LetAcia1485 27/03/2021Victor Hugo poderia escrever rótulos de shampoo que eu leria feliz.Em "O Último Dia de Um Condenado", Victor Hugo nos guia pelos escritos de um condenado à morte e todos os seus pensamentos e angústias quanto a isso. Em menos de 200 páginas somos convidados a passear por essa montanha russa de sentimentos de alguém que sabe a hora exata do fim de sua própria vida, e durante essa viagem nos são propostas inúmeras reflexões.
A primeira delas é que quase nada do passado do condenado é apresentado ao leitor, e, para além disso, não sabemos o motivo que culminou em sua sentença de morte. A intenção nunca foi explicitar o crime cometido, mas sim proporcionar ao leitor uma outra visão quanto a vida humana, que é composta de um passado, um presente e possivelmente um futuro, se esse direito não lhe for tirado.
A reação da sociedade quanto ao que acontece também ocupa grande parte das reflexões desse livro. Um trecho que me chamou muita atenção na página 43 diz o seguinte: "Eu havia recorrido da minha sentença. Essa condição onerosa poderia persistir por umas seis ou sete semanas, e era importante que me conservassem são e salvo para a praça da Grève". O uso da guilhotina era visto como um espetáculo, e a partir disso o condenado não era mais tratado como uma pessoa, mas sim como o objeto principal de um show que lhe tiraria a própria vida.
Eu não sei se cheguei a somente uma única conclusão com a finalização dessa leitura. Acho, na verdade, que é impossível não passar dias e dias refletindo sobre essa história. E, particularmente, gosto muito mais assim: quando um livro se agarra na gente para além dos momentos em que as páginas estão abertas.
Victor Hugo é o meu escritor favorito, e esse livro veio como uma confirmação disso. Seu jeito poético, irônico, intenso e (às vezes) divertido de usar as palavras é o que faz cada história se transformar em algo muito mais grandioso do que só um momento passageiro.
Leiam esse livro. Leiam Victor Hugo