emmanuel_arankar 27/07/2023"Azincourt" de Bernard Cornwell
Quando nos aventuramos nas páginas de um livro, encontramos um refúgio, uma porta de entrada para novos mundos e experiências emocionais. No entanto, quando esse livro é uma obra-prima da ficção histórica, como "Azincourt" de Bernard Cornwell, essa jornada literária se torna ainda mais fascinante. Recordo com alegria e nostalgia o primeiro livro que li deste renomado autor britânico, que na atualidade é um dos mais aclamados do gênero ficção histórica. Impossível esquecer o quão gostosa foi a experiência de ler "O Rei do Inverno," o primeiro volume da trilogia "Crônicas de Artur." Esta série nos apresenta personagens fascinantes e carismáticos, como Derfel, Merlin e o próprio Artur. Este livro foi a porta de entrada para eu me aventurar no gênero histórico e a outras obras do autor.
Após explorar a história de Artur, mergulhar nas "Crônicas Saxônicas" e seguir a trilha do Graal na trilogia correspondente, "Azincourt" apresenta-se como um desafio empolgante. Diferentemente das séries anteriores, "Azincourt" é uma obra independente, um vislumbre singular do talento de Cornwell. Ambientado no contexto da batalha de Azincourt, uma das mais memoráveis da História, o livro narra a épica vitória do exército inglês, apesar de estar em desvantagem numérica perante as forças francesas, graças ao formidável arco longo.
O enredo começa com a história de Nicholas Hook, um jovem de 19 anos, filho de um falecido pastor que deixou a esposa com dois filhos, Nick e seu irmão, Michael. Ambos serviam ao Lorde Slayton. A função de Nick era a de guarda-caça, e ele era considerado o melhor arqueiro que servia ao seu lorde. No entanto, a trama se desenvolve a partir de uma rivalidade familiar, os Hooks versus os Perrills, levando Nick a ser acusado de tentativa de assassinato. Esse conflito é o ponto de partida que nos lança em uma emocionante jornada.
O protagonista, Nicholas Hook, evolui ao longo da narrativa. Inicialmente, é um jovem impetuoso, mas à medida que a história avança, ele amadurece, especialmente com a introdução de Melisande, uma jovem francesa que cruza seu caminho. Nick é dotado de uma força física impressionante, mas o que realmente se destaca nele é sua determinação e sua capacidade de cumprir suas promessas, mesmo quando estas superam seus próprios sentimentos pessoais. Além disso, acredita que São Crispim e São Crispiniano o aconselham em momentos críticos, tornando-o um protagonista cativante.
Porém, um dos personagens mais marcantes do livro é Sir John Cornewaille. Este destemido cavaleiro, famoso campeão de torneios de cavaleiros pela Europa, é cheio de sarcasmo, ironia e palavras obscenas. Sir John é o tipo de homem que comanda e inspira seus soldados, lutando ao lado deles e não hesitando em ofender qualquer inimigo. Sua presença nos momentos de batalha é capaz de aliviar a tensão, e sua personalidade forte cativa o leitor.
As descrições de batalhas de Cornwell são impressionantes, transportando o leitor para o cenário sangrento e caótico, com escavações de túneis, cercos de batalha, lama, vísceras voando, flechas encontrando seus alvos, espadas desmembrando corpos e balas de canhão explodindo cabeças e corpos. O autor consegue pintar um quadro vívido desses momentos críticos da história.
Outros personagens também se destacam, como William Dale, um imitador hilário; Melisande, a jovem francesa que se torna um ponto focal do romance; sire de Lanferelle, o "senhor do inferno," um vilão carismático com uma incrível cena de luta perto do final do livro; e o próprio Rei Henrique, um monarca valente e corajoso, que não hesita em liderar seus soldados em meio à batalha.
Além do enredo envolvente, "Azincourt" oferece detalhes históricos intrigantes, transportando o leitor para a Guerra dos Cem Anos, uma época em que os arqueiros ingleses com arcos longos e flechas de ponta perfurante eram temidos em todo o continente europeu. O livro oferece uma visão crua da brutalidade das batalhas da época, com as espadas sendo substituídas por armas mais letais, como maças, machados, lanças curtas e machados de guerra. Tudo isso se torna ainda mais vívido pelas descrições de Cornwell, que demonstram um conhecimento profundo das armas e táticas da época.
Por meio de uma narrativa em terceira pessoa, o autor também explora aspectos da vida cotidiana, das relações familiares e das divisões de classes dentro do exército inglês. Esses elementos adicionam camadas de realismo e profundidade ao enredo, tornando-o mais do que uma mera narrativa de batalhas.
"Azincourt" é uma obra repleta de paixão, violência, bravura e camaradagem. Bernard Cornwell entrega mais uma vez um romance histórico que cativa o leitor, oferecendo uma visão envolvente da famosa batalha de Azincourt. O livro é uma jornada épica e uma prova do talento do autor em trazer a história à vida, transformando eventos históricos em narrativas vibrantes e emocionantes. Cada página virada nos leva mais fundo na História, vivenciando a tempestade, a lama, a aniquilação e, por fim, a coragem que resultou em uma grande vitória.