Hannabianca0 25/09/2024
"quando acordar,lembrar não vai mais doer tanto assim?"
Resolvi ler ?Corda bamba? depois de ter lido ?a bolsa amarela? da mesma autora quando criança. Era meu livro favorito na época e mesmo que eu não tivesse entendido a profundidade da obra consegui sentir na pele o desconforto da personagem principal quando ela se deparava com alguma injustiça dentro do ambiente familiar. Isso porque a escrita da autora é tão íntima que te faz conectar com o personagem logo nos primeiros parágrafos. Também lembro de ter achado muito louco como a autora e pincelava a fantasia em seu livro, mas sem sair do real, as cenas engraçadas tinham críticas, muita sensibilidade e capturavam perfeitamente o imaginário infantil. Assim, como já imaginava, gostei bastante de ?Corda Bamba?(mesmo que ainda prefira a bolsa amarela) e acho que teria gostado ainda mais quando criança.
Aqui conhecemos Maria, filha de equilibristas que após uma tragédia, está passando por um claro processo de estresse pós-traumático. Maria vai morar na casa da avó, mas tem um problema, após uma tragédia que ocorreu com seus pais, a menina anda sempre calada, se esqueceu de tudo que já viveu com os pais e com a avó. Maria precisa agora, andar em uma corda bamba que guia a realidade ao imaginário e revisitar sua história e suas memórias. Os passeios sobre a corda que lhe leva a portas que guardam sua história, são uma metáfora para o crescimento, o enfrentamento dos traumas e a recuperação da identidade da protagonista.
Esse é o tipo de livro que você não pode falar demais pelo risco de entregar muito da trama e também porque, há certas coisas nessa magnífica história que é bom que o leitor descubra sozinho. A narrativa é gostosa, a escrita da Lygia é fluida e diferente de tudo que eu já li, os personagens são legais e tem uma linha psicológica muito boa e inteligente que guia o enredo. Algumas frases são tão lindas que parecem música.
É um prazer ter a Lygia como escritora do nosso país, as crianças brasileiras merecem livros profundos e instigantes assim. Essa mulher consegue captar a mente infantil como ninguém. É impressionante.
Os diálogos são excepcionais e realistas, há também uma crítica sobre condições sociais muito bem afiada e aplicada. É um livro rápido e gratificante, você termina com sensação de satisfação. Ele é curtinho, bem escrito, bonito e emocionante. Se você tem algum filho, sobrinho ou irmão mais novo, é uma obra que vale super a pena indicar e mesmo que você não seja mais uma criança, ainda é uma leitura extremamente válida, um deleite para qualquer pessoa de qualquer idade.