gangafefe 14/10/2021
Commentarius
Júlio César, ao condensar os registros de sua vida militar e política em dois apanhados escritos, De Bello Civii e De Bello Gallico, utilizou de um gênero literário típico à sua época, o commentarius. Esta palavra em latim possuía valor semântico diverso da nossa palavra comentário, se aproximando muito mais do que para nós representa o termo memória. Com o perdão da poesia, Celso Amorim condensa os registros de sua aguerridas batalhas diplomáticas para estabelecimento de uma política externa ativa e altiva para o Brasil.
Sendo este livro a coletânea de anotações em suas agendas e moleskines, conseguimos um retrato da rotina exaustiva que o posto de Ministro o exigia, sem que o peso de seu extenso conhecimento técnico, laureado outrora com a medalha de veirmel Lafayette de Carvalho e Silva ao concluir seu curso de formação diplomática, torna-se sua expressão textual sisuda. Ao mencionar isso, confesso ser este meu ponto de afeição com o livro, em especial o cuidado delicado de retratar tão bem as relações pessoais, quanto as institucionais, que são peças chaves no valor efetivo desta obra aos interessados por política externa, e pela vida dos agentes diplomáticos. Sendo assim, tanto degluti o desenvolvimento de temas centrais da política externa das décadas de 90 e 2000, quanto obtive conhecimento sobre a necessidade do embaixador brasileiro na Nigéria adornar suas janelas com redes de proteção contra babuínos. Por essa oferta de competência técnico-institucional bem interligada a uma personalidade sensível ao cotidiano, que este livro se torna uma boa experiência aos que buscam ambos.