Fê 02/05/2013Eu já tinha lido esse livro um tempo atrás, mais especificamente um pouco antes de sair o filme. Mas o que me chama a atenção é a capa, com esse urso lindo. E as continuações me chamam mais ainda, porque na capa tem um gato. E é um dos poucos em que o título em português funciona melhor que em inglês (northern lights – aurora boreal. OK, faz sentido, mas não chama a atenção).
Lyra vive uma vida tranquila e feliz em Oxford, na prestigiada Faculdade Jordan. Mas não é a Oxford da Inglaterra que conhecemos. Lyra mora em um outro mundo, muito parecido com o nosso, mas diferente em vários aspectos. Para começar, todos os habitantes desse mundo tem um daemon, um animal que os acompanha e fala com eles, protege e aconselha. Em outras palavras, é como se fosse a alma ou a consciência das pessoas exteriorizada. Os daemons das crianças podem mudar de forma, assumindo vários animais. Isso acontece até que elas cheguem à puberdade, quando seus daemons então assumem uma forma e se fixam nela. Isso vai ser importante, tanto neste mas também nos próximos. E mais uma coisa sobre os daemons: é tabu uma pessoa tocar no daemon de outra. Guardem isso.
Outra coisa diferente no mundo de Lyra é a existência de uma coisa chamada Poeira (ou traduziram como Pó? Ambas são aceitáveis. Eu li em inglês, então é Dust). Essa substância tem uma certa afinidade pelos adultos, mas não afeta as crianças. Eu vou retomar essa noção mais para a frente, mas ela é um pouco complicada, só posso dar a minha interpretação dela.
Explicações feitas, vamos voltar à história. Um dia, Lyra se esconde num armário e presencia um atentado a seu tio, Lorde Asriel, na faculdade. Depois de avisá-lo, ela ganha o direito de espionar o que acontece durante a sua reunião, e é lá que ela descobre sobre Poeira, e as luzes da Aurora Boreal tem especial concentração dela. Também nesta apresentação Lorde Asriel descobre a existência de uma cidade de um outro mundo nas luzes, e então resolve construir um ponte para alcançá-la. Lyra fica fascinada com isso, mas Lorde Asriel não permite que ela vá junto com ele.
Então, Lyra fica em Oxford, travando batalhas com seus amigos das cozinhas e das faculdade rivais, e aprendendo um pouco com os estudiosos de Jordan.
Enquanto isso, em outras partes da Inglaterra, crianças desaparecem sem explicações. São crianças humildes, em sua maioria ciganas, e que presumidamente ninguém sentirá a falta. Então começam os boatos dos Gobblers (como está em português? Papões? Já explico), os raptores das crianças, com fama de comê-las. Ninguém sabe ao certo, só que depois que as crianças são raptadas nunca mais aparecem. Eles são uma ameaça relativamente distante de Oxford, até que Roger, o melhor amigo de Lyra, desaparece.
E é nessa hora que chega em Oxford a Sra. Coulter, uma respeitada e refinada estudiosa. ela logo se encanta com Lyra e decide levar Lyra embora com ela para Londres. Antes de partir, o Mestre principal de Jordan dá a Lyra um objeto parecido com uma bússola, e pede para que ela o mantenha em segredo da Sra. Coulter, e que o leve a Lorde Asriel. Lyra então parte para sua aventura.
Lyra é uma menina inteligente e curiosa, como toda criança de 12 anos. Seu daemon ainda muda de forma, e reflete o espírito inquieto de Lyra. Ela também é uma líder nata e muito leal a sues amigos. Só que essa liderança de Lyra beira a arrogância e, apesar de no livro dizer o contrário, ela não é lá muito agradável. É bem moleca (tudo bem), e não tem papas na língua, mas sabe se comportar quando precisa. Só que ela não sabe lidar muito bem com regras, e não é muito obediente. Sinceramente,não gosto muito dela. Mas ela até que é uma personagem interessante. Só acho meio exagerada a descrição dela como excepcional. Tudo bem, ela aprende a ler a tal bússola sozinha, é bem perspicaz, mas ela consegue tudo muito fácil. Não é como Percy ou Harry, por exemplo, que mesmo sendo semideus e bruxo, respectivamente, precisaram aprender a lidar com seus poderes. E como a maior parte da ação se concentra em Lyra, para mim, pelo menos, é um pouco difícil de acompanhar.
Lorde Asriel, tio de Lyra, é um homem pragmático e duro. Não demonstra muita afeição por Lyra (não vou falar porque, mas isso vai ser importante), e seu interesse maior é mesmo pela ciência. Já a Sra. Coulter é sofisticada e doce, mas isso é só fachada. Por trás do sorriso meigo e da voz mansa, há uma determinação e fervor doentios. Seu daemon é um macaco dourado arrepiante. Só por ele dá para ter uma ideia de quem ela realmente é. Esses dois vão ser muito importantes na história de Lyra, mas não vou falar mais para não dar spoilers.
Quando Lyra descobre o que os Gobblers estão fazendo com as crianças, ela foge da casa da Sra. Coulter e é resgatada pelos ciganos, que partem com ela para salvar as crianças. Elas são na verdade cobaias para um experimento, que separa os daemons de seus donos, em um procedimento muito doloroso e muitas vezes fatal. No mundo de Lyra, essa é a pior coisa que pode acontecer a alguém: perder seu daemon. Lembra que eu falei que é importante guardar que os daemons mudam de forma até a puberdade? Bom, é que esse procedimento só pode ser feito enquanto os daemons não se fixaram. Por isso que as crianças somem.
E nessa jornada para resgatar as crianças, Lyra conta com Farder Coram, um cigano com jeito de vovô, muito sábio e que ensina muitas coisas a Lyra. gosto muito dele, mas é pena que seu personagem não tenha muito destaque. Também ajudando Lyra está Iorek Byrnison, o urso maravilhoso da capa. Iorek é na verdade um exilado de Svalbard, o reino dos ursos, mas é muito mais que isso, e Lyra também vai ajudá-lo. Ainda Lee Scoresby, um aeronauta texano valente, e Serafina Pekkala, a rainha do clã das bruxas. Todos esses personagens são bem mais legais que Lyra, mas não tem muito destaque neste. O livro vale mais a pena por causa deles que de Lyra.
O livro é bem complexo, demora para entender que se passa em outro mundo, e também a política desse mundo é muito complicada. Ele é governado pelo Magistério, que na verdade corresponde à nossa Igreja, com todos os seus defeitos: contra o progresso e o conhecimento. Porque minha interpretação sobre a Poeira é que ela é uma metáfora á Ciência e ao conhecimento. Sendo assim, o livro também tem uma crítica feroz à Igreja, e nem sei porque ele é classificado como juvenil, porque é complicado até para a gente entender. E quando eu digo que o Magistério é uma crítica à Igreja, eu quero dizer inclusive que há algo parecido com a Inquisição. A narrativa é em terceira pessoa, mas é meio arrastada, por causa dessas minúcias. mas depois que Lyra chega no Norte, as coisas ficam mais legais, e o livro prende mais. Mas não desanimem, isso é só o primeiro, os outros são bem mais legais. Há também muita reviravolta, e muitas pequenas narrativas que se encaixam na de Lyra. E isso deixa o livro um pouco confuso também. Mas, como eu disse, vale a pena ler por causa das continuações.
Trilha sonora
Esse livro é tão diferente, estranho, que eu só consegui achar uma música porque outro dia estava lendo ouvindo meu iPod: Both sides now, da Joni Mitchell.
Filme
Sinceramente, faz tempo que assisti, e não me lembro direito. Só lembro claramente de Nicole Kidman fazendo possível para retratar a Sra. Coulter de forma convincente. E Daniel Craig como Lorde Asriel. Mas o que lembro é que a adaptação não faz jus ao livro. É bem diferente, e o resultado foi tão ruim que nem atores ótimos como eles dois não foram capazes de dar vida apropriadamente aos personagens. Houve na época também bastante especulação, chegaram a falar em fazer a continuação, mas o primeiro teve desempenho tão ruim que ficou por isso mesmo. Uma pena, porque como eu disse, as continuações são bem melhores. E, diferente de Percy Jackson que vai ganhar a continuação no cinema, este tem que partir do zero, porque a menina que fez a Lyra (que aliás, não fez um trabalho muito bom, e não corresponde à Lyra do livro) já deve ser adulta. Então, fica a dica: não julgue o livro pelo filme. Assisti uma vez só, o que diz muito. Compare com Percy: apesar de o filme não ser lá essas coisas, eu gosto e já assisti diversas vezes. Só para esclarecer. Mas nem tudo é desperdiçado: a caracterização é ótima, e a fotografia também.
Originalmente publicado em: natrilhadoslivros.blogspot.com