Tamirez | @resenhandosonhos 21/08/2018A Hora das Bruxas IFalar sobre A Horas das Bruxas é algo muito especial pra mim. Essa foi a segunda releitura que fiz e já faziam mais de dez anos desde a última vez que tinha lido o livro. Não sei bem explicitar quando foi a primeira vez, mas acredito que tenha sido entre 12 e 13 anos e depois uma releitura aos 14/15. Nessa época eu não catalogava e hoje vejo o quanto isso faz falta. Toda a vez que eu comentava sobre esse livro no canal pediam pra eu falar sobre ele, porém, sem reler seria impossível.
A série das Bruxas Mayfair é a minha história favorita da Anne Rice e me marcou muito no inicio da minha vida enquanto leitora, portanto voltar novamente a esse mundo me trouxe muita nostalgia e serviu mais uma vez para mostrar por mesmo depois de tanto tempo ainda sou capaz de me apaixonar pela história e seus desdobramentos.
“A bruxa é uma pessoa que tem o poder de atrair e manipular forças invisíveis.”
A primeira coisa que você precisa saber sobre esse livro é que a escrita na Anne Rice não é super fluída, mas a complexidade e grandeza na história compensa. Vamos remontar 400 anos que variam entre a narrativa contada por três pontos de vista e os arquivos do Talamasca, uma organização que cataloga eventos sobrenaturais e que esta observando essa linhagem a anos. Esses arquivos são compilados de cartas e relatos de informantes e alguns tem um caráter bem pessoal.
São datas, locais e desmembramentos familiares, é preciso ficar atento e ir montando a árvore genealógica mentalmente ou no papel, como eu gosto, para que cada vez mais a história ganhe corpo e sentido e isso pra mim é uma das coisas mais legais sobre esse livro. Não há fim no que pode ser descoberto, apenas mais e mais fragmentos sobre a vida dessa família.
Outra coisa super importante é que estamos falando de uma história adulta e em muitos aspectos pesada. Há violência, crimes, sexo, incesto e uma série de posturas questionáveis. Esse espírito é ardiloso e malandro e muitas das bruxas extremamente maliciosas. Há toda uma aura sobre essa família, inclusive as inúmeras alegações de que eles tinham um lado “Targaryen” e em alguns momentos se relacionaram com irmãos ou parentes muito próximos para gerarem descendentes mais fortes e uma bruxa mais pura e forte para a linhagem.
Há personagens de todas as idades pois cada uma das 13 bruxas tem uma história diferente a contar e viveu por um tempo diferente, mas a narrativa não é infantil e jamais adolescente e é importante ter isso em mente ao adentrar na história. Não há romances bobos, há os erros humanos, a busca pelo prazer, atos questionáveis, mortes, magia, atitudes duvidosas e um clima de mistério no ar.
As bruxas aqui apresentadas também não fazem poções ou possuem caldeirões, elas são mulheres comuns que através de sua ligação com essa entidade são capazes de fazer coisas acontecerem, influenciam acontecimentos, somem, aparecem e tramam de uma forma inexplicável a olho nu. Elas são sempre muito belas e com personalidades distintas. Tudo é muito sombrio e duvidoso, principalmente quando nossa fonte são os olhos limitados do Talamasca.
O QUE É O TALAMASCA?
Com o tema “Nós observamos e estamos sempre presentes”, essa organização se mantém a séculos observando e coletando informações sobre eventos sobrenaturais. É na inquisição, quando Suzanne, a primeira das Mayfair, é queimada na fogueira que eles tem o seu primeiro contato com essa linhagem e, desde então, tem observado o que aocntece. Em alguns momentos alguns dos observadores inclusive infringiram a regra de não interferir e a trama dessas mulheres acabou se emaranhando também com a da organização, causando não só uma maior fonte de informações como a perda de membros pelas mãos das bruxas ou se Lasher.
Mas não são somente essa família que eles acompanham, eles também observam e rastreiam qualquer outro tipo de evento ou pessoa que pareça ter algo de especial e, é assim que o Talamasca e Michael Cury vão se cruzar, já que toda a sua história também chamará a atenção da organização. E será nessa interação que poderemos ter acesso aos seus arquivos e desfrutar de todo o conhecimento coletado.
“O que eu sou? Uma bruxa, pelo amor de Deus! Sou quem cura, não quem destrói. Tenho chance de escolha como todos os seres humanos tem.”
Tendo esclarecido isso, é preciso falar sobre a personalidade dos personagens. Rowan é uma pessoa fria que vê o mundo como algo simples, porém há muita coisa acontecendo na vida dela e ela está confusa, fazendo com que tudo o que sente seja amplificado. Ela sempre sentiu que poderia haver algo errado com ela, mas pôs isso de lado. Ela sabia que era adotada, sabia da promessa de Ellie, sua mãe adotiva, de nunca contar-lhe nada, e conviveu com isso de forma natural. Ela é inteligente, segura e bem sucedida, mas sabe que falta algo, sabe que há uma peça faltando em sua vida. Em função do distanciamento de sua personalidade é difícil sentir empatia por ela, apesar de compreendermos todos os conflitos de sua vida.
Já Micheal Cury é um chato. Conforme caminhava pelas páginas me lembrei do como achava o personagem irritante desde que li pela primeira vez. E é difícil explicar, porque ele soa como o homem perfeito. Ele era bem sucedido, com posses, bonito e inteligente, porém o acidente o mudou e ele começou a sentir pena de si mesmo e a ter uma vibes loucas de beber descontroladamente. Tudo isso meio que destoa e as partes em que ele é o foco no começo são as mais chatas aos meus olhos. Tenho uma leve lembrança que ele só piorará no próximo livro, mas vou aguardar pra ter certeza.
Além desses dois centrais também seremos apresentados as outras 12 Bruxas Mayfair antes de Rowan. Suas histórias virão em fragmentos e aos poucos conheceremos sobre sua jornada, história e claro, personalidade. Elas são bem distintas, umas são joviais e descontroladas, outras sérias e focadas, há também as amedrontadoras, as fracas e aquelas que esbanjam carisma e sensualidade. Da inquisição ao período escravista, a modernidade do fim dos anos 80 suas formas de ver e interagir com o mundo mudaram e cada uma delas possuem suas próprias peculiaridades.
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