Viva o povo brasileiro

Viva o povo brasileiro João Ubaldo Ribeiro




Resenhas - Viva o Povo Brasileiro


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jota 07/09/2021

ÓTIMO: não é uma História do Brasil, mas pode ser a do povo brasileiro, gente com muitos defeitos e algumas virtudes...
Lido entre 20/08 e 06/09/2021

Viva o povo brasileiro, especialmente os habitantes reais ou não da ilha baiana de Itaparica, personagens centrais da obra épica (não apenas por sua quantidade de páginas) de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). A narrativa começa meio estranha, meio empolada, mas depois fica impossível resistir ao falso patriotismo de Perilo Ambrósio, ao canibalismo do caboclo Capiroba, ao embate de ideias entre o mestiço espertalhão Amleto Ferreira e o preconceituoso cônego D. Araújo Marques, à bravura da heroína Maria da Fé e depois seu romance com o general Patrício Macário.

Essas e outras tantas narrativas compreendidas em “pouco mais de três séculos de uma anti-história do Brasil”, como escreveu a editora Nova Fronteira, são contadas não sequencialmente, mas com idas e vindas no tempo, com alguns personagens reaparecendo nas histórias de outros, lembrados por eles etc. Não é uma história romanceada do Brasil como alertou a editora, mas através de personagens fictícios ou não, Ubaldo Ribeiro vai mostrando nosso passado escrachado com altíssima qualidade literária. Que por vezes nos obriga a recorrer ao dicionário, dado o uso de muitos vocábulos antigos ou específicos de uma cultura (a negra, especialmente).

É impossível não reconhecer nessas páginas traços do comportamento e da personalidade do brasileiro atual, alguns tão característicos que vêm desde os tempos da colonização, passando pela escravidão, império, república, pela formação econômica e financeira do país, como é o caso das elites brasileiras. Ubaldo Ribeiro nos faz crer que tanto quanto para as páginas de seu livro parece que ao fazer essa leitura estamos olhando também para um espelho que exibe não apenas nossa cara, igualmente nossa alma. E o ele reflete não é lá uma imagem muito boa...
jota 10/12/2021minha estante
Corrigindo a última frase: E o que ele reflete não é lá uma imagem muito boa...




Valéria Ribeiro 29/08/2021

Uma obra-prima
O povo brasileiro, heróico, aguerrido, mestiço, sofrido, feliz, incomparável é retratado nesta história fenomenal. Ri e chorei muito durante as venturas e desventuras de seus personagens inesquecíveis!
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Tatiana.Junger 22/05/2021

história que não virou História
Uma ficção que, atravessando os tempos desde 1647 até 1977, conta a história do Brasil - "história", porque se deu, e sabemos que se deu, por verossimilhança -, apagada pelo discurso oficial. Uma história de dor e sacrifício, que só não é um martírio para ler porque a narrativa oscila entre a retratação seca do terrível com a ironia, o sarcasmo, o fantástico e o espiritual, complementados pela construção de personagens marcantes, como Perilo Ambrósio, Amleto Ferreira-"Dutton", Nego Leléu, Maria da Fé e Patrício Macário.

Fugindo aos fatos tidos por notórios da nossa História, suas motivações e fundamentos, Viva o povo brasileiro tira o véu do "adequado" e do "bonito", põe o dedo na ferida, critica a elite brasileira pela sua hipocrisia e mediocridade, critica instituições (o governo, a Justiça, o Exército, etc) e sua responsividade à verdadeira ideia de democracia.

Nesse ensejo, a experiência de leitura baralha sentimentos de orgulho com sentimentos de vergonha da brasilidade. Afinal, a brasilidade não é só a resiliência do dominado, mas a frieza do dominador. São todos brasileiros, inobstante o empenho do dominador em esconder isso...

Mas no meio de tantas denúncias das "coisas como elas são", João Ubaldo Ribeiro insere na trama um elemento importante, misterioso, enigmático: uma canastra cheia de segredos da Irmandade da Casa da Farinha, segredos do povo, que passou por todo esse período perdendo bens, família, dignidade, sangue e até mesmo a vida, mas não perdeu a esperança, porque se alimenta do Espírito do Homem, que persegue incondicionalmente o Bem.

E a metáfora da canastra é brilhante, porque ela está lá, trancada, não expressa seus segredos, mas os prova presentes - e é o mesmo que a esperança do povo brasileiro: mesmo com nenhuma prova de que algum esforço compensa, mesmo remando contra a maré, mesmo após algumas "reviravoltas políticas", "revoluções" e supostas mudanças que nada de fato modificam, a esperança subsiste. A canastra explica o que nada mais explica: a esperança que subsiste.

"Viva o povo brasileiro" é uma saudação - e uma saudação serve para identificação dos pares. "Viva o povo brasileiro" é, portanto, uma tentativa de comunicar que existe alguém que protege a canastra, que alimenta a esperança e que, independentemente dos percalços, seguirá saudando "Viva o povo brasileiro"! Viva nós! Cabe a nós, leitores, reconhecer a Irmandade da Casa da Farinha, dar seguimento à sua causa e saudar de volta: Viva o povo brasileiro! Viva nós!
Alê | @alexandrejjr 25/05/2021minha estante
Baita texto, Tatiana! Sabia que o João Ubaldo costumava dizer que "ninguém leu 'Viva o povo brasileiro' como deve ser lido", ou seja, como ele esperava que lessem? Olhando para os últimos anos da nossa história, tendo a concordar com o saudoso Ubaldo...


Tatiana.Junger 25/05/2021minha estante
Infelizmente parece que ele estava certo sobre isso mesmo? mas a canastra ainda tá aí!

Que bom que gostou do texto! E virou sim, facilmente, um dos meus livros favoritos!




Everton Vidal 04/04/2021

Cobre quatro séculos de construção brasileira (1677 a 1977), desconstrói fatos oficiais com ironia, descrevendo-os como fantasias ou meias-verdades que ocultam a verdade, que é principalmente construída por anônimos postos às margens da história.

Nesse plano se constroem algumas das principais personagens, como o Barão de Pirapuama, que enriquece fingindo participação heroica na guerra de independência e Amleto, contador do barão, que enriquece ilicitamente e falsifica documentos para ocultar sua ascendência africana.

Do outro lado está o Caboco Capiroba, canibal que gostava de comer holandeses, e suas descendentes: Dadinha, sua bisneta, escrava que morre centenária entregando o seu conhecimento à posteridade, Vevé, neta de Dadinha, que ao ser violada pelo barão dá à luz a Maria da fé, protagonista, líder guerrilheira da "irmandade da casa da farinha", onde a semente da identidade do povo começa a nascer.

Obra-prima de um dos maiores escritores da segunda metade do século XX. Escrito de forma fragmentária, não-linear, é um retrato anti-histórico imenso e preciso do povo brasileiro.
marconevb 04/04/2021minha estante
Esse livro está na minha lista de desejos há um tempão ? ótima resenha!


Everton Vidal 04/04/2021minha estante
Achei bão demais. Vale a pena! o/




Fernanda.Marques 02/02/2021

3/12 livros para 2021
Apenas questão de gosto!
Não me envolvi com a história, cheia de vozes ao mesmo tempo e temas pouco explorados. Faltou desenvolvimento e fechamos aos personagens - inclusive da minha preferida Maria da Fé!
Alê | @alexandrejjr 07/02/2021minha estante
Maria da Fé é uma personagem fraca? E o Leléu? Como esquecer de Perilo Ambrósio, o barão de Pirapuama? Não conseguir se envolver e se confundir com as histórias e vozes que perpassam o romance é normal, mas discordo totalmente que exista pouco desenvolvimento das personagens...


Fernanda.Marques 07/02/2021minha estante
Que bom que vc gostou da experiência desse livro! Mas Como enfatizei no título trata-se apenas do Meu Gosto. E cada um tem o seu!


Alê | @alexandrejjr 07/02/2021minha estante
Claro, literatura é subjetiva. Uma pena, Fernanda. Mas tente outros do autor, ele vale a pena.




Ananda 21/01/2021

# Descrevendo o livro em 3 frases

1. Um livro poéticamente histórico.
2. Atmosfera fortemente imagética, de modo a fazer com que o leitor realmente presencie os fatos a estarem narrados.
3. Para pensar as nossas origens passadas e as implicações disso no nosso presente e futuro.

# Ideia(s) principal(ais) da obra

Contar a história do Brasil - desde a invasão Européia até a contemporaneidade - através de uma escrita literária, com personagens e acontecimentos ficcionais, porém, ao mesmo tempo, baseados nos acontecimentos verídicos de nossa luta.

Indagar quem é o povo brasileiro; quem são seus verdadeiros povos e questionar a tirania daqueles que se vêem como os proprietários das terras do brasis. :

# 🤔 Reflexões gerais

João Ubaldo Ribeiro delineou sutilmente mas perspicaz, a maneira como se assentou a formação intelectual do brasileiro e, consequentemente, a sua própria visão de si. Nisso, compreendi que a base do pensamento nacional, muito arraigada em preceitos europeus, sempre desprezou seus povos originários e também estrangeiros não incluídos no bloco da cultural ocidental (como os negros). Esta divisão acarretou em uma longa exclusão de todos aqueles que não representavam/reproduziam os ideais europeus na definição do que é ser brasileiro. Os anos passaram e, apesar de, teoricamente termos contornado o dilema, o problema ainda persiste e de maneira bem visível e gritante na vida daqueles que ainda sofrem constantemente com a marginalização de suas existências.

# 5️⃣ Citações favoritas

> O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias.

> Cada rico morto são dez pobres vivos — acrescentou como se já tivesse dito aquilo muitas vezes — e em cada dez pobres nove são pretos e o outro
raceado, ou pelo sangue ou pela vida que leva.

> O homem só admite que ele coma o bicho, não que o bicho o coma, embora o bicho não se importe com isso e continue comendo o homem, seja por
merendinhas como as muriçocas, seja por freguesia como as lombrigas, seja por caça como as onças, seja em forma de comida dormida para os
peixes e siris — morte no mar —, os urubus e guarás — morte na flor da terra —, os vermes e tatus — morte enterrada.

> O Exército, que é de gente do povo, tem sido sempre a pior arma contra o povo, mais do que polícia, mais do que inquisição.

> Não falava isto por modéstia, que nem sequer considerava uma virtude respeitável, mas por honestidade e porque queria que vissem que não existem
homens especiais e que o herói pode ser qualquer um, a depender de onde esteja, do que faça e de como o que faz é interpretado pelos outros.
Orochi Fábio 28/03/2022minha estante
Perfeitamente. Li no ano passado, sou um apreciador da obra de Ubaldo: este livro recordou Macunaíma do Mário em sua maneira onírica com que alquimizou os fatos...




JPrates 08/11/2020

Herança e narrativa em João Ubaldo Ribeiro
Este livro é o melhor livro que já li; também é o que eu gostaria de ter escrito. Ambientado sobretudo na Bahia, em particular na ilha de Itaparica, o romance de João Ubaldo consegue extrair de um espaço relativamente pequeno uma trama cujo cerne cristaliza o grito comum de todo Brasil. É, sim, um romance baiano, na medida que se passa majoritariamente na Bahia, não obstante, é também um romance alagoano, mineiro, fluminense, goiano etc. - enfim, é um romance brasileiro.
Para além dos muitos e interessantíssimos personagens, chama-me a atenção a maneira como a narrativa se desenvolve a partir da memória. Várias vezes João Ubaldo mostra-nos a face mais biltre da injustiça, da corrupção e da violência que se desenvolvem em solo brasileiro - mais ou menos com os mesmos contornos, apesar dos distintos contextos históricos - para em seguida dar-nos um nó na garganta ao ler a versão inteiramente deturpada que contam os beneficiários de tais perversidades. É brilhante a maneira com que o autor demonstra a construção da narrativa dos opressores, por vezes adotadas por seus oprimidos, como instrumento de dominação - dessa forma, um sócio parasita torna-se um filantropo, um estuprador assassino e covarde torna-se herói de guerra, em diante. Ao mesmo tempo, o povo brasileiro também cultiva a sua memória - é a figura da Canastra que surge como herança, passada de brasileiro a brasileiro, como forma de reação às narrativas deturpadas dos parasitas. Dessa forma, é notória a fundação da Irmandade do Povo Brasileiro - alegoria para a própria formação de um grupo, homogêneo em sua heterogeneidade, que assim possa ser chamado de Povo Brasileiro - só se concretiza a partir dos esforços conjugados de um negro malê, de escravizados resistentes, de sertanejos, em torno da Canastra em que depositam seus conhecimentos e recebem os de seus companheiros, é a tradição e a transmissão de saberes que permite ao povo brasileiro (r)existir. Viva o Povo Brasileiro pode ser caracterizado como um romance de construção, esta sendo a construção do Brasil e de seu povo que, pela herança que simboliza a Canastra, pode resistir enquanto existir, que em cada canto do Brasil ecoe:
Viva nós!
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Otávio - @vendavaldelivros 15/10/2020

“- Guerra agora, que é você que está amarrado aí. Quando é um de nós que está amarrado, não é guerra, é expedição punitiva”.


Eu tinha expectativas muito altas com Viva o povo brasileiro. Tão altas que eu tinha receio de ler o livro e acabar me decepcionando, então adiei por um tempo até achar que era o momento. Assim, quando comecei a ler e encontrei nas primeiras páginas um português um tanto quanto rebuscado e uma leitura pouco fluída pensei que havia criado expectativas altas demais em um livro. Como eu iria encarar quase 700 páginas desse texto? Será que acabaria abandonando um livro depois de tanto tempo? Eu mal sabia que estava começando um dos melhores livros que já li na vida.


Em Viva o povo brasileiro, o baiano João Ubaldo Ribeiro propõe contar a história do Brasil de meados dos anos 1650 até 1977, através de personagens fictícios que interagem com momentos históricos reais. Índios, caboclos, escravos, holandeses, portugueses, barões e toda a sorte de personagens fazem parte de uma história que vai e volta no tempo, explicando conexões e estruturas que são construídas ao longo do livro.

A gigantesca força de alguns personagens é quase indescritível. É impossível não sentir as dores de Dafé e, ao mesmo tempo, se envolver com sua liderança, sua missão e suas crenças. Impossível não se sentir amigo de Patrício Macário, sua relação com o Exército, sua compreensão das desigualdades sociais e das injustiças que estão entranhadas nas bases desse país.

Há muito tempo não me sinto feliz ou orgulhoso do povo brasileiro. Ao contrário, sigo cada vez mais descrente de que esse país possa dar certo. O livro de João Ubaldo Ribeiro, escrito em 1984, é uma aula sobre as injustiças e desigualdades que formaram o Brasil. Escravizados que foram libertos sem nenhum tipo de suporte do Estado, a Revolta de Canudos, a Guerra do Paraguai, a Ditadura e mais tantos fatos que desaguam no país que temos hoje, desigual e injusto. Viva o povo brasileiro escancara a desigualdade latente e estrutural desse país e mostra, com exemplos práticos, como tudo isso acontece há séculos, com a anuência de quem de fato é dono do capital.

Eu, sinceramente, não me sinto capaz de expressar o quanto esse livro me impactou, e quão importante e necessário ele é para a compreensão desse país. Mas, mais do que isso, Viva o povo brasileiro é uma obra absurdamente deliciosa de ser lida. Um humor irônico permeia o livro inteiro, mesmo em momentos duros. A escrita de João Ubaldo é poesia pura, mas é acessível, fluída e viciante. Um livro épico, em todas as formas, com personagens inesquecíveis e passagens marcantes. É tanta coisa boa que a única coisa que posso falar é: Leia Viva o povo brasileiro. Poderia escrever horas sobre esse livro e ainda assim não conseguiria transmitir a intensidade dessa experiência. Sorte a minha não ter desistido nas primeiras páginas e ter tido a prova de que minhas expectativas não foram altas o suficiente. Sorte a nossa ter tido a honra de ter, nas fileiras de nossa história, João Ubaldo Ribeiro.
Nicolitt 15/04/2021minha estante
Kkkkkk deus, eu senti a mesma coisa lendo


Otávio - @vendavaldelivros 15/04/2021minha estante
ahahaha Fico feliz! É um dos meus favoritos da vida!


Margô 20/06/2021minha estante
Considero uma das melhores obras de autoria nacional! É uma viagem na História, partindo de onde inicia a colonização do Brasil, - A Bahia-! Superrecomendo.??


Felipe.Mello 15/03/2022minha estante
Essa seria a minha quarta leitura no ano, mas depois dessa sua resenha, esse livro será o próximo no meu planejamento! Ahhaha


Margô 15/03/2022minha estante
Boa Felipe!! Não esqueça de comentar comigo... Quero ver a tua percepção!


Felipe.Mello 15/03/2022minha estante
Pode deixar! ;-)




Andre 14/10/2020

Sensacional
Um belo texto, com personagens que nos fazem entender como chegamos a uma sociedade igual a que temos hoje.
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Kaio 07/10/2020

Viva nós!
Um romance que mais parece um tratado histórico-antropológico da formação do povo brasileiro. Suficientemente grande para esboçar todos as características (esteriótipos?) do brasileiro, tais como a religiosidade, a malandragem , o mal-caratismo, a corrupção e o hipocrisia elitista. Sem esquecer, obviamente, do famoso jeitinho brasileiro.

Uma obra preciosa.
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Leonardo T. 18/09/2020

Indispensável
Todo o mundo, principalmente os brasileiros, deveria ler essa obra prima!
Alê | @alexandrejjr 05/10/2020minha estante
Esse é o melhor livro que eu já li, inclusive (OK, eu li pouco até o presente momento mas, de qualquer forma, me marcou demais).




Sibele Brito 11/07/2020

Conta a história e consequência do contato entre negros, índios, portugueses e holandeses, traçando um divertido e brilhante panorama sobre a formação do povo brasileiro, ao longo de três séculos.
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Tiago 21/06/2020

Determinados períodos pedem determinadas leituras.

Como agradecer a um livro?

Desde o primeiro índio, que após avistar a chegada dos colonizadores portugueses, recebeu um tiro na cabeça e seu sangue vermelho banhou e batizou o destino do chão deste país, o Brasil, palavra que designa "brasa" em sua sua etimologia, remete ao vermelho do fogo e do sangue, que serve de combustível para fazer rodar as engrenagens que há séculos move o que há por trás de nossa identidade; seguindo entre os séculos, de 1500 até 1970, João Ubaldo escreveu esta obra histórica, que com uma sátira ferrenha e pesada, de dar embrulhos mesmo, vai reconstruindo os fatos históricos do Brasil a partir de personagens que de tão reais nos deixam na dúvida se foram mesmo fictícios. Descreve o medo e a esperança de um povo que à base do estupro se tornou tão miscigenado que de sua identidade passou a saber tão pouco: o povo brasileiro é negro? É índio? É pardo? É branco? É um pouco de tudo?

Se eu lesse este livro antes de 2014, talvez achasse por demais exagerada a sátira que ele faz quando desenha a mentalidade conservadora e fascista das páginas deste livro. Mas hoje, 2020, vejo o quão preciso ele foi nos diálogos. É de arrepiar.

Ante tanto incômodo durante a leitura, demorei para entender o tom da sátira tão pesada do livro. Ler sobre os tempos de escravidão não é fácil. Menos ainda perceber que a escravidão permanece, embora com outros nomes. Mudam os nomes, mas as engrenagens são as mesmas. E só ao fim do livro vim entender o título. Como era possível dizer "Viva" a um povo que mata, escraviza, destrói? Só depois entendi que o "Viva" se referia ao Povo Brasileiro, movimento fundado dentro duma senzala, formado por aqueles que com os braços, o sangue e o suor, construíram e constroem este país, que de belo, além da natureza, tem também a força que sabe resistir à opressão e à barbárie. Este que é o povo brasileiro, muito mais do que aqueles que "à bandeira empresta para cobrir tanto sangue e covardia", como escreveu Castro Alves em 1870, e que hoje mesmo, nas ruas, vemos se repetir. Àqueles que resistem, muito mais do que a estes que oprimem, é que vale gritar: Viva! Viva o Povo Brasileiro!
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Dira 20/05/2020

Assim como Cem anos de solidão está para a América Latina...
Viva o povo brasileiro está para o Brasil! Essa obra é história pura, das mais vorazes. Todo brasileiro deveria conhecê-la! Personagens fortes e histórias que se conectam conosco de forma cíclica do início ao fim do livro.
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OgaiT 01/08/2019

"Jeitinho Brasileiro"
No início tive um pouco de preguiça em ler o romance, mas, na medida em que se aproximava do fim, percebi o quanto bem estruturado a narrativa foi construída. Todas os acontecimentos repercutem até se chegar aos anos da ditadura. E no fim, a visão que as personagens têm do futuro (nossa atualidade) é fantástico. Ubaldo nesta narrativa, para muitos, tida como sua grande obra, faz uma verdadeira celebração ao povo brasileiro: a devassidão, egoísmo, ganância, boemia, sofridão, altruísmo que são inerentes à formação do país. Outra ressalva, é a da escrita do narrador muito erudita, além de mordaz e ácido, e lembra a forma de narrar do Saramago.
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