Patrini 01/02/2015"E se em seu sangue corresse o sangue do seu maior inimigo?"Ellene é uma adolescente de dezessete anos, nada normal. Sua vida toda, ela foi criada em uma aldeia de lobisomens, e acha que essa é sua verdadeira natureza. Porém, ela sente-se deslocada e completamente diferente das pessoas ao seu redor, já que ainda não adquirira suas características de lobisomem, como era esperado dela. Ela não conseguia conformar-se com isso, e sentia que algo estava errado. Quando, por acaso, descobriu ser adotada, percebeu nas suas verdadeiras origens uma oportunidade para entender o porquê de ela ser tão distinta daqueles que viviam ao seu redor. Milosh é um vampiro poderoso, guardião e marido da rainha dos vampiros Elizabeth, seu primeiro e único amor. Ele vê seu mundo vir abaixo quando a mulher que ama, e a qual mantém os seres da noite controlados através de leis e punições, para que eles não cheguem a barbárie, é sequestrada. Quase um século depois, ele continua sua busca, sem sucesso, e com mais pressa do que nunca, já que será preciso escolher outro governante ao completar cem anos do desaparecimento de Elizabeth. Desorientado, ele só tem a ligação telepática para comprovar que sua amada ainda está viva, e mesmo essa conexão já começa a ficar rareada. Em uma dessas conversas por pensamento, Elizabeth pede a ele que encontre sua filha, o que faz Milosh pensar que ela não se encontra no seu juízo perfeito, já que mestiços (como são chamados filhos de vampiros com outros seres sobrenaturais) são completamente inaceitos em seu mundo. A partir de toda essa confusão, as vidas de Ellene e Milosh ligam-se por coincidência e capricho do destino, e eles terão de enfrentar seus maiores medos para realmente chegarem a solução de seus problemas. Depois de uma vida inteira sendo ensinada que vampiros são cruéis e inimigos, será que Ellene conseguirá entender que, agora, eles são seus maiores aliados?
Que eu sou fã de histórias sobrenaturais não é novidade. Agora, imagine um livro que une vampiros e lobisomens, meus seres fantásticos favoritos. O resultado não poderia ser outro: Híbrida virou um dos meus queridinhos. Logo na primeira linha eu já sabia que a história seria de tirar o fôlego, e eu estava tão certa, que não consegui largar o livro antes de chegar a última página, e fiquei ansiando por mais. Com uma narrativa fluida, e ao mesmo tempo rápida sem ser confusa, Mari conquistou meu coração, e me fez adentrar a história junto com ela. Eu me envolvi completamente com a trama, e em muitos momentos não conseguia respirar, por todos os acontecimentos do livro. Se eu tivesse que definir Híbrida em apenas uma palavra, ela seria: surpreendente. Muitas histórias por aí tratam dessas duas criaturas tão queridas por mim, mas eu confesso que fiquei encantada com a forma como a Mari conseguiu ligar os dois seres sobrenaturais, como se um odiasse o outro, e ao mesmo tempo uma das duas raças não existisse sem a rival. Isso foi um dos detalhes que mais me marcou na leitura, e o que difere Híbrida de todos os outros livros do gênero.
Ellene foi uma personagem com a qual me afeiçoei logo de cara. Ela é decidida, irônica e ama sua família acima de tudo. Me identifiquei muito com a personalidade dela, e por isso foi fácil para mim me conectar à personagem. Além disso, o sentimento de ser diferente que ela carrega consigo traz todo um charme a sua aura, e é praticamente impossível não querer adentrar nesse mistério que há em torno da garota. Milosh é um homem honrado e leal, que não mede esforços para proteger seu povo e a mulher a quem ama. Completamente devotado a rainha, seu amor, ele vive culpando-se por não ter sido capaz de protegê-la. E eu realmente não achei suas lamentações cansativas como sempre reclamo (Mari, você é um gênio!), mas aprendi a admirá-las. É difícil para qualquer um de nós perder a pessoa que amamos bem na nossa frente, que foi o que aconteceu com ele, mas o mais complicado é não desistir da busca por esse amor quando ela se torna quase improvável. Milosh é atento e dedicado a encontrar Elizabeth, e isso me fez admirá-lo imensamente.
Heidy é uma garota complicada. Apaixonada por Milosh desde que o conheceu, ela não aceita que ele não seja seu, e faz tudo o que pode (e também o que não deve) para tê-lo ao seu lado. Senti muita raiva de seu temperamento explosivo e mimado durante a narrativa, mas confesso que, conforme a história evoluía, senti certa compaixão por ela. É terrível amar alguém e não ser correspondido, apesar de eu achar que isso não justifica as escolhas que ela tomou. Mas consegui compreender um pouco o lado dela da história, depois de muito relevar. Tomás, preciso admitir, foi um dos personagens menos empolgantes da narrativa para mim. Ele faz par romântico com Ellene, mas os dois não tem a menor chance de dar certo, já que são de mundos completamente distintos. Tomás ignora isso completamente, e você pode até considerar que isso seja romântico e fofo da parte dele, mas ao mesmo tempo que ama Ellene a esse ponto, o mocinho se rende ao charme de Carolina, uma antiga paixão. Me desculpe, querido, mas indecisão nesse quesito não é aceitável, ok? Seja um lobo monogâmico, por favor! Além disso, ele também é bem explosivo, e, quando descobre as verdadeiras origens de Ellene, não sabe se fica ao lado dela ou se enche-se de ira por ela ser o que é. Não gostei dele, me perdoe, Mari! Há alguns outros personagens muito interessantes na narrativa, e por isso mesmo eu senti uma certa falta de mais informações sobre eles, mais participação deles na trama, como por exemplo os pais de Ellene, seu irmão Jacó e até mesmo Carolina. Isso não diminuiu em nenhum momento a maestria da narração, mas eu sou muito curiosa e apegada aos detalhes, então geralmente preciso me inteirar sobre tudo e todos.
O cenário do livro é a cidade de São Paulo (inclusive, eu adorei as cenas do metrô), o que dá uma dimensão bastante ampla a minha imaginação, visto que eu não conheço a cidade. Gostei muito da Mari ter escolhido uma cidade brasileira para palco da história, acho muito importante valorizarmos coisas que são nossas por natureza. Outra parte que eu curti muito no enredo foram as habilidades que a autora deu a seus personagens, o que influenciou completamente no desenvolvimento da trama, e o modo como ela ligou a vida de todos eles, de um jeito ou de outro. No decorrer da trama, tudo vai se conectando, todos os personagens acabam conhecendo-se, e eu realmente gostei muito desse cuidado que a Mari demonstrou. Fiquei ansiosíssima para a continuação, mal consigo esperar pelos encontros que vão ocorrer (se quiser saber mais, é só ler rs).
A diagramação do livro, nas páginas, é bem simples, e é desse jeito mesmo que eu mais gosto. Creio que uma diagramação não pode chamar mais a atenção do que o próprio conteúdo do livro, e a importância disso ficou evidente pra mim nesse livro: eu perderia uma história maravilhosa me concentrando demais aos detalhes editoriais. Adorei o trabalho que a Novo Século fez na capa do livro. Detalhada, ela é envernizada, e o título é em relevo, o que eu gosto bastante, pois as sensações são uma das melhores coisas em livros físicos: quanto mais, melhor! As folhas são amareladas, e a fonte é agradável à leitura. Não tenho do que reclamar quanto aos erros de digitação ou correção, pois não os encontrei.
Chegando ao final da resenha, eu não poderia deixar de indicar o livro para vocês. A história é complexa e te faz realmente viajar para outro mundo, um mundo sobrenatural que tu vai jurar de pé junto ser real depois que terminar a leitura. Fico muito lisonjeada de saber que a nossa literatura nacional está indo por esse caminho, com representantes tão competentes quanto a Mari. E claro, não podia deixar de agradecer a essa autora querida por toda a confiança, carinho e cuidado que ela teve comigo e com o LV.
A vocês, que leram até aqui (eu sei que falo demais), minha dica final é a de quem deem uma chance a esse livro. Tenho absoluta certeza que vocês irão se apaixonar pela história tanto quanto eu, torcer e sofrer pelos personagens como eu. Mari é uma escritora de mão cheia, e merece o reconhecimento e a sua atenção ao livro. Não vai haver arrependimento, eu garanto.
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