Thaisa 19/10/2022
"Darling, hold me, and never, never, never let me go..."
Preciso começar essa crítica pontuando que, no final de 2021, pedi indicações de leituras para 2022 - e quando vi que algumas delas repetiam "Não Me Abandone Jamais", obra que deu o Prêmio Nobel de Literatura para Kazuo Ishiguro em 2017, fui atrás do livro na mesma hora... E agora entendo o motivo de Ishiguro ter recebido tanta notoriedade.
Aqui encontramos um romance de formação, pois acompanhamos a narradora, Kathy, contando sua história desde que era criança até a sua vida adulta. Desde o início, ela nos apresenta Hailsham, o internato onde passou a infância, incluindo as aulas que recebia, as cuidadoras e professoras do local e, é claro, as amizades que ela tinha, principalmente com Ruth e Tommy.
A narrativa não é maravilhosa, não por causa da escrita do autor, mas pela própria narradora ter seus altos e baixos, atos apaziguadores e falas cruéis, representando, no final das contas, todo e qualquer ser humano - cheio de dúvidas, dores, confusões, julgamentos e questionamentos infindáveis.
Apesar de ter gostado do estilo literário de Ishiguro, o que realmente me fez adorar "Never Let Me Go" foi um conjunto brilhante: reviravoltas chocantes, relacionamentos bem desenvolvidos e, mais do que tudo, os conceitos éticos, filosóficos, artísticos e até mesmo espirituais que são abordados no segundo em que descobrimos que esse não é um romance comum, mas uma distopia.
Assim que o livro começa, existe uma aura estranha, um sentimento inquietante que faz o leitor sentir que há algo errado nessa história... Mas o que seria? Logo no início é nítida a influência de famosas distopias, porém confesso que já vi o grande plot twist vindo por causa de um anime, adaptado de um mangá, que segue o mesmo princípio (aliás, creio que o próprio mangaká tenha se inspirado em "Não Me Abandone Jamais").
Ainda assim, o livro não perdeu força mesmo que eu já soubesse o que estava acontecendo, pois apesar de ter uma escrita simples e personagens sem muitos atrativos, o que realmente brilha são as reflexões que encontramos ao longo do texto, sendo possível compreender o motivo pelo qual os protagonistas aceitam sua realidade e a encaram de determinada maneira, enquanto os leitores também são capazes de traçar paralelos com suas próprias vidas e, por mais indignados que possamos ficar ao finalizar a leitura, conseguimos nos colocar no lugar de Kathy, Ruth e Tommy e enxergamos, de um outro ponto de vista, o que eles vivem, o que pensam e como se comportam.
É meu livro favorito? Não. Mas é nítido que Kazuo Ishiguro mereceu ser tão premiado por essa obra que, com o tempo, deve entrar para o hall das clássicas distopias importantes e atemporais.
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