Evandro.Atraentemente 04/11/2016
A Caverna Cristalina - O Desafio do Labirinto
A autora Christiane de Murville lançou em 2015 pela Chiado Editora o segundo volume da trilogia A Caverna Cristalina. O livro chama-se O Desafio do Labirinto e dá continuidade aos eventos ocorridos no primeiro volume. Logo nas primeiras páginas temos o retorno de três personagens que estavam presos no tempo, mas para complicar ainda mais a trama, Noel, o responsável pelo Parque Nacional da Chapada Diamantina, é transportado à remota vila de Igatu, passando por grandes apuros junto aos seus antepassados, gerando desconfiança e enfrentando emboscadas e perigos em uma época dominada pelo poder e violência. Samuel o líder do grupo, precisará lutar contra o tempo para encontrar Noel e os outros companheiros que ainda se encontram perdidos em algum ponto da espiral luminosa.
(...) a vida, na verdade, era como uma onda no oceano, que em algum momento se formava, para depois se misturar novamente à imensidão de água.
A vila de Igatu, localizada na Chapada Diamantina - Bahia, já não era mais a mesma de três meses atrás quando a grande aventura havia começado. O reaparecimento dos cientistas russos deixou os moradores assustados, afinal acreditava-se que estivessem mortos. Para piorar ainda mais o clima, o desaparecimento de mais alguns integrantes do grupo de Samuel havia se espalhado e despertado a curiosidade em torno da Caverna Cristalina, também conhecida como A Morada do Altíssimo.
Pairava sobre o grupo o sentimento de ter ficado preso no passado, confinado em uma realidade que alguns ainda supunham não lhes pertencer.
Turistas, místicos, jornalistas e curiosos foram atraídos pelos rumores sobre viagem no tempo. Depois de perder a paz, os moradores, temendo que novos desaparecimentos ocorressem, se revoltaram com os intrusos pesquisadores de São Paulo.
E, na hora em que você se olha no espelho, também se percebe
desdobrando-se nessas mil realidades.
Igatu vivia seu caos com grande tumulto e baderna. Um movimento pedia a liberação da Morada do Altíssimo, enquanto outros queriam até mesmo sua destruição. O clima era de guerra. Grupos se organizavam para lutar para que a paz retornasse ao lugar. Porém, os ataques eram frequentes e até um assassinato tirou o sossego da vila.
De forma semelhante, cada um teria que beijar o seu leproso, abraçar o seu pior inimigo, catalisando o mal e transmutando-o em bem, como o pavão que come lixo e exibe beleza.
Samuel tenta compreender o funcionamento dos portais dimensionais, mas ainda está longe de um controle absoluto sobre eles. É preciso se isolar na caverna para entender a pedra misteriosa dada pelo índio Acauã, que aparentemente seria a chave para as realidades paralelas. Por falar em Acauã, esse livro mostra que o índio, ainda criança, tem um papel importante para ajudar nossos amigos no passado.
Neste tempo em que estamos e no futuro também, somos constantemente visitados por seres de outros tempos e espaços.
Diante dos conflitos da situação atual, Samuel e seu grupo partem rumo ao desconhecido para resgatar seus amigos. Em uma Igatu dominada pelo medo e ganância, onde os poderosos impõem suas regras, eles terão que sobreviver ao lado do jovem e destemido João Astolfo e enfrentar as terríveis maldades de Laerte, sabendo que será muito difícil desfazer os laços feitos no passado e que refletirão no tempo futuro.
Não sei. Talvez não volte, sinto muito, não sou desse tempo.
O título O Desafio do Labirinto é uma analogia entre os túneis estreitos da velha mina de diamantes em que viveram no passado e as escolhas feitas por cada um, que refletirão nos caminhos trilhados, levando-os a diferente níveis de energia, influenciando sua trajetória individual. A autora mistura o tema de viagens no tempo com uma boa dose de espiritualidade, porém o vínculo entre eles se encaixa perfeitamente no sentido da aventura. Mostra a importância de rever prioridades e descobrir novos valores. Assuntos como materialismo, aprendizado, crescimento espiritual, etc, são abordados de forma interessante e coerente.
A ideia do labirinto não diz respeito a alguma coisa que existe fora da gente,
mas a algo que acontece dentro de cada um.
Christiane alterna com inteligência a importância dos personagens durante a saga, fazendo com que todos tenham o seu momento de destaque, o que acho de funciona muito bem, já que o número de personagens é enorme. Mesmo com o grande número de páginas, a leitura flui rapidamente. As ilustrações da autora, embora simples, dão charme e leveza à obra. De coração aberto, mergulhe na aventura de Christiane Murville e boa leitura.
Vivendo no labirinto da rocha, o pessoal começava a entender que, no fundo, não fazia sentido considerar o mal como um inimigo a ser caçado ou aniquilado, cabendo apenas compreendê-lo como um elemento que faz parte do movimento da vida, que estimula o retorno para o bem. Por outro lado, descobriam também que o bem, de modo semelhante, aponta o mal, fazendo-o se manifestar. Portanto, o que eventualmente se considera bem ou mal é, na verdade, apenas uma das faces da mesma moeda. Quando se percebe a moeda em sua totalidade, integrando-se bem e mal em cada nível de realidade, o julgamento deixa de existir.
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