André Luis 07/01/2022
O que esperar...
Uma viagem submarina detalhadamente descrita, por diversos pontos interessantes do planeta, todos eles, inevitavelmente, sob o "elemento líquido".
Na aventura, serão exploradas questões científicas, com destaque para a biologia dos seres marítimos, além de uma abordagem histórica, em alguns momentos, e, até mesmo, a exposição de conflitos humanos.
A história é narrada pelo professor e naturalista Pierre Arronax, cujo foco, no quesito "personagens" vai diretamente para o misterioso Capitão Nemo, chefe da "máquina submarina".
Também participam da história o arpoador Ned Land e o criado do professor, Conseil. Há ainda participantes menos relevantes, cuja aparição é ocasional e pouco detalhada.
Pontos positivos:
O cenário e a ambientação do livro são impecáveis. O autor consegue, com louvor, inserir o leitor em um universo inusitado, em que as noções de mundo se dividem entre o interior (todas as divisões do submarino) e exterior(o elemento líquido).
A construção do Capitão Nemo é tão boa quanto de qualquer personagem renomado de algum autor realista, o que é incrível, uma vez que Verne economiza muitas palavras no processo. Pequenas pinceladas nos seus hábitos e ideologia criam, sem maiores trabalhos e por conta própria, uma das figuras mais enigmáticas da história da ficção (científica).
As características didáticas do livro também merecem destaque. A obra pode ser extramamente útil para introdução na ciência, por incentivar um pensamento racional e citar autores e teorias. Como exemplo, a de Arquimedes acerca do empuxo.
Por fim, concluindo as partes positiva, creio que a imersão criada é a maior delas. E une todos os pontos citados até agora. É como um sonho, com cenário perfeito e narrativa aberta. O autor não interfere no seu pensamento, não dita todos os caminhos. Uma criança pode amar esse livro, ao passo que um adulto também pode. É um
campo livre para imaginação e devaneio, apenas com um plano de fundo definido.
Pontos negativos:
Talvez, apenas talvez, ocorreu um exagero na descrição de zoófitos, esqualos e seres do gênero. Empolgação de quem estudou demais, eu perdoo.
Os personagens poderiam ter sido mais aprofundados, assim como seus diálogos e conflitos. Algumas páginas usadas para o que eu critiquei no parágrafo acima cairiam bem aqui.
Jules Verne possui uma escrita tradicional e previsível. Sou entusiasta, mas alguns não gostam. Ele, metaforicamente, coloca pontos em um papel, que representam as aventuras. Em seguida, as liga, passando uma linha sobre os pontos. Minha objeção é que, nesse livro em especial, tais pontos ficaram claros demais. É como se, após fazer um obra, os andaimes ficassem a amostra. Nada catastrófico, porém faz com que não eu dê 5 estrelas aqui.
Um livro magnífico e divertido, li pela segunda vez e leria novamente.
Extra:
Muitos dizem que o final foi inconclusivo, e sim, ele foi. Entretanto, tudo se acerta no título "A Ilha Misteriosa". Tudo que se queira saber sobre Nemo está lá.
Frases e pensamentos:
", objeto longo, fusiforme, fosforescente, e infinitamente maior do que uma baleia."
"A pilhéria vencera a ciência." (frase específica e geralmente passa despercebida).
"É evidentemente um narval gigantesco e ao mesmo tempo elétrico."
"Quem quer abandonar presos não lhes ilumina a masmorra."
"O mar não pertence aos déspotas." (anarquia).
"Se não pertencem ao monopólio, nem por isso são piores, segundo penso".
"Na memória dos mortos, apagam-se as diferenças cronológicas".
"Foi Tasman que descobriu aquele grupo em 1643, no mesmo ano em que Torricelli inventava o barómetro e Luís XVI subia ao trono. Os leitores decidirão qual fato foi mais útil à humanidade." (mais anarquia...).
"Quem sabe se dentro de um século não se verá um segundo Nautilus!"
"O encarniçamento bárbaro e desnecessário dos pescadores fará desaparecer um dia a última baleia do oceano."
"Ordinariamente, quem não pode ir mais longe, dá-se por muito feliz em poder retroceder."
"Pode-se ir de encontro às leis humanas, mas não resistir às leis naturais."
Fim, espero ter ajudado.