Manuela 05/02/2014Um mundo BaudelairianoPensei que já tinha encontrado o meu grande desafio literário no ano - vencer as páginas de "O Talentoso Ripley", foi um tanto quanto difícil. O ano é tão longo, tantos dias e meses pela frente, de alguma forma eu sabia que era só uma medida de "ilusão".
Obviamente que a motivação que tornou "As flores do mal" uma obra difícil para mim em muito se distancia daquela que transformou em quase suplício degustar a obra de Patricia Highsmith (alguma coisa na escrita, alguma coisa em relação ao texto, alguma coisa que me deixava com um certo azedume).
Fato. Tendenciosamente não gosto de livros de cunho policial.
E tenho uma enorme resistência às poesias.
As clássicas então...
Entendam, Vinicius, Cecília, Pessoa, Neruda e minha amiga Ediane Lopes, que dia desse se publica, por exemplo, conseguem me alcançar e me fazem digerir, com doçura, seus poemas.
Em Baudelaire não há doçura.
Contrariamente. As poesias dele são acompanhadas de um tom escuro, possível de enxergar desde a primeira linha. Um gênio da arte, me dizem. E eu acredito. Um gênio um tanto sádico (?) e meio triste, eu complementaria.
Um gênio.
Sim.
Bom, apesar desse meu tamanho adendo, que só serviu para ilustrar a dificuldade na leitura, devo confessar que me envolvi em cada partícula de palavras e frases e textos. Me estranhei com umas, me vi seduzida por outras, namorei e traí, concordei e adverti - e não são de anuências e discordâncias que também se fazem leitura?
As Flores do Mal trás uma coletânea de poemas que tratam de temas como a expulsão do paraíso, o amor, o erotismo, decadência e morte, tempo, exílio: o tédio. A obra que li, especificamente, insere ainda poemas excluídos da primeira publicação (alguns censurados ao tempo) e o mais interessantes, rascunhos de prefácios escritos pelo próprio Baudelaire e que não foram publicados no original - sendo possível capturar a essência do sentimento de ser visto, julgado, limitado. Como são os olhos dos outros para Baudelaire e como ele se sente - por dentro, ali no âmago.
Apesar das ruínas escuras em que permeia seus escritos, há tanta beleza em "As Flores do Mal" que torna o livro sublime e impactante.
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À nós, leitores hipócritas, um brinde.