Andreia Santana 19/10/2011
Verne em três viagens - Vinte mil léguas submarinas
O capitão Nemo tem fama de ser um dos personagens mais enigmáticos da literatura. Comandante do submarino Nautilus, era homem de poucas palavras e muita ação. Alguém que, devido a uma grande decepção, corta laços com a humanidade e endurece o coração. Júlio Verne o descreve como autoritário, quase um tirano; frio, do tipo que não deixa transparecer emoções; e cercado de segredos. Viajando a bordo do Nautilus estão o naturalista Aronnax, o criado Conselho e o arpoador Ned Land, que ora se sentem fascinados pelo capitão, ora o desprezam. Ninguém fica impune ao capitão Nemo, um homem cheio de nuances psicológicas.
Aronnax, Conselho e Ned vão parar dentro do submarino por acaso. Após um naufrágio, eles são salvos pelo capitão Nemo, mas o preço é alto, uma vez a bordo da estranha embarcação, jamais poderão sair de lá novamente. São prisioneiros, mas tratados como hóspedes, e junto com o capitão Nemo e sua tripulação, viverão aventuras incríveis no fundo do mar e na costa de países exóticos, onde o submarino faz paradas ocasionais.
Para o leitor de hoje, muitas das paisagens descritas por Verne podem parecer exageradas ou pouco condizentes com a realidade. Mas vale lembrar que o livro é do século XIX, quando ainda existiam terras por explorar, locais onde o europeu burguês do período acreditava viverem todo tipo de gente exótica. O que fugia do padrão europeu e cristão do período era exótico, estranho e bárbaro.
O importante ao ler a obra de Verne é ter consciência de que, embora fosse um visionário que deduziu com precisão científica diversos avanços tecnológicos e levou o homem à lua um século antes de Louis Armstrong pisar no satélite espacial, o escritor era um homem do seu tempo e suas crenças, a educação recebida e as leituras que fez na vida, transpareciam em alguns dos conceitos defendidos em suas obras.