livrodebolso 14/10/2019
A agradável narrativa de C. Clarke nos apresenta uma discussão inusitada como pano de fundo de um sci-fi que, percebo, se repete em sua obra. Existe a introdução maravilhosa (para mim, a beleza do enredo do autor se mostra sempre nos primeiros capítulos), acontecimentos que servem apenas para nos conectar ao clímax em situação perigosa envolvendo criações tecnológicas x erro humano e um final aberto, encerrando todo o conteúdo com uma frase ou questão assombrosa. Foi assim em 2001, e no perfeito O Fim da Infância, ambos resenhados no Livro de Bolso.
Pois bem: o início intercala uma lenda que determina toda a crença e cotidiano de um povo, e sua repercussão no futuro, três mil anos após, quando um engenheiro aparece para construir um elevador da Terra até o Espaço. Os monges (budistas) não gostam da ideia e oferecem resistência, enquanto o cientista afirma que, por questões geográficas, o único lugar possível para instalação do elevador é o topo da montanha sagrada.
As discussões seguem e o projeto é negado, até que algo considerado místico acontece por acaso e os monges cedem, abandonando o local anteriormente tão importante.
O ponto mais crítico de toda a leitura foi este: uma lenda é capaz de designar o comportamento de uma população, por mais irracional que pareça (sendo eu cética com relação a tudo, realmente não entendo quando coisas assim acontecem, e são bastante comuns!). O elevador é criado e toda carga (humana inclusive) sobe e desce pelas finas linhas altamente modernas e resistentes e Morgan, o idealizador, segue realizado; até que um acidente o coloca em situação de risco e o obriga a agir perigosamente.
Em paralelo, uma figura interplanetária faz contato com a Terra e observa os humanos.
A grande elocução de impacto, se dita nesta resenha, será spoiler, mas certo é que, se de fato algum ser de outro planeta tentar entender o homossapiens da perspectiva de fé e religião, bastante dificuldade se notará, visto que o apego ao mito é, em todo o sentido, absurdo. Terráqueos são capazes de pautar toda uma vida em uma promessa dada por alguém de quem nem se pode provar a existência. Estranho, de fato.