Peterson15 15/06/2023
Busca por identidade.
Como um pai ausente afetuosamente pode ser tão presente na vida de alguém.
Na primeira parte acompanhamos o período de infância e adolescência de Karl Ove, sua construção a partir desse pai que domina suas ações, falas, pensamentos, atitudes.
Na segunda parte vem o processo da morte do pai e é a melhor parte, desde a notícia de sua morte, sua ida com o irmão para a antiga cidade, os preparativos para o funeral. A morte do pai se dá em casa onde viviam só ele e a mãe, cercados por garrafas cheias e vazias de bebidas alcoólicas, pilhas de roupas acumuladas, plásticos, sujeiras. Não se sabe ao certo as circunstâncias da morte nem há quanto tempo morreu, pois a vó que o encontra já é muito idosa, sofre de esquecimentos graves, não tem mais percepção do tempo. Há dúvidas até se a morte realmente aconteceu.
A limpeza da casa, todo o empenho em torná-la nova, parece um processo interno pelo qual ele passa. Desentulhar é arrancar todo o peso que o pai lhe depositou nas costas durante a vida, é libertar-se e caminhar sem a presença fantasmagórica e influenciadora do pai. Faz muito sentido ser o volume 1 da série, só "matando" o pai é que ele pode seguir em frente, construir sua própria história.
Gostei, é detalhado, uma espécie de lupa em tudo que acontece, dá uma imersão mais profunda, os cenários são bonitos, o clima frio, as comparações e descrições da natureza.
Eu leria a história do pai, gostaria de saber o que em sua vida o levou a tornar-se quem era.