Chrisley 25/06/2009
Adam e Cathy se casam e se mudam para uma fazenda no Vale de Salinas, onde toda a história realmente acontece. Grávida, Cathy não conseguia se livrar do marido, mas logo depois de dar a luz a gêmeos, ela foge. Acho que posso dizer que a história é sobre esses gêmeos. Praticamente abandonados pelo pai desolado com a fuga da esposa, os dois meninos são criados por Lee, um chinês, empregado de Adam. Depois de um ano de nascimento, é que os dois garotos recebem um nome: Caleb e Aron, inspirados em Caim e Abel.
Como Adam e Charlie, Cal e Aron eram totalmente diferentes. Aron conquistava a simpatia de todos logo de início, era um menino bom e puro. Cal tinha um pouco da personalidade da mãe. Era bom, mas não conseguia evitar fazer o mal e magoar o irmão. A partir disso vão se construindo a vida deles e também a trama narrada pelo próprio Steinbeck, que percebemos fazer parte da história apenas em algumas passagens.
O diálogo levado pelos personagens passa a sensação de estarmos ouvindo eles pessoalmente. É possível imaginar claramente todos os gestos, a entonação da voz e a velocidade da fala. Steinbeck nos mostra a trajetória de todos os personagens presentes na série, do nascimento e constituição das famílias até as suas mortes. Isso é o que enriquece a obra, tornando-a uma espécie de documento, uma árvore genealógica. Pode-se pensar que isso não tem muito a ver com a trama, mas conforme as personagens se cruzam, vemos que ter tudo tão detalhado assim facilita a compreensão das relações entre eles. O perfil de cada personagem é importante. Steinbeck dá destaque ao comportamento de cada um, e ao final parece que conhecemos todos como se fossem nossos vizinhos. Até chegamos ao ponto de saber como cada um reagiria à diferentes situações.
Eu tenho que dizer que meus personagens preferidos em toda a trama são Cal, pelo qual eu sempre simpatizei por conta da complexidade da sua personalidade, e Lee, de longe a pessoa mais sábia na obra. O relacionamento entre os dois é lindo. Os ensinamentos de Lee são a chave para Cal não ceder ao jeitinho de sua mãe e continuar sendo uma boa pessoa. Tudo o que Lee diz não serve apenas como lições para as personagens da obra, mas também como lições para quem a lê. Pois essa é a importância de um livro, passar conhecimento.
A Leste do Éden entrou para a minha lista de livros favoritos. E espero que a leitura de outras obras de John Steinbeck faça com que ele se torne um dos autores mais apreciados por mim. Logo quando fui procurar por livros dele, li que suas histórias se confundem com a realidade. O que é verdade. Steinbeck nos situa ao que estava acontecendo no mundo, principalmente nos Estados Unidos, na época em que se passa suas histórias. A impressão é que tudo aquilo realmente aconteceu, que aquelas pessoas existiram. Ao final do livro, não pude deixar de ficar curiosa para saber o que aconteceu a todos os personagens. Steinbeck deixa isso em aberto, semeia o desejo de querer conhecer a vida de todos até o seu término. Infelizmente, não tenho como saber isso, só me resta imaginar.
Obs.: Essa resenha foi originalmente publicada no Blog do Meia Palavra.