.
Narrado sob várias perspectivas, o romance Frankenstein encerra uma história dentro de outra. Ao ser resgatado por Walton, Frankenstein conta sua própria história ao marinheiro. Ele é um cientista que quer gerar vida a partir de matéria morta. Ele atinge o objetivo, mas rejeita sua própria criação e a abandona.
Quando criador e criatura se reencontram, é o monstro quem conta sua história. A rejeição sofrida faz com que ele se vingue de maneira cruel, o que faz com que a repulsa de Frankenstein por ele seja ainda maior.
Frankenstein sempre foi um dos meus livros favoritos por vários motivos, a começar pelos primórdios de sua produção, quando Mary Shelley, incumbida por Byron a escrever uma história de terror, queria pensar em uma história que “rivalizasse com aquelas que nos incitaram a tal tarefa. Uma que falasse aos medos e mistérios de nossa natureza e despertasse um horror eletrizante - uma história que fizesse o leitor olhar ao redor apavorado, que fizesse o sangue gelar e acelerasse o pulsar do coração. Caso não conseguisse fazê-lo, minha história de terror não seria digna desse nome.” (SHELLEY, M. “Introdução à edição de 1831”, p.27.)
De fato, Mary Shelley não escreveu apenas um romance sobre um monstro, mas um romance em que se questionam os comportamentos humanos. Frankenstein é humano, acostumado a viver em sociedade, tem família, amigos, professores, mas suas ambições o afastam daqueles que mais se importam com ele; a criatura é espantosa aos olhos humanos e sua única referência também o rejeita. Ambos são solitários.
Em se tratando de estudos científicos, Mary, Shelley, “que tinha certa iniciação científica e treinamento familiar pelo ambiente cultural do lar paterno, era ouvinte atenta das discussões de Byron e Percy Shelley”, que falavam sobre corrente elétrica, grande novidade científica da época. A obra apresenta referências a Erasmus Darwin, Galvani, Cornélio Agrippa e Paracelso. Em termos literários, há referências a John Milton, Percy Shelley, Lord Byron e Willian Godwin, pai de Mary Shelley. Com todas essas referências intelectuais, vale ressaltar o fato de trarar-se de uma obra escrita por uma mulher do século XVIII, inciada quando a autora tinha apenas 19 anos. Pode-se dizer que ela estava além de seu tempo e que sua obra agrada leitores até os dias de hoje.