Memórias do cárcere

Memórias do cárcere Graciliano Ramos




Resenhas - Memórias do Cárcere


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Túlio Demian 21/10/2019

Nota de leitura de Memória do Cárcere
Nessas memórias de Graciliano Ramos podemos observar além de seu distanciamento plausível para a confecção menos apaixonada e mais racional, uma despreocupação com os modelos literários em voga na época. Auge do modernismo brasileiro, Graciliano está mais preocupado com o conteúdo de sua obra e com a sua identificação com os registros propostos do que necessariamente agradar aos interesses de uma estética comprometida com os movimentos artísticos de um período histórico.
Memórias do Cárcere é também, dentro dos preceitos defendidos por Lukács, um romance histórico de natureza documental, que imprime ao protagonista, a obrigação de observar e transformar o seu espaço. O herói, que por um longo período se mostra desconhecer as causas pelas quais fora preso, por diversos momentos, observando outros companheiros de confinamento, analisa sua própria capacidade revolucionária e passa a auto-avaliar suas atitudes que sequer são dignas de um prisioneiro político, no sentido de que, ele jamais tivera, verdadeiramente, uma atitude revolucionária. Estes questionamentos nos encaminham para os valores do narrador que jamais foram externados na prática.
A força da introspecção de Memórias do Cárcere está em criar um universo de conflito para as discussões que o universo exterior não poderia saber. Tanto pelo poder opositor do Estado Novo, do qual era acusado de subversão, e pelos próprios princípios do grupo de comunistas (Primeiras manifestações) o qual era acusado de pertencer. Aqui, nesses espaços de conflito e criação é que se estabelecem as diretrizes para o que viria a ser a mais brilhante obra memorialística que temos registro em nossa língua.
Na introspecção registrada nos manuscritos do cárcere e/ou ainda aquela que fora produzida anos depois, quando de seu preparo para o projeto do livro, o autor nos presentei com uma ficção baseada em registros memorialísticos de forte impacto catártico que não nos permite questionar o teor jornalístico de suas observações.
Essas marcas ficcionais podem ser observadas na onisciência do narrador quando mergulhado nas preocupações de personagens alheios, como se uma percepção das expressões desses personagens fosse o suficiente para determinar as profundas angústias que estes sentiam, ou que, numa leitura mais atenta, denotam apenas o reflexo de sua própria angústia diante da incerteza de seu destino, que lhe acompanharia em quase todo o seu percurso como prisioneiro. No entanto, o que há de mais evidente nessa estrutura narrativa, que busca alinhar os fatos reais com o uso dos fatos criados, é a própria percepção do narrador com o ato da criação na edição das memórias ora como positiva e ora com repulsa pelo próprio narrador:

O diabo é que, se me decidisse a narrar por miúdo a conversa do capitão, tanchar-me-iam de fantasista. Ou dar-me–iam crédito indivíduos que andassem no mundo da lua, idiotas ou românticos (Ramos, p89).

A observar de atos de seus próximos, aliados ou não, serve de um prato cheio para uma análise de sua postura com “revolucionário” (termo pelo qual poderia ser acusado) e para uma observação mais detalhista acerca da atitude do próprio movimento revolucionário que se propunha como resistência. Ações que a atitude de um militar, que se nenhum motivo aparente decidia por ajudá-lo, e que, para qualquer um seria apenas um alimento da causa em que se injetava a confiança e a própria liberdade, para o narrador era motivo de questionamento sobre o seu fazer revolucionário.

Capitão Lôbo, portanto, fugia ao preceito. De certo modo havia no caso uma espécie de deserção. Impossível explica-la. Se ele condenava s minhas ideias, sem conhecê-las, direito, porque me trazia aquele apoio incoerente? Insolência e brutalidade com certeza me atiçariam ódio, mas seriam compreensíveis, e nada pior que nos encontrarmos diante de uma situação inexplicável. Admitimos certo número de princípios, julgamo-los firmes, notamos de repente uma falha neles – e as coisas não se passam como havíamos previsto: passam-se de modo contrário. A exceção nos atrapalha, temos de reformular julgamentos. (RAMOS, p. 87-88)

E fora a busca por essa renovação rápida dos valores que fizeram desse prisioneiro peculiar fugir às atitudes de reflexão comuns a esse tipo de situação: A da adesão e da repulsa.
Ou seja, a atitude de um condecorado, um inimigo declarado, que discordava de seus preceitos e ainda assim, contra a força que o emergia e o condicionava, agia. Isso, a atitude de resistência é o que aquela intelectualidade não conseguia compreender e, portanto o grande gatilho para os questionamentos desse cárcere que vivera até então o espírito de resistência que pode ser observada no enxerto abaixo:

A nossa vida não tem muito valor, às vezes se encrenca e desejamos a morte; faltando-nos coragem para o suicídio, exibimos outra forma de coragem; queremos desaparecer; é uma perda individual. Mas ninguém, de senso perfeito, joga fora os seus bens, pois nisso repousa o organismo social – e o sacrifício constitui prejuízo coletivo. Afinal capitão Lobo devia ser muito mais revolucionário do que eu. Tinha-me alargado em conversas no café, dissera cobras e lagartos do fascismo, escrevera algumas histórias. Apenas. Conservara-me na superfície, nunca fizera à ordem ataque sério, realmente era um diletante (RAMOS, P 88).

Memórias do Cárcere é mais que um documento de resistência, é sim, um importante registro dos preceitos reflexivos sobre a práxis indispensável no dia-dia de quem almeja uma transformação, independente de sua dimensão. Já que as mazelas e friezas do cárcere ultrapassam as muralhas os alçapões de qualquer instituição, e encarceram os projetos e sonhos revolucionários inertes no peito dos oprimidos e militantes.
Ari Mascarenhas - O texto original se encontra em meu blog


site: https://contempoemidade.blogspot.com/2019/10/memorias-do-carcere-graciliano-ramos.html
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Laura Regina - @IndicaLaura 14/10/2019

um Livro sobre as crueldades da vida real:

A época na qual Graciliano foi preso pela Ditadura de Getúlio Vargas é relatada, com todas as nuances da vida real cruel.

Escrita crua de um dos maiores escritores brasileiros (eu nunca me recuperei de “Vidas Secas” 🌵🐶👨‍👩‍👦‍👦). Aqui, Graciliano relata suas memórias e impressões da época que ficou preso - em cárceres do exército, num navio, numa cadeia de presos políticos. Nesses locais, reconhecemos diversos nomes importantes da política brasileira, como Olga Prestes e Nise da Silveira - pessoas que buscavam melhorias para o país.

Também reconhecemos toda a barbaridade destes locais: os abusos, as mentiras, os desmandos, os pequenos poderes que mostram a mesquinharia dos policiais, do Governo e do Exército.

O que mais gostei do livro foi as reflexões de Graciliano em pequenos eventos de seu cárcere - as mudanças de atitudes, as mudanças de visões, as intrigas, a formação de um coletivo, a ingenuidade de crer que vai ser solto em breve... O livro é recheado de filosofia, da visão de Graciliano sobre aquela barbaridade toda.

Mais indicações no Instagram @indicalaura

site: https://www.instagram.com/indicalaura/?hl=pt-br
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Volnei 05/09/2019

Memórias do Cárcere
Neste volume o autor conta como foi sua vida durante o período revolucionário da década de 1930

site: http://toninhofotografopedagogo.blogspot.com.br
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Fernando Lafaiete 27/01/2018

Memórias do Cárcere: Relatos cruéis do autor que sentiu na pele a força da crueldade humana!

O que dizer de Memórias do Cárcere? Como avaliar as experiências repugnantes de vida as quais o autor passou ao ser preso? - Graciliano Ramos é o autor do aclamado Vidas Secas, o romance vencedor do prêmio William Faulkner como livro representativo da literatura contemporânea brasileira em 1962. O autor foi preso em meados de 1936 após a intentona comunista (também conhecida como Revolta de 35) que foi uma tentativa contra o governo de Getúlio Vargas.

Nos relatos aqui apresentados, o autor afirma ter sido preso sem saber exatamente a razão. Ao questionar seus algozes, a resposta que recebia era: Você é comunista. - O problema? O autor não se considerava comunista e nunca tinha feito nada contra o governo. Ramos nunca foi acusado formalmente e nunca teve direito a defesa. Foi preso e chegou a ser tratado de maneira desumana. As situações expostas pelo autor em questão, são difíceis de serem digeridas. É tudo muito bem escrito, muitas vezes poético e com muitos simbolismos. Não se dá para esperar menos do que isso de um dos mestres da nossa literatura. Mas o livro também cansa, se torna arrastado em vários momentos e chega a ficar maçante em um nível que foi complicado passar pelas páginas.

Memórias do Cárcere tem alguns aspectos bastantes semelhantes com a obra-prima O Processo do gênio Fraz Kafka. Ambos os clássicos retratam e criticam um sistema burocrático corrupto onde pessoas são presas sem nenhuma justificativa palpável. Ambos os protagonistas questionam e recebem respostas vazias e sem sentido que só aumentam ainda mais a revolta tantos dos personagens centrais quanto de nós leitores. O autor vai desenvolvendo um ódio pelo capitalismo não por ser comunista, mas sim por ser este o sistema econômico que o julga e o condena sem lhe dar a chance de provar sua inocência.

"...Se o capitalismo fosse um bruto, eu o toleraria. Aflige-me é perceber nele uma inteligência. Uma inteligência safada que aluga outras inteligências canalhas. [...] Não é o fato de ser oprimido (que me atormenta). É saber que a opressão erigiu em sistema."

Graciliano Ramos vai narrando passo a passo todas as situações as quais o atormentaram. Passou fome, comeu comida estragada, viu colegas serem estuprados, foi ameaçado por outros presos e em nenhum momento teve a chance de se defender ou de defender outrem. Ele reforça a todo momento que sentia o cheiro podre da comida e que em uma ocasião chegou a detectar fezes de ratos misturados aos alimentos que lhes eram servidos. Como agir em uma situação como essa? - A resposta? Comer ou morrer de fome. E se comer, rezar para não passar mal e morrer.

"Em redor de mim tudo se consumira, e obstinava-me a chupar o cigarro, olhando a infame ração. Na farinha escura havia excrementos de rato. Apesar da náusea, parecia-me necessário comer..."

Muitos sofreram, muitos morreram e Graciliano lutou pela sobrevivência. O autor também relata o momento em que percebeu que na falta de mulheres, homens se relacionavam com outro homens na intenção de se saciarem sexualmente. O autor apresenta opiniões muitas vezes homofóbicas que me desagradaram em um nível que me fizeram pegar um pouco de implicância do autor nesses raros momentos. Tais relatos mostram a dúvida do autor em relação a tudo aquilo que ele estava presenciando.

"Penso assim, tento compreendê-los - e não consigo reprimir o nojo que me inspiram, forte demais. Isso me deixa apreensivo. Seria um nojo natural ou imposto? Quem sabe se ele não foi criado artificialmente, com o fim de preservar o homem social, obrigá-lo a fugir de si mesmo."

Não me foi uma leitura fácil. Foi uma experiência penosa, gratificante, reflexiva e maçante. Tudo isso ao mesmo tempo. Esse livro foi o responsável por me deixar de ressaca e confesso que me forcei a lê-lo em alguns (vários) momentos. Mas ainda assim, afirmo que é uma obra de valor inestimável. Não digo isso apenas por ser um clássico, mas principalmente por ser uma obra que retrata uma história real e necessária. Além das situações que citei, o autor apresenta muitas outras que são revoltantes.

Terminei a leitura exausto mentalmente e a jornada que percorri foi mais do que penosa, mas que valeu a pena. Ainda acho Vidas Secas muito superior, mas Memórias do Cárcere é um livro que deve ser lido e deve ser lido principalmente por quem tem empatia. Se você é uma pessoa quase nula desse sentimento ou é uma daquelas que acha que a solução para os problemas do nosso país é a volta de um sistema como a Ditadura Militar, acredito que este livro não te apresentará algo de muito valor.

É um livro rico em sentimentos, cheio de reflexões sobre a psicologia humana e que prova que o passado deve continuar sendo estudado para que não repitamos os absurdos que tanto propagaram em um época onde me parece que tudo era permitido (no quesito injustiças). Como disse o autor em uma das passagens que citei: O mais revoltante é saber que a crueldade humana retratada era respaldada por um sistema que deveria protegê-los. Um sistema falho que ainda é governado por incompetentes que mais prezam seus status políticos do que o bem maior que deveria ser a prioridade governamental. Só rezo para que as situações expostas por Graciliano Ramos nunca voltem a acontecer. Não dá para mudar o passado, mas podemos moldar o futuro que nos espera. Que assim seja, assim será... só depende de nós e de mais ninguém!
Pedro 27/01/2018minha estante
Maravilhosa sua resenha Fernando. Confesso que sempre me surpreendo com as qualidades de suas resenhas. Se eu já estava interessado em ler esse livro agora fiquei ainda mais. O que você descreveu me fez lembrar muitas das leituras que fiz durante o mestrado, principalmente no que concerne ao forte anticomunismo que se solidificou no Brasil. Não sei se você leu a biografia de Luiz Carlos Prestes escrita pelo historiador Daniel Aarão Reis, mas é de uma qualidade excelente. É espantoso quando se pensa que mesmo o STF tenha negado asilo político a Olga, mesmo ela sendo judia e comunista e estado grávida o que infligida a própria legislação da época, pois brasileiros não poderiam ser extraditados... acabou morrendo num campo de concentração nazista. Depois disso tudo é tantas outras coisas, inclusive prisão em termos semelhantes aos que você descreveu na resenha, Prestes ainda fez alianças com Getúlio Vargas...


Pedro 27/01/2018minha estante
Em Pernambuco mesmo inúmeros trabalhadores rurais foram presos, perseguidos e assassinados, quando estavam somente lutado por direitos trabalhistas básicos. Por esses motivos eram rotulados de comunista...


Fernando Lafaiete 27/01/2018minha estante
Muito obrigado pelo comentário Pedro e fico feliz de saber que minhas resenhas te agradam.

Ainda não li o livro que citou, mas já o coloquei na lista. Obrigado pela indicação. Sobre Memórias do Cárcere, preciso reforçar que não foi uma leitura fácil e muitas vezes foi maçante e chata. Mas ainda assim, não tem como não dizer que é um livro incrível. O que mais me choca (mais até do que o conteúdo que li) é saber que em pleno século XXI ainda existem pessoas que defendem esses absurdos. É assustador pensar que muitos tem ou terão filhos e os criarão à base de todo tipo de preconceito e intolerância. Essas crianças crescerão achando que é normal as coisas relatadas pelo autor. Sendo assim eu pergunto: Que futuro nos espera?
Eu espero que nada disso volte a acontecer e que daqui alguns anos possamos olhar pra trás e respirarmos aliviados de saber que o passado ficou no passado.


Pedro 31/01/2018minha estante
Eu compartinho da sua forma de pensar Fernando, inclusive os medos e choques. Particularmente, por tudo que li e vivi, acredito que esse quadro somente de modificará (algum dia) através de uma educação de qualidade, porém a má qualidade (que em alguns casos não é somente culpa dos docentes, embora algumas vezes seja) da educação é estruturalmente pensada e posta em prática. Não precisamos ir muito longe, basta observamos as manifestações que se inciaram em junho de 2013 no Brasil e o silêncio sepulcral que hoje com Michel Temer vemos. Isso prova, na minha compreensão, que as pessoas mais habilitadas para organizar-se/mobilizar-se não estão ligando para questões sociais (falo em sentido lato). Porém fico muito feliz quando vejo pessoas extremamente inteligentes e competentes como você, que tem essa forma de pensamento. Isso gera o sentimento de amparo frente a tantos absurdos.


Fernando Lafaiete 02/02/2018minha estante
Pois é Pedro, a questão educacional no Brasil é precária em todos os sentidos. A situação social juntamente com a educacional funcionam como armas que amortece os indíviduos de maneira que todos deixam de tentar agir por simplesmente acharem que o Brasil chegou em um ponto que não tem mais solução. Os que poderiam tomar atitudes significativas e um pouco mais imediatas, como os políticos, acabam investindo suas ações em corrupção e em tentar lubridiar a população com a intenção de fortalecer suas posições financeiras e sociais. Os jornalistas (os grandes influenciares de opiniões), passam dias tentando desmentir uns aos outros em uma guerra que não beneficia ninguém de maneira realmente positiva. A educação é de fato a solução, mas enquanto a população não abrir os olhos e perceber que ficar reclamando no facebook e/ou agredindo as pessoas em uma guerra idiota de partidos, não levará a nada. É vergonhoso constatar através de pesquisas que um país tão rico como o Brasil ocupa o 53° lugar no ranking educacional onde 65 países são avaliados. Uma posição que deveria no minímo servir para a população perceber de uma vez que sendo do PT, do PSDB ou do PQP, os políticos estão muito confortáveis em suas posições e não estão dando a mínima para as questões sociais. É tanta gente alienada e sem informação, que no meio desse caos chamado Brasil, nos deparamos com gente dizendo que a solução para tudo é a volta da ditadura e o exterminio de seres humanos como negros, drogados, homossexuais. O mundo não precisa de ódio e de intolerâncias, precisa de paz e de amor. Isso só vamos encontrar através de uma educação de qualidade. Espero que um dia o Brasil passe a ocupar uma posição melhor e as pessoas passem a ser mais conscientes, para que desta maneira possamos viver em um país que não seja uma selva dominada por animais. É triste, mas é extamente assim que me sinto ultimamente... vivendo em uma selva chamada Brasil!




João Luiz 10/12/2017

Excelente livro, narra os momentos difíceis vividos por Graciliano na prisão, os acontecimentos trágicos de um dos mais tristes momentos da nossa história. Uma leitura indispensável!
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Mi Ramos 05/02/2017

O livro é bom.
O livro é bom e sua narrativa flui muito bem. O personagem que narra sua experiência tenta ser imparcial, mas é óbvio que isso é bem difícil porque se trata de um momento autobiográfico e por isso mesmo tende a ser subjetivo. Julgo ser importante fazer uma leitura sobre o cenário político no qual se encontrava o Brasil. Além de sua narrativa fluída o autor nos enlaça porque mostra muito dá natureza humana em um ambiente hostil. Não há a polarização das pessoas em boas e más, há atitudes que eles tomam e julgam ser boas ou más. Acredito que o cotidiano carcerário dos dias atuais destoa um pouco do descrito pelo autor, mas esses registros são importantes para a história e para nós como seres humanos. O livro é ótimo, intenso, faz você se perder no tempo assim como o personagem. O ambiente abafado, a comida indigesta, as noites mal dormidas devido a vigilância, o medo, a preocupação. Apesar do número de páginas parecer desafiador é muito tranquilo de se manter um ritmo e estabelecer uma meta. Fiquei pesarosa pelo fato de que ele veio falecer antes da finalização da obra e particularmente senti falta de um final de fato, mas nada que me desistimulasse a indica-lo. A tensão psicológica do personagem também te deixa tenso, a falta de resposta para as perguntas mais simples que não lhe são dadas (as vezes nem ele é por consequência nós ficamos sem respostas) nos faz meditar. A preocupação dele com a família fora, sem saber como estão também nos atingi, ele não dá respostas para o leitor até mesmo porque ele próprio está cheio de questionamentos. Ótima leitura, vale a pena, recomendo.
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Vittor Az 25/08/2016

Fantásticas idas e vindas
Chega uma hora que não se sabe se a sensação descrita no trecho ocorre no momento em que o autor escreve, ou à época da vida que ele narra ou a um momento anterior ao do cárcere.
De fato, memórias. Muitas vírgulas onde outros escritos inseririam pontos, como se se lembrasse e fosse escrevendo à medida que vinham as reminiscências.
Fantásticas descrições de sentimentos, ações e reações verbais e físicas do ser humano. E o fato de ele procurar colocar-se numa posição imparcial durante toda a obra, o faz observar bem as características dos dois lados, sejam quais forem eles.
Linguagem e vocabulário agradáveis, repetições (já confessadas no início da obra) positivamente angustiantes e estruturas sintáticas também aprazíveis, sem requintes.
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Heron 19/04/2016

Recordação eterna
Li este livro com 12 anos. Já se passaram 27. A história vivida pelo comunista Graciliano, mais do que comover, ensina-nos. à preciso conhecer o passado, principalmente o passado feio, para não repeti­-lo. Uma história viceral.
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Jana 29/10/2014

Descobri ''Memórias Do Cárcere em uma das passagens do livro Olga que se citava Graciliano vagando pelas celas com o caderninho debaixo do braço. Caderninho este que viria a se transformar em memórias do cárcere, sem rodeios, exageros ou omissões a rotina forçada destinada aos presos políticos, é muito bom, ver esse período pela visão de alguém que sofreu repressão e não somente pelos livros de história.
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Mary D. 21/09/2014

Com certeza um dos livros que tive mais dificuldade em ler. A linguagem usada por Graciliano é muito complicada, foi preciso muita concentração para concluir este livro, não era somente ler, mas analisar cada parágrafo, nessa leitura tive que deixar o hábito de ler no ônibus de lado, passei a ler quando estava sozinha ou de madrugada para compreender e acompanhar a história. Falando primeiramente da experiência de leitura deste livro, com certeza, aprendi a refletir mais profundamente sobre o que era lido, fugindo um pouco das minhas leituras habituais, em que a linguagem é mais fácil e a leitura flui com mais rapidez.

A história é narrada em primeira pessoa pelo próprio Graciliano Ramos, relatando os acontecimentos que vivenciou nos meses que passou na prisão, acusado de ter ligações com o Partido Comunista. O autor relata não somente o que acontecia com ele nesse período, mas também com os outros presos. No mesmo período em que esteve no Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção no Rio de Janeiro, estiveram presos a militante comunista alemã e de origem judaica Olga Benário, que foi entregue pelo governo brasileiro ao governo alemão em 1936, nesse período estava grávida; o militar e comunista brasileiro Luís Carlos Prestes, companheiro de Olga; Rodolfo Ghioldi, político e comunista argentino, dentre outros. Além do Pavilhão dos Primários, Graciliano também passou pela Colônia Correcional de Dois Rios na Ilha Grande. Antes de ser mandado para a Colônia Correcional, de dentro do Pavilhão ele publicou uma de suas obras de maior destaque, Angústia, com a ajuda de amigos, como José Lins do Rego. Graciliano foi solto em janeiro de 1937 e Memórias do Cárcere foi publicado em 1953, após sua morte, o livro não conta com o capítulo final, já que Graciliano morreu antes de escrevê-lo.

Apesar da linguagem difícil, o livro é muito bom, ver esse período (Estado Novo) pela visão de alguém que sofreu repressão e não somente pelos livros de história é ótimo para entender o contexto histórico. Recomendo.
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Bruno Oliveira 08/01/2014

Algumas impressões sobre Memórias do cárcere
Sempre considerei Graciliano Ramos um escritor difícil: suas palavras duras e retilíneas expressavam pensamentos sem curvas nem beleza, que sem me causar qualquer empatia, retratavam “coisas” viscerais, todavia, mesmo hoje, depois de terminar meu terceiro livro dele, continuo sem saber exatamente que coisas eram essas. Honestamente, não sei ao certo o que aprendi com Graciliano Ramos e ignoro se gosto do que ele escreve ou não, se me reconheço em alguma coisa do que diz, se são interessantes os seus livros, sua falta de encantamento com o mundo, ignoro tudo isso; sei apenas que quero saber mais de suas obras e que há algo de fascinante em sua prosa ou em sua pessoa que me seduz, mesmo que eu não possa entendê-la bem

A primeira impressão que tive ao ler Memórias do cárcere foi que mesmo num livro autobiográfico Graciliano era tão árido quanto nos seus livros de ficção. Assim, suponho que não exista em sua literatura uma diferença significativa entre sua produção como romancista-novelista, e sua escrita no tocante àquilo que seja diferente disso. Contrariando todas as receitas prontas de nossos manuais de redação, Graciliano escreve um romance tal como escreveria uma carta, um relatório ou poema, uma vez que ele não é um escritor compondo obras literárias mas é ele próprio sua literatura, é sua pessoa e não uma figura literária e imaginativa que surge em São Bernardo, Vidas Secas ou qualquer outro.

Minha segunda impressão foi notar a forte concretude dos personagens descritos, melhor dizendo, a maneira como eram tecidos sem que para tal se recorresse a elementos psicológicos ou conceituais que explicassem uma pessoa através de recursos predominantemente intelectuais. Todos os “personagens” da obra são apresentados sem que haja grandes divagações a respeito do que pensam ou de como se constituem internamente. Graciliano evita abstrações e tentativas de adentrar no mundo dos conceitos para assim explicar o mundo concreto, na verdade, aí reside um dos aspectos mais complexos do livro: o fato de que ele jamais sai dessa concretude infeliz e sórdida. Por sinal, mesmo quando o autor faz alusão à literatura, que poderia ser o espaço o espaço da imaginação e da liberdade, ela jamais aparece como um momento de desprendimento do mundo – nunca há desprendimento; apenas o contato frio e constante com as coisas do mundo, que não respeitam nossa interioridade e agridem-nos todo o tempo com sua insistência em existir.

Enquanto Machado ou Clarice, por exemplo, divagam, fogem e voltam ao mundo segundo seus humores para lhe observar segundo um novo ângulo descoberto fora da realidade imediata, Graciliano mal usa palavra “mundo” já que ela parece indicar um limite entre o que existe e o que pode existir, entre o real e o possível. Em suas retinas castigadas as coisas simplesmente são e estão, sendo fútil o questionamento a respeito de como poderiam ser, ou qual “deveria” ser “nossa” postura perante os fatos. Não há possibilidades, não há esperança e nenhuma coisa tem valor senão por aquilo que é. Para esse alagoano triste, impera o determinismo agressivo e mortificante do dia a dia.

Se me expressei suficientemente, devemos conceder que esse deve ser, talvez, o livro mais ateísta do mundo.

Essa concretude absoluta em que Memórias do cárcere está produz algumas características notáveis na escrita. A princípio, as cenas em que o autor descreve suas sensações (sobretudo o nojo), por exemplo, são poderosíssimas e viscerais. Ser literal, nada mais que literal dá muito poder às descrições de um negro coçando seus testículos, ou da comida ensebada das prisões de Getúlio Vargas, sendo que essa nudez literária é mais forte que qualquer tergiversação ou recurso de estilo que o autor pudesse empregar. Ademais, isso permite ao escritor aborda temas sociais sem recair numa visão científica ou filosófica do assunto, como se poderia esperar em algum momento, que produz resultados que parecem simples e óbvios, mas que jamais chegaríamos por nós mesmos – estamos intoxicados por demais de teorias e discursos prontos, ao passo que em sua escrita há uma visão das desgraças que vem diretamente de uma experiência sentida nas profundezas da pele, daquilo que ele e o leitor podem confirmar apenas respirando, sentindo o cheiro do sangue e do pó espalhados no ar, o escândalo faceiro diante de nós. A exemplo disso, a parte dedicada ao ladrão Gaúcho é ótima, pois Graciliano nunca olha seus personagens a partir do conforto do conceito, por conseguinte, vê e ouve naquele momento um sujeito que pratica ações condenáveis, que não se enxerga longe dessa vida e a vive sem remorsos, de uma maneira que nós, que temos tanto orgulho de nossa cultura, jamais poderíamos: como um ser humano igual a si mesmo e aos demais, outra vida se agitando debaixo da bota do tempo, fazendo aquele imenso esforço para existir e gozar que, por si só, já contém alguma dignidade.

Por fim, tenho a impressão de existir certa semelhança entre a escrita de Graciliano e de Camus. Pensando bem, creio que ambos se situam num tipo de pessimismo que antecede qualquer valor, seja moral ou intelectual e contamina os seus corpos, com efeito, malgrado possa ser interessante, nunca é plenamente agradável ler qualquer um dos dois: são anomalias literárias que não escondem seu caráter aberrante. Como diria Carpeaux, o alagoano é: ”o maior pessimista dessa literatura de pessimistas que é a brasileira”. Quanto a Memórias do cárcere, sinto que o expediente do livro é como um passeio num museu repleto de molduras vazias, de espaços ocos nos quais esperamos encontrar beleza e beleza ali não há; mas o vazio está lá escancarado, a ausência é perceptível e somente nos movendo por essa falta, por essa precariedade absoluta é que podemos ir de encontro ao autor. É lindo, e profundamente deprimente de um modo que não inventaram ainda uma palavra que abarque como.

Veja no blog: http://aoinvesdoinverso.wordpress.com/
Leonardo 21/06/2015minha estante
Não compreendi a atribuição de valor tão baixa...rs


Bruno Oliveira 06/07/2015minha estante
Eu percebi algumas coisas a respeito do Graciliano através do livro, mas não creio que seja uma boa obra.

Acho que ela se resume a uma repetição enfadonha de descrições, em que cada dia é apresentado sem nenhuma perspectiva interessante, seguido de outro e de outro. Foi uma leitura muito cansativa para mim que me trouxe bem pouca coisa, é como se a literatura nunca chegasse.




raphahass 11/07/2013

Apenas Citações do Livro
Capítulo 13
"Somos grãos que um moinho tritura - e ninguém quer saber se resistimos à mó ou se nos pulverizamos logo."
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Carla Martins 02/01/2013

Para aprender sobre o Brasil
"Resolvo-me a contar, depois de muita hesitação, casos passados há dez anos”.

Assim Graciliano Ramos começa a escrever Memórias do Cárcere, o primeiro livro desse estilo que eu li. Sua prisão aconteceu durante o Estado Novo e é narrada, dez anos depois, de uma maneira real, fiel e sem censuras nem exageros.

O livro é amargo, duro, seco. Porque a vida dele naquela época difícil, bem como os acontecimentos vividos também foram amargos, duros e secos. Adorei o livro e, apesar de tê-lo lido há muitos anos, lembro exatamente do impacto que me causou. Em algumas edições, ele possui quatro volumes, mas, no meu caso, possuo um com dois volumes apenas.

Recomendo muitíssimo o livro, até para entender um pouco sobre essa época do nosso País. Para mim, foi bem importante, já que havia lido muito sobre a ditadura militar, os atos institucionais, a prisão e tortura de jornalistas, mas pouco sabia sobre o Estado Novo.
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Carlos 25/12/2012

Livro muito bom para quem quer saber um pouco mais sobre a história de Graciliano Ramos,sua filiação como partido Comunista,e tudo o que ele passou durante a Era Vargas,na ditadura do Estado Novo!
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