Valério 05/03/2015
A história certa para o escritor errado
O livro conta a história real dos últimos 2 anos de vida de Mary Ann, diagnosticada com câncer terminal no pâncreas.
Mary Ann foi uma mulher fantástica.
Altruísta, bondosa, forte, foi exemplo para todos que dela se aproximavam. Trabalhou como voluntária atendendo e cuidando de refugiados de guerra no Afeganistão, Paquistão entre outros.
Sua vida foi dedicada aos outros.
Deixou lições inesquecíveis.
Grandioso.
O problema é que a história foi contada por seu filho, Will.
Se por um lado Mary foi uma mulher memorável, a habilidade como escritor de Will é deplorável.
O livro carrega demais no sentimentalismo (venhamos e convenhamos: Uma história de uma pessoa com prazo para morrer já é suficientemente dramático. Qualquer tentativa de dramatizar o que já é dramático força a barra).
Além disso, as boas partes do livro são reproduções o que disse Mary.
O título do livro se deve ao fato de que mãe e filho começam a ler juntos vários livros para discutirem entre si. Como começaram depois do diagnóstico, eis o título.
Mas Will sempre se atrasa, isso quando consegue ler (muitos não conseguiu terminar).
Além disso, o livro muitas vezes parece contar quase mais da vida de Will do que de Mary. E a vida de Will nada tem de interessante (pelo contrário), a não ser sua mãe.
Will é homossexual e vive com um companheiro, David. Perfeito. Mas ele parece querer deixar isso muito claro em várias partes do livro. A história não é sobre homossexualidade. É sobre uma paciente terminal. Em nada acrescenta a quantidade de vezes que o autor foca a história em seu relacionamento.
Aí chegamos à sabedoria de Mary: Em uma das passagens, Will nos conta como foi quando contou à sua mãe que era gay (novamente, isso não acrescenta em nada ao livro, tendo em vista o enredo: Uma paciente terminal).
E ela diz, ao fim: Se for virar um escritor, seja um escritor. Não um escritor gay.
Ou seja, seja livre na sua homossexualidade. Mas não deixe que isso influencie na sua escrita.
Mas é exatamente o que ele faz. O livro carrega um pouco no homossexualismo - e aqui corro o risco de me taxarem de homofóbico. Não perderei tempo tentando convencer ninguém de que não sou. Apenas acho que homossexualismo, como qualquer relação, deve ser vista com neutralidade. Não deve ser discriminado. Mas tampouco exaltado. É apenas mais um tipo de relacionamento entre humanos.
A própria mãe, já antevendo, o alertou desse risco. Mas, aparentemente, não foi suficiente.
Por fim, o livro usa e abusa de clichês sentimentais. Reproduzo aqui um dos piores, quando, segundo o autor, a médica oncologista, em uma das últimas consultas, perguntou à Mary se podia abraçá-la:
"Era um abraço de carinho e afeto legítimo: duas pessoas consolando uma à outra, feito irmãs se despedindo antes de uma delas partir para uma longa viagem a uma terra distante".
Enfim, a personagem real Mary Ann salva o livro de ser classificado com apenas uma estrela.