bardo 15/11/2024
The Last Olympian de Rick Riordan é provavelmente o mais ambicioso dos cinco livros dessa série inicial, sabemos que o autor depois expandiu a história, universos e mesmo abordou outras mitologias. Em The Last Olympian, porém Riordan puxa tantos fios que em dado ponto o leitor se pergunta se o autor dará conta de amarrar tudo.Tenho a impressão de que aqui e ali ficou algo meio solto, mas nada que comprometa a experiência.
Cabe dizer que temos dois livros distintos aqui, de um lado é uma narrativa aventuresca que se encaminha para o confronto final entre Percy e Cronos do outro a narrativa adquire tons bem mais profundos e filosóficos. Esse sem dúvidas é o mais adulto dos cinco livros e para além da diversão, para o leitor apto a isso presta-se a reflexões inesperadas. Não creio que os mais novos vão se atentar ao que o autor está fazendo aqui, a mensagem parece dirigida aos leitores mais velhos, a um público jovem adulto.
The Last Olympian nos oferece mais do que nos livros anteriores, personagens complexos e mesmo subverte o que sabemos de alguns deles. Alguns talvez se incomodem com o fato do autor aparentemente justificar os vilões, mas um olhar mais atento dá conta de que Riordan faz uma crítica social sutil, mas muito precisa. O pedido final de Perseu explicita essa crítica, num certo sentido toda a saga fala de abandono parental, mas aqui o autor sugere mesmo um “abandono social” é sutil mas está ali.
É interessante como Riordan mais do que em todos os outros livros aborda a questão do pertencimento, do lar. A forma como o autor nos apresenta o significado do título e como trabalha o arco de uma deusa não tão popular é particularmente belo. Novamente impressiona como o autor sutilmente trata de temas importantes incorporando-os à trama. A figura da lareira e do fogo, o profundo vínculo que se forma naquilo que se convencionou chamar “lar” e que a narrativa aqui e ali dá conta de apontar que o autor não se refere somente ao sangue, laços de parentesco ou mesmo residência.
Dado a época que a saga foi lançada e o próprio fato dela apresentar algumas semelhanças com outra famosa saga infantojuvenil envolvendo um “escolhido” não tem como não fazer comparações. Não farei juízos de valor, mas me parece no mínimo contraproducente que os leitores órfãos dessa outra saga não valorizem e divulguem o trabalho do Riordan. Sem entrar em méritos de melhor ou pior é indiscutível que em Percy Jackson o autor trabalha questões de diversidade com um olhar muito particular e amoroso. Cabe sim elogiar o autor utilizar de forma positiva uma característica neurodivergente e muito antes disso virar modinha.
Vale apontar ainda que a saga como um todo se presta muito bem ao reading, o texto do autor é bem fluído, nada que um dicionário ou uma rápida pesquisa na internet não vá resolver. É uma leitura bem tranquila e prazerosa.
Em resumo The Last Olympian de Rick Riordan é um término de saga muito bem escrito que entrega uma boa história de aventura, cheia de reviravoltas, mas que para além disso tem muito mais a dizer. A despeito de ser uma saga infantojuvenil o autor não subestima o leitor. Cabe dizer por fim que a saga se presta a instigar a curiosidade pelos mitos originais, ainda que eu realmente ache que uma das coisas mais legais na saga é justamente (para quem os conhece) reconhecer a forma criativa com que o autor se vale desses mitos.