Gui 07/05/2022Atreides contra Atreides"Existe o desconhecido em toda parte, a todo momento. É aí que você busca o conhecimento."
Nove anos após os acontecimentos de "Messias de Duna", Alia ascende ao poder do império enquanto os descendentes de Paul ainda não possuem a idade para assumir o trono. O planeta não está mais árido como antes, o verde das plantas e o azul das águas pode ser visto em demasia comparado a tempos anteriores. Os desertos ainda existem, mas não possuem toda a sua glória. As mudanças que Liet Kynes queria para Arrakis estão finalmente acontecendo como ele esperava.
Tais mudanças foram planejadas para o melhor, afinal quem não gostaria de vegetação e água em abundância em um planeta desértico? Bom, foi isso que os planetólogos, os cidadãos e os leitores pensaram, mas isso se tornou uma faca de dois gumes. Toda a cultura dos nativos era baseada naquele planeta com pouca água e vegetação. Os rituais, a disciplina, os ensinamentos? Tudo isso começa ir água abaixo (literalmente) com as mudanças drásticas que o planeta está sofrendo. E o pior, toda a economia da galáxia depende da especiaria. As mudanças estão afetando o ecossistema dos vermes, e consequentemente o melánge. Todo o destino do universo está nas mãos de quem comanda Arrakis.
Leto e Ghanima, assim como Alia, nasceram pré-nascidos, ou seja, tem em suas consciências a memórias de seus antepassados até tempos do início da civilização humana aqui na Terra. Alia, por sua vez, está perdendo o controle de sua própria consciência, e deixando uma de suas memórias antepassados assumir. Inclusive, um certo personagem enigmático que conhecemos volta a dar as caras por meio dessa possessão.
Os conflitos são maiores, complexos e mais abrangentes do que nunca. Enquanto o segundo livro eu defini como sendo uma "briga de pessoas inteligentes", aqui a definição poderia ser "briga de pessoas inteligentes no Casos de Família". Sim, é isso mesmo que você leu, família contra família, Atreides contra Atreides. Não tem um que se salve dessa chuva de facas que jogam uns contra os outros.
O livro pecou um pouco em arrastar demais algumas coisas. No meio para o final eu estava no automático, desligado de alguns acontecimentos e personagens. Isso se intensifica ainda mais perto do final, pois as coisas vão acontecendo muito rápido.
Outro ponto também foi o excesso de momentos "burro de mais para entender". Sei que não sou erudito o suficiente para entender todas as questões filosóficas, religiosas, políticas e até mesmo ecológicas que os livros querem nos passar, contudo, nos dois primeiros livros o autor nos apresentou todo esse universo de uma forma incrível. Mesmo quando passava por esses momentos, você se sentia parte daquilo, conseguia absorver o momento, mesmo que não entendesse por completo. Porém, infelizmente neste último livro não senti muito isso, por muitos momentos fiquei sem absorver nada e ficou por isso mesmo, nem mesmo o contexto me salvou.
? SPOILERS A FRENTE ?
Apesar do ciclo Paul Atreides ter se encerrado no segundo livro de forma excepcional, ele ter voltado com o alter ego de Pregador foi muito interessante, porém, tem alguns pontos negativos nisso. A primeira é como o personagem foi apresentado e desenvolvido, pois nos primeiros aparecimentos o livro já deixava claro quem ele era, apenas não confirmava oficialmente. Então, quando chegou o momento dele confrontar Alia, não me surpreendeu nem um pouco. Pior que, se fosse em outra mídia como um filme, talvez esconder a verdadeira identidade do Pregador fosse desafiador, mas em livros existem muitas artimanhas que poderiam ter sido usadas para esconder essa revelação até o final.
A segunda é a forma como ele morreu. Pegando um gancho com o desfecho do personagem em "Messias de Duna", para voltar depois de anos e morrer deveria ser algo que superasse a sua "morte" no segundo livro. Até mesmo a segunda morte do Duncan Idaho foi meio meh.
Por fim? [*****], MEU NOBRE. O MENÓ SE FUNDIU COM OS VERMES E DE TORNOU UM DELES, QUE FODA E AO MESMO TEMPO PERTURBADOR.