Jessica Becker 06/09/2017O segredo do Anel "A história não é o que aconteceu. A história é o que foi escrito." (pág. 413)
Thriller de conspiração é um gênero que, via de regra, é caracterizado por personagens, geralmente jornalistas, escritores ou historiadores, que percebem algo e investigam até descobrirem uma conspiração, pondo em risco suas vidas. Os autores desse gênero fazem uso de fatos e personagens históricos misturados à ficção, para dar mais veracidade ao enredo. Um exemplo bastante famoso deste tipo de thriller é o livro O Código da Vinci, do norte-americano Dan Brown. Outro exemplo, não tão conhecido mas sobre o qual falarei a seguir, é O Segredo do Anel, de Kathleen McGowan.
"Há amargas rivalidades em nossa terra, abbé Healy. Projetam-se ao longo de muitos anos e não admitem a voz da razão. Esta região...é inundada pela luz mais bela. Mas essa luz às vezes atrai as trevas mais terríveis. Lutamos contra as trevas da melhor forma possível. Mas, como aconteceu com os nossos ancestrais, nem sempre vencemos." (pág. 156)
Na obra de McGowan, Maureen é uma jornalista e escritora que passa a ter visões envolvendo uma mulher misteriosa, durante e após uma viagem a Jerusalém. Depois de retornar para casa, Maureen escreve e publica um livro defendendo figuras históricas femininas controversas, apresentando argumentos que as inocentem de suas acusações. Uma das mulheres defendidas pela jornalista é a personagem bíblica Maria Madalena.
O livro escrito por Maureen atrai a atenção de um ricaço francês, Berenger Sinclair, que a convida a visitá-lo e a hospedar-se em seu castelo. Ele promete respostas para as perguntas que a escritora tem feito a si mesma sobre seu pai desde criança.
Na França, hospedada no castelo de Berenger, Maureen se descobre descendente de Maria Madalena e consegue as respostas que procurava desde a infância. Além disso, fica sabendo de um tesouro revolucionário, capaz de mudar o rumo da humanidade. Mas ela não será a única a procurar tal tesouro. A busca envolverá homens perigosos, que não medirão esforços para encontrar aquilo que procuram.
"Não é que o Evangelho tenha mudado. Apenas passamos a compreendê-lo melhor. Chegou o momento de discernir os sinais dos tempos, de avaliar as oportunidades e olhar para a frente." (pág. 78)
Antes de opinar sobre a qualidade do livro e apresentar seus pontos negativos e positivos, quero deixar claro que o analisarei sob a perspectiva de uma obra de ficção, sem levar em conta minhas crenças religiosas ou a falta delas. Dito isso, posso começar afirmando que O Segredo do Anel é uma obra muito inteligente e envolvente, mas que desperdiça seu potencial em personagens rasos e um desfecho decepcionante.
"Já que o demônio demonstrava grande habilidade em tentar os homens para a perdição, a mesma habilidade devia ser demonstrada para salvá-los." (pág. 152)
McGowan, além de utilizar personagens reais e basear-se em algumas histórias que circulam na Europa sobre o Santo Graal, faz uso de pinturas famosas e artistas renomados para tecer sua trama. Ler a teoria levantada por um dos protagonistas ao mesmo tempo em que visualizava a obra por ele mencionada, fez com que parecesse que aquilo que era narrado pela autora em O Segredo do Anel realmente tivesse acontecido.
Outro ponto positivo da obra é sua narrativa fluída e envolvente. O leitor consegue visualizar muito facilmente as cenas e os diálogos, de tal modo que parece estar assistindo a um filme. A partir de determinado ponto da obra, a maneira como a história era contada foi a única coisa que me impediu de abandonar sua leitura.
Se por um lado a trama é inteligente e muito bem elaborada, por outro as informações que temos dos personagens são escassas. Tudo o que sabemos é o básico do básico, não desenvolvendo no leitor sentimento capaz de fazê-lo torcer por alguém. A única personagem que conseguiu ganhar minha afeição foi Maria Madalena e, ainda assim, foi quase no final da narrativa. Não me preocupava com o que aconteceria com eles, se sofreriam ou se teriam um final feliz. Tudo o que eu queria saber era do que se tratava o tesouro e qual seria o rumo dado a ele.
Além disso um romance forçado (não entendo a mania que alguns escritores tem de forçar romances goela abaixo do leitor quando não é necessário!) e um desfecho fraco, quando comparado com a dimensão do problema que os protagonistas tinham em mãos, afastaram qualquer possibilidade de um dia eu vir a ler os outros dois livros que compõem esta trilogia.
"Sabe o que não posso compreender? Por que incomoda tanto as pessoas a ideia de que Jesus foi casado e teve filhos? Como isso pode diminuir sua mensagem? Por que os cristãos se sentiriam ameaçados?" (pág. 267)
Assim, o primeiro livro da trilogia O Legado de Maria Madalena começa bem mas vai perdendo o fôlego à medida em que se aproxima do final. A narrativa fluida e a trama inicialmente inteligente não foram o suficiente para superar os personagens rasos, as situações forçadas e o desfecho fraco, tirando qualquer interesse em continuar a leitura da saga.
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https://acervodajess.wordpress.com/2017/09/25/resenha-38-o-legado-de-maria-madalena-o-segredo-do-anel/