Luciano Otaciano 26/08/2024
Conto muito bom!
Hoje é dia de escrever sobre A CARTA ROUBADA, último conto de Edgar Allan Poe protagonizado por C. Auguste Dupin. Se em Assassinatos na rua Morgue e O mistério de Marie Rogêt ele esbanjou sua inteligência em casos extremamente intrincados e que envolviam homicídios, em A CARTA ROUBADA ele mostra que a solução de um crime pode ser muito simples. No conto, G. (o comissário da polícia francesa) pede a ajuda de Dupin e seu amigo (o narrador anônimo) para recuperar uma carta comprometedora que tinha sido roubada de uma conhecida dama. Com a posse desse papel, o ladrão tinha condições de chantagear a mulher para conseguir o que quisesse. A novidade nesse caso é que tanto G. quanto a dama conheciam a identidade do responsável pelo roubo, e também sabiam em qual cômodo de sua residência a carta estava escondida. O problema é que a correspondência precisava ser “roubada de volta”, já que qualquer acusação contra o ladrão faria com que ele divulgasse as informações ali contidas, o que prejudicaria a honra da vítima. O comissário da polícia já tinha invadido anteriormente a residência do bandido e feito uma busca minuciosa para localizar a carta, mas sem nenhum resultado. Por isso ele precisava – mais uma vez – da ajuda de Dupin. É espantoso perceber que em A CARTA ROUBADA Edgar Allan Poe quebra a regra da complexidade do crime no conto investigativo, que ele mesmo tinha criado alguns anos antes. A solução do crime (a localização da carta) é absurdamente simples. Poe, porém, deixa claro que Dupin só conseguiu enxergar essa simplicidade graças à sua mente analítica e ao seu poder de observação, qualidades que G. não possuía. Com este conto, Poe também prova que se interessava mais pelo processo dedutivo de Dupin do que pela resolução de crimes. Tanto é que ele dedica vários parágrafos do conto com as explicações teóricas, matemáticas e filosóficas do método de análise de seu personagem. Isso faz com que a narrativa fique cansativa em alguns momentos, mas menos do que em O mistério de Marie Rogêt. O autor considerava A CARTA ROUBADA como o melhor dos três contos protagonizados por Dupin e, sem dúvida, é o mais leve dos três (até pelo tipo do crime cometido). Mas, particularmente, o meu preferido ainda é Assassinatos na rua Morgue. Depois da publicação de A CARTA ROUBADA, em 1944, Poe nunca mais voltou a escrever sobre C. Auguste Dupin, apesar do sucesso do personagem. Não se sabe exatamente o motivo dessa decisão, mas já não era mais necessário. Graças à “Trilogia Dupin”, Edgar Allan Poe já tinha deixado de ser “apenas” o “Mestre do terror” para se tornar também o “Pai das histórias policiais”.