Soraya Felix 12/11/2013
Um tratado alquímico da ficção
A Biblioteca Perdida do Alquimista, segundo livro da trilogia criada pelo autor, é um tratado alquímico em forma de ficção.
Marcello trouxe de volta o personagem Ignazio de Toledo e seu filho Uberto, e também o francês Willalme, todos de O Mercador de Livro Malditos, já resenhado neste blog.
Mais uma vez Ignazio se vê as voltas com uma trama política que mescla alquimia e adoração pelo conhecimento. Só que desta vez, ele terá que obrigatoriamente ir em busca da rainha Branca sequestrada pelo conde de Nigredo e de um antigo e poderoso livro de alquimia.
A trama se desenvolve de forma crescente, muitas vezes obrigando o leitor a não largar o livro até que descubra o que acontecerá com um ou outro personagem. Cada capítulo, como uma boa novela, tem principio, meio e fim, deixando sempre “cenas dos próximos capítulos” que nos leva a ler, ler e ler sem parar.
No entanto, A Biblioteca Perdida do Alquimista não é um livro fácil. Precisa de atenção, pois está recheado de referências alquímicas importantíssimas para a trama. De certa forma, Marcello dividiu seu livro nos estágios da alquimia que na trama está representada de duas formas: - A física e a psicológica.
A física é o tema principal propriamente dito, e que não convém ser falado aqui para que a surpresa da história não se revele antes.
A psicológica, que em primeira linha está associada ao próprio Ignazio. Assim, Nigredo, Albedo, Citrinitas e Rubedo se inserem na transformação interior do personagem.
Nigredo é a dissolução, a putrefação, e isso você percebe em Ignazio no principio da trama.
Albedo é a purificação, representa a lua. E você percebe que nosso personagem se modifica, se sensibiliza com o desaparecimento do filho, com o drama das mulheres, as béguines. Neste estágio Ignazio ainda sente dificuldade de mostrar seus sentimentos.
Depois você vê Citronitas, a transmutação dos metais. É o momento em que Ignazio está sempre entre dois opostos e o exemplo maior é quando ele se vê diante da grande biblioteca perdida e do fogo que a consomirá. Alias, este trecho do livro pareceu-me um novo processo alquímico dentro do grande processo que é A Biblioteca Perdida do Alquimista.
E no final, o pensamento dele em relação à família e o abraço fraternal com Willalme, que representam, sem dúvida, o Rubedo, a Pedra Filosofal.
Outro encantamento que Marcello Simoni usa é a mistura de fatos reais com fantasia. A maioria dos personagens existiu mesmo. Padres, rainhas, freis e todas as situações como raptos e tramas políticas podem ser comprovadas em um livro de história. O mesmo acontece com os livros de alquimia citados, inclusive o Turba Philosophorum. Então, com esta carga de verdade, fica impossível não acreditar na trama, não mergulhar no medievo.
A Biblioteca Perdida do Alquimista me surpreendeu, pela maestria e criatividade que a história foi conduzida, mesmo que o final possa ser desvendado muitos capítulos antes. Eu só vi o tema alquimia ser tratado com tanto conhecimento e força no livro da historiadora da ciência Deborah Harkness.
A Biblioteca Perdida do Alquimista é um livro independente e pode ser lido mesmo que você não conheça O Mercador de Livros Malditos. Mas, se quiser aproveitar melhor a história, lei o primeiro livro antes. Há mais sabor quando se conhece o personagem principal.
PUBLICADO NA INTEGRA NO BLOG PROSA MÁGICA
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