juliaalves 09/09/2020
O amor é sexualmente transmissível /poemas escritos com bile
"O que acontece é que, quando estou com você, eu me perdoo por todas as lutas que a vida venceu por pontos, e me esqueço completamente que gente como eu, no fim, acaba saindo mais cedo de bares, de brigas e de amores para não pagar a conta."
Em uma cidade-cenário que passa por uma corrida do ouro (mineradora, garimpeiros, conflitos), um casal apaixonado protagoniza cenas (+18) de um amor 'proibido'. Numa narrativa que mescla presente e passado sem nenhum aviso prévio, o autor brinca com o espanto do leitor: muitas vezes surge uma pergunta e a história parece entregar a resposta logo no parágrafo seguinte, mas na verdade é uma resposta de outra pergunta no lapso temporal. Assim, te dar surpresas página a página é um dos encantos desse livro. Mas Maçal não se resume a isso. Queria destacar duas coisas ainda, a primeira é a forma que os personagens foram construídos - explicar seu passado e seus traços psicológicos os tornaram reais, humanos e compreensíveis, com isso Maçal destrói a moralidade (literalmente) e desperta empatia do leitor. A segunda, e talvez a mais curiosa, o autor cria uma obra paralela (O Que Vemos no Mundo: Um Tratado sobre o Amor Humano, de Benjamim Schianberg) e cita trechos incríveis, que em um primeiro momento me fez consultar no google para procurá-lo e ao terminar o livro ficou uma vontade enorme de que ele realmente existisse. Tudo isso sem contar na linguagem poética que conduz o leitor desde 'O amor é sexualmente transmissível' até as últimas páginas de 'poemas escritos com bile'. Uma obra profundamente triste e bela. Terminei a leitura, e abracei o livro.
Obs: queria enfatizar esse título, um dos mais bonitos que já vi, e mais ainda a grandiosidade da tão subestimada literatura nacional (em especial, nacional contemporânea). Esse livro prova isso na sua completude.