gatoviski 11/10/2024
Estamos pelados dentro das nossas roupas.
Toda nudez será castigada foi uma peça escrita e apresentada no Teatro Serrador em 1965, e apesar de ter todas as características clássicas do teatro de Nelson Rodrigues, a peça possui uma trama enigmática, que mesmo após o fim da leitura, eu me pego pensando sobre o quê está por trás de toda essas simbologias.
O enredo se desenvolve a partir da morte da esposa de Herculano. O seu irmão, Patrício, vê uma oportunidade de conseguir alguma vantagem financeira na situação. Ele orienta Geni, uma prostituta, a seduzir Herculano, porém Herculano tinha prometido a seu filho Serginho que não teria outra mulher após a morte de sua esposa.
Mesmo com as peculiaridades dos outros personagens, para mim, o grande enigma da peça é Serginho. É estranho como ele é um celibatário que projeta no pai a sua própria castidade.. Quando Serginho vai ao médico, por exemplo, ele sente vergonha de se despir, sabemos também pelo médico que as próprias tias dão banho no menino de dezessete anos, como se estivessem conservando a virgindade dele.
Em certo momento, Serginho vê o pai fazendo sexo com Geni, arruma uma briga em um bar, e vai para cadeia, onde ele é estuprado por um ladrão boliviano.
A mudança de comportamento do menino é vulgar. Ele culpa o pai pelo acontecido, tenta se vingar dele a qualquer custo, porém recebemos uma notícia chocante no final da peça: Patrício conta à Geni que Serginho fugiu com o ladrão que tinha o estuprado.
Acredito que a frase “Só os profetas enxergam o óbvio”, dita por Patrício, foi a que me causou mais estranheza: Um profeta que anuncia o que não muda, dos canalhas às putas, desde que o mundo é mundo, o óbvio é ululante.