Muna.Mendes 24/02/2023
Engata a Primeira Marcha e Acelera
Alternando entre os pontos de vista do detetive aposentado e o assassino da Mercedes, Stephen King trabalha uma investigação policial -- no mínimo -- admirável. Ausente de figuras sobrenaturais de qualquer tipo, Mr. Mercedes toca a distorção da mente humana em sua forma mais brutal e crua.
Brady Hartsfield é a própria definição de um narcisista psicopata: ele se vê como uma inevitável vítima das ocasiões, onde todos os seus comportamentos e toda a volatilidade que carrega são consequências imprescindíveis da vida que teve e das pessoas que nela se fizeram presentes. Além de odiar tudo e todos (exceto, e esse é um grande talvez, Frankie e Debbie), Hartsfield se julga melhor do que as pessoas ao seu redor. Kermit William (Bill) Hodges se vê preso em um purgatório após encerrar sua carreira como detetive policial. É a soberba de Hartsfield, para a infelicidade desse, que o faz recuperar o brilho nos olhos e entrar em ação novamente. A carta é o seu impulso para que todas as engrenagens voltem a funcionar.
A trama se desenrola nessa perseguição frenética de gato e rato, no qual a caça vira o caçador e a adrenalina se estende desde a primeira página até o último parágrafo. Os capítulos de investigação são desacelerados em oposição a corrida contra o tempo das partes finais; essa escolha de narrativa faz com que o leitor se sinta incluso no pequeno grupo investigativo e ao mesmo tempo o limita a observar a operação, enquanto tem uma visão direta e clara do passo-a-passo de Brady.
Mr. Mercedes é uma narrativa repleta de desenvolvimentos esperados equilibrados com surpreendentes ápices de clímax, personagens complexas e com espaço para crescimento dentro da própria história, corretamente aproveitados pelo autor. Não pela primeira nem pela última vez, uma das obras de Stephen King aluga 2 triplex na minha cabeça.