Juliana Cardoso 03/07/2012Hitler - Joachim Fest. Volume 1.O livro de Joachim Fest é muito bem escrito e impressiona a riqueza de detalhes.
Recomendo o livro aos amantes da História e pesquisadores, pois a leitura exige conhecimento histórico e torna-se, em certos momentos um pouco cansativa.
O livro é dividido em 4 partes e 2 inserções, sendo elas: I Vida Sem Objetivo; Primeira Inserção – A Grande Angústia; II O Caminho da Política; III Anos de Espera; IV Tempo de Luta. Segunda Inserção – Catástrofe ou Conseqüência?.
Essencial para compreender não somente a vida de Hitler, mas também todo emaranhado de fatos históricos que compunham a época antes e pós Primeira Guerra Mundial.
A primeira parte (Vida sem Objetivo) é dividida em 5 capítulos que são: As Origens e a Partida / O Sonho Desfeito / Alicerces de Granito / Fuga para Monique / Redenção pela Guerra. Tais capítulos tratam das origens de Hitler, até o momento em que ele combate na Primeira Guerra Mundial.
A segunda parte (O Caminho da Política) é dividida em 4 capítulos que são: Parte do Futuro Alemão / Triunfos Locais / Desafiando o Poder / O Putsch. Tais capítulos tratam do nascimento do Partido Nazista até a tentativa de golpe no Estado.
A terceira parte (Anos de Espera) é dividida em três capítulos que são: A Visão / Crise e Resistência / Dispositivo para Combate. Tais capítulos tratam do período em que Hitler ficou preso após o golpe fracassado, e a crise enfrentada pelo partido durante essa prisão.
E a quarta e ultima parte (Anos de Espera) é dividida em 5 capítulos que são: Ingresso na Grande Política / A Avalanche / Às Portas do Poder / No Objetivo. Tais capítulos tratam do ganho que o Partido Nazista obteve após a crise da bolsa de valores de NY até o momento em que Hitler é declarado chanceler.
Hitler provém de uma região muito pobre do Império Autro-Húngaro, de população essencialmente camponesa e católica, onde casamentos consanguíneos aconteciam naturalmente. Desde o princípio, quando Hitler ainda era um jovem pintor, e sonhador, ele procurava esconder suas origens e idealizar personagens para si. Seu pai era funcionário alfandegário de categoria mais elevada, e queria que o filho também fosse funcionário público, o que Hitler sempre recusou. Sobre seu pai, Hitler o descreve como beberrão o que não era verdade.
Hitler fracassou em toda sua vida escolar, o que dificultou a realização do sonho de ser artista e pintor. Procurou também ingressar na Escola de Belas-Artes na cidade de Viena, o que foi impedido por diversas vezes. Isso gerou nele uma grande frustração e uma ambigüidade: odiava a classe elitizada por não aceita-lo, mas ansiava fazer parte dela.
É na cidade de Viena que Hitler recebe sua formação ideológica, tratando essa formação, por ele mesmo, como seus alicerces de granito. Essas ideologias provinham do maestro de óperas Richard Wagner da qual Hitler se espelhava, e mais tarde das doutrinas do Darwinismo Social. Durante esse período, Hitler morou em um albergue para desabrigados, e pintava quadros que era vendido por um de seus colegas de quarto, após um desentendimento com o mesmo, os quadros passam a ser vendidos por ele próprio, ou por outro colega que era judeu. Antes do contado com as ideologias do Darwinismo Social, Hitler demonstrava-se totalmente apolítico, sozinho, e até aí não era anti-semita. Foi acusado de insubmissão por fugir das obrigações militares, e levado por um policial para a Áustria a fim de dar explicações. Apesar de fugir das obrigações militares na Áustria, mostra-se demasiadamente animado com o início da Primeira Guerra Mundial, a ponto de solicitar ser admitido como voluntário num regimento alemão, sua solicitação foi aceita. Lutou em batalhas importantes e demonstrou bravura e coragem, pois foi condecorado pelo menos três vezes, apesar de o mesmo nunca tocar no assunto “para evitar admitir que devia aquelas distinções à interferência do major ajudante do regimento, Hugo Guttman, que era judeu”.
Apesar da guerra, continuava uma pessoa distante em seus pensamentos e devaneios. Segundo ele, a Alemanha havia perdido a guerra devido à propaganda ruim. Já no final da guerra, à 13/14 de outubro, Hitler ficou exposto a um intenso bombardeio de granadas tóxicas que o deixou cego temporariamente. Ficou internado em um hospital, e foi lá que recebeu a notícia de que a Alemanha havia perdido a guerra e sofrido uma revolução, e que “o Reich nada mais tinha a fazer senão confiar de maneira incondicional na magnanimidade de seus antigos inimigos”. Foi um choque para toda a Alemanha e também para Hitler, porém é nesse momento que ele parte para a vida política. Somente aos 30 anos de idade.
PRIMEIRA INSERÇÃO: A Grande Angústia.
GRANDE ANGÚSTIA trata do sofrimento europeu após o fim de seu sistema tradicional de domínio, e o sofrimento alemão diante da revolução, da União Soviética, e do liberalismo democrático. Todas essas aflições e angústias resumiam-se na personalidade de Hitler. O capítulo termina por explicar o que era, e o que ansiava o Fascismo que cultuava o conservantismo e o passado em geral, para fazer frente ao liberalismo, caracterizado por eles como “declínio espiritual”. Rejeitava-se também o racionalismo “que reconhece senão o intelecto e não percebe que a alma e o direito do sangue devem dominar o destino do povo e do Estado” – eis aí também um argumento racista contra todo o movimento liberal. Hitler julgava apenas um culpado por tudo isso – o Judeu, essa era a grande diferença entre ele e todos os outros fascistas da época.
A partir de todas as angústias e sofrimentos, com os objetivos fascistas e racistas, nasce o Partido dos Trabalhadores Alemães, e Hitler envolve-se definitivamente na política, embora ainda dissesse ao seu próprio respeito que era pintor, escritor ou comerciante até mesmo após a primeira reunião pública do partido. Mostrou-se totalmente animado após essa primeira reunião devido à sua aptidão em discursar e principalmente, após a primeira grande manifestação do partido para aproximadamente 2000 pessoas, quando estas interrompiam Hitler por aplausos e vozerio, após a leitura do Programa do Partido que obtinham características anti-capitalista, anti-marxista, anti-parlamentarista, anti-semita e contra a maneira pela qual a guerra fora encerrada e suas consequências. Após isso, o partido muda seu nome para Partido dos Trabalhadores Alemão Nacional-Socialista e adota a cruz suástica como emblema. O partido recém formado cresce rápido. Crescimento este, todo de responsabilidade de Hitler que é um ótimo orador, que conseguia instigar na população grande ódio pelo sistema vigente – a república e a vergonha do Tratado de Versalhes. O partido conseguiu reunir a simpatia da burguesia temerosa da inflação, e a força da classe operária.
O culto à personalidade de Hitler, e a adesão à sua imagem começam a aparecer neste momento o que o aproximou da vida tão sonhada em sua juventude - a de ser um artista; e o fato de que, estranhamente não mudara durante todo esse período, não manifestando “uma só tendência à renovação, uma experiência pessoal. Hitler sempre permaneceu aquilo que fora um dia, imóvel, e como petrificado.”.
O partido de Hitler procurava desafiar a atacar o poder republicano instaurado na Alemanha; devido a isso, Hitler teve que cumprir quatro semanas de prisão dos três meses a que fora condenado, a fim de que o mesmo compreendesse os “limites de tolerância das autoridades”.
A Alemanha neste momento está vivendo uma crise tremenda, onde a inflação toma proporções catastróficas e diversas revoltas explodem em toda a parte urbana.
A veneração à imagem de Hitler aumenta e toma forma de culto, tomando seu ponto culminante na segunda quinzena de abril, por ocasião de seu aniversário.
Devido à situação alarmante de todo o país, nota-se que “milhares de homens estavam na expectativa de quaisquer instruções” – PG. 193. Surge o receio de futuramente não conseguir conter mais os homens ávidos de uma revolução contra a república, homens desempregados, famintos, desnorteados que apresentavam a Alemanha em 1923. Tudo indicava ao partido que um Putsch era a saída para todos os problemas, então começam a organizá-lo para o dia 09 de novembro de 1923, liderado por Hitler. Uma primeira barreira policial tentou barrar a marcha dos revolucionários, sem êxito. Uma segunda conseguiu parar-lhes com uma fuzilaria. Diversos mortos e feridos, Hitler, aproveitando da algazarra formada, conseguiu escapar numa ambulância, abandonando a todos que estavam em meio àquele caos que fora liderado por ele e, anos mais tarde justificou essa atitude afirmando que “teria salvo uma criança abandonada em meio à fuzilaria”, justificativa que foi desmentida mais tarde. O fracassado Putsch rendeu a Hitler o veredicto que previa a pena de no mínimo cinco anos de reclusão e a aclamação da multidão, que passou a unir-se e manifestar fortemente em seu favor. Além disso, trouxe uma concepção mais madura de política a ele, que pouco a pouco, mudou seu discurso violento visando uma ligação com o poder a fim de ganhar crédito.
Hitler, apesar de ter sido condenado a 5 anos de prisão, recebeu anistia passados pouco mais de 6 meses por bom comportamento. Apesar de ter ficado pouco tempo, foi na prisão que ele passou, de fato, a assumir uma postura messiânica – o salvador da Alemanha. Recebera volumosas correspondências na prisão, e foi homenageado pelo seu aniversário. Seus colegas ocupavam-se na manutenção da limpeza de seu quarto e paravam para ouvir suas palavras. Foi durante esse período que Hitler se ocupou a escrever o primeiro volume de seu livro Mein Kampf, livro este que contém sua ideologia antissemita e racista. Hitler, ao escrever o livro, preocupava-se em não fazer citações, pois queria demonstrar-se autodidata.
É a partir da prisão do líder, que o partido sofre uma crise causada principalmente após a Alemanha começar um período de estabilização da moeda após o empréstimo feito pelos EUA. “Cessara a excitação do ano anterior, dissipara-se a histeria, e a exaltação dera lugar ao morno desenrolar da vida cotidiana.” – PG. 242.
Apesar de seu triunfo perante o tribunal, Hitler cai em descrédito, passando a ser esquecido e ganhando ares de político fracassado, porém continuava mostrando dentro do partido intransigência e exigia de todos submissão absoluta. Toma atitudes a fim de reorganizar o partido, e resiste perante seus adversários políticos. Continua com sua visão sonhadora de mudar o mundo e não demonstra desânimo ou resignação apesar das circunstâncias demonstrarem-se totalmente contrárias a ele. Muda-se para uma casa alugada, e chama sua meia irmã Angela Raubal, para tomar contra desta casa, é neste momento em que conhece sua sobrinha Geli, pela qual se apaixonara.
Após a saída da prisão, Hitler começa imediatamente a reorganizar o partido e reconquistar a autoridade que havia sido perdida durante o período em que estivera preso. Organiza definitivamente a SA, que deveria ser acima de tudo, um “instrumento de propaganda e de terror político” PG. 266. Das ideias socialistas serviu-se por pura conveniência, não abraçando nenhum de seus ideais. O Partido fora forçado a procurar novos adeptos devido à estagnação. Parte então, a falar aos camponeses.
Os ciúmes de Hitler para com sua sobrinha aumentam durante esse período.
A situação não é nada propícia aos desejos de mudança representados no Partido, porém, é devido à Crise da Bolsa de Valores de NY que o Partido ganha novas forças. Hitler faz alianças, passa a investir em propaganda, e começa a demonstrar um estilo de radicalismo e violência sem par; aí na propaganda pode citar seu exibicionismo – pensava no efeito, e calculava o que seria popular. Aproveitou a crise econômica, onde os desempregados na Alemanha ultrapassavam três milhões. Não possuía plano ou qualquer teoria sobre a crise, porém sabia muito bem apontar os culpados.
O partido cresce muito e ganha milhares de adeptos. O grande número de cadeiras conseguidas pelo partido soma-se à rejeição que o povo tinha em relação à República. O resultado dessa vitória pelo partido Nazi foi por muitas vezes descrito como uma “avalanche”. O partido demonstra uma ambiguidade inquietante referente à legalidade, pois as SA transformara-se em um exército maciço que espalhava uma atmosfera de paralisia e terror, que serviu ao propósito de instituir uma ditadura.
Os atos de violência dos nazis e comunistas, ambas contra a polícia mostravam até que ponto estava minada a autoridade do Estado. Em vez das autoridades prenderem Hitler, queriam negociar. Nota-se mais ainda a ineficácia do poder do Estado e da República, e no final, as divergências de opinião dentro do governo, faziam aumentar a confiança de Hitler, que de modo algum aceitava os acordos oferecidos.
Para o Partido, estava cada vez mais difícil manter-se na legalidade.
São expostas as questões referentes ao suicídio de Geli Raubal, o estranho relacionamento de Hitler com as mulheres, e a facilidade que ele tinha em doutrinar a massa, e trata-la como uma fêmea. Interessante analisar como o autor coloca o caráter sexual nos comícios de Hitler, quando ele conduz as massas ao êxtase.
Após tantas idas e vindas, o partido sofre nova invertida. Sua baixa, perda de cadeiras e a grande falta de dinheiro deixavam o partido a ponto de extinguir-se. Em novembro de 1932, o número total de desempregados era de 8,75 milhões, e o país entra em mais um inverno de sofrimentos. Hitler demonstra-se demasiadamente nervoso diante da ameaça de extinção do partido. “Se o partido desmoronar, em três minutos acabarei comigo com uma bala de revólver” – Hitler.
O que fez com que o Partido Nazi subisse novamente foi a aliança entre Hitler e Franz Von Papen – esse encontro foi chamado com razão de o nascimento do terceiro Reich, e a situação financeira do partido tem uma súbita melhora.
É a partir daí, que Hitler visa a Chancelaria. Pressiona o filho do presidente, chantageando-o com intrigas referente à corrupção, e o caminho se abre para Hitler.
Hitler é declarado novo chanceler em 30 de janeiro de 1933.
SEGUNDA INSERÇÃO: Catástrofe ou Consequência?
CATÁSTROFE OU CONSEQUÊNCIA traz reflexões do autor referente à pergunta: O partido Nazi e Hitler fora uma catástrofe ou uma consequência na Alemanha?
Compara o fascismo alemão com o de outros países e chega à conclusão de que nunca, o nacional-socialismo seria o que foi sem seu grande personagem - Hitler.