Almeida 22/04/2016A Islândia, o deus deitado...A Ciência ainda não comprovou a conexão misteriosa e intrigante dos gêmeos, mas confirmam que a carga genética e a conexão entre eles é compartilhada desde o útero. Dessa ideia, Valter Hugo Mãe trouxe em prosa poética as irmãs, Halldora e Sigridur, gêmeas que são separadas pelo destino chamado Morte. Uma separação prematura que trouxe uma desestruturação familiar.
"foram dizer-me que a plantavam. Havia de nascer outra vez, igual a uma semente atirada àquele bocado muito guardado de terra." Aqui jaz Sigridur!!!
É difícil para o ser humano ter uma noção da morte até o momento em que ele se vê enlaçado por essa que é vista por todos como a indesejada. Mas quando ela nos toca indiretamente, nos vemos obrigados a reagir, mas cada um reage de forma diferente. O romance A desumanização nos traz a tona diversas antíteses sentimentais que em algumas páginas nos sufocam quando compreendemos através das personagens o significado dessa tal desumanização, que é uma espécie de ansiedade frustrante em excluir a sensibilidade que muitas vezes não compreende que para ser ser humano não precisamos ser menos humanos.
A história se passa em uma pequena aldeia da Islândia onde Halla, a menos morta, com os seus 11 anos de idade perde o seu duplo que nada mais é do que a sua irmã Sigridur, a criança plantada, que morre prematuramente. A partir dessa separação, Halla começa a sentir-se violentamente só e a mãe completamente desnorteada pela presença da morte, vira-se para Halla e diz que ela agora teria duas almas para salvar no céu, dando a então uma responsabilidade grandiosa e cheia de questionamentos.
Em todo o romance tem o amadurecimento dessa narradora personagem que descobre a diversidade do mundo adulto, onde ela se vê entre o ódio, amor, desprezo e sua própria sexualidade. E toda essa aflição é mostrada no ponto de vista de uma criança enfrentando o mundo adulto, tem pontos de equilíbrio da ingenuidade versus densidade, pureza versus sofrimento, e isso faz com que a obra venha a se tornar uma leitura deslumbrante.
Para mim, Valter Hugo Mãe só me surpreendeu com a sua maestria em criar uma obra que transborda poesia em forma de prosa. Fez-me pensar na pureza e na esperança, ambas com predicados, aquela que pode ser perfeita, mas a outra que pode ser maldosa. É um livro que traz o significado das perdas e ganhos. Perde-se um ente, mas se ganha a desumanização. Portanto, o pior amor é aquele que já é feito de ódio também. Alexandre de Almeida
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