R...... 30/07/2018
Edição publicada pela Nova Cultural, em 2003
Essa é uma leitura que gostaria de estender em adaptações em quadrinho, animação, documentário e filme, algo que ajuda a entender melhor, mas na ausência, fiquei só com o pouco entendimento na leitura do livro e em comentários que consultei em alguns vídeos e textos. Em livros como esse, em paralelo, vou usando desses artifícios para não ficar muito perdido, o que não é difícil se não tivermos um mínimo de conhecimento do contexto da obra. É o que penso e como foi minha leitura.
Algumas coisas são óbvias, como a inspiração nos clássicos de Homero, em que Virgílio enaltece a cultura e história romana nos moldes do que Homero fez com os gregos em Ilíada e Odisseia.
Na Ilíada, em termos gerais, junto com o drama romântico, podemos também concluir a consolidação da hegemonia dos gregos na região, derrotando o que era seu maior adversário no contexto: Tróia. Isso se reflete em Eneida, pois também vemos uma batalha final, em que o troiano Enéas derrota também um adversário, Turno, após várias conquistas desde a fuga de Tróia até chegar na Itália, no Lácio, consolidando a gênese dos romanos. E tal qual Ilíada, em que o estopim teria sido a disputa por uma mulher (será que preciso registrar o nome de Helena?), Lavínia é a disputa da vez entre o troiano e o latino, com consequências de representatividade histórica. O combate entre eles me fez lembrar o de Heitor com Aquiles, em que o segundo ganhou com uma vantagem mitológica quase covarde, pois além de semideus, tinha armadura e armas especiais forjadas por Hefesto. Na batalha na Itália, a semelhança está nas armas de Eneas, que foram entregues pela deusa Vênus (armas especiais também, seu escudo).
Na Odisseia percebemos os gregos também reafirmando sua hegemonia na terra, pois Ulisses é um herói vencedor e conquistador por onde passa, reafirmando seu poderio local. Eita! As duas obras somam quem é que tem o poder "aqui e ali" (o bonzão do pedaço em casa e fora dela, nos limites da terra e além deles nas adjacências), com o perdão do paralelo besta, mas que não poderia deixar de registrar em minha tênue percepção. Tem desse lance de conquista na terra, por onde passa, em relação a Enéas e, por extensão, aos romanos. O troiano se depara com alguns mitos e povos descritos por Homero, descendo o cacete também em todo mundo. Entre os descritos, posso citar o gigante Polifemo (aquele que teve o olho furado, mas não por mexerem com sua gata, né!) e rainhas como Dido.
Taí a inspiração e é lógico que o livro tem sua identidade própria. Entre as aventuras, fiquei com a sensação em um dos cantos (que são doze ao todo) da narrativa da perseguição de uma baleia ao navio de Eneás e isso ilustra porque preciso de apoio durante a leitura, pois posso entender de um jeito, mas a história estaria se referindo a outra coisa? Era uma baleia, um monstro, ou o que mais?
Diferente dos clássicos de Homero, o texto é fluido e mais fácil de entender, pois originalmente não tem rigor na questão de rimas, parecendo uma prosa. Ih, pega uma Ilíada, por exemplo, numa versão clássica enaltecida que tu não vai entender patativas sem várias leituras.... Foi o que tinha feito com uma versão que dizem fodástica (publicada na Martin Claret) e fiquei tonto, precisando depois de uma adaptação em prosa, que é, em termos práticos, uma característica de Eneida.
Em linhas gerais, quando Tróia está em seu apocalipse grego, Enéas foge com seu filho e alguns soldados, aventurando-se no Mediterrâneo até se estabelecer na Itália.
Dos 12 cantos, gostei mais do segundo e do sexto. Talvez os mais famosos pois, respectivamente, é onde se descreve a história do Cavalo de Troia e sobre a descida de Enéas ao inferno para reencontrar Dido.
Quando li a Ilíada fiquei decepcionado, em minha ignorância, por não ter encontrado a história do cavalo, citada brevemente em Odisseia. Ah, mas nesse segundo canto tem os detalhes que mitificaram o cavalo e queria saber. Me pareceu também que Virgílio (romano) dá uma cutucada nos gregos, pois vilaniza Ulisses (o cabra escroto que idealizou a armadilha) e o Aquiles (o cabra da peste que barbarizou vários troianos, incluindo parentes de Enéas). Registre-se que esse troiano era casado com uma das filhas de Príamo e seu pai era parente também do rei.
No capítulo seis, em que Enéas vai no inferno (inferno romano, como lugar dos mortos) tem o contexto de ser inspiração para a Divina Comédia, de Dante, em que o poeta passa pelo inferno também (mas já com mistura à visão cristã) em busca de sua amada. O que chamou minha atenção não foi a importância do contexto, rotineiramente citado ao se falar da obra, mas da relação entre Enéas e Dido. Vou usar essa história, em estudos ou ocasiões favoráveis, para falar da miséria do suicídio. É o que vemos na narrativa, pois Dido suicidou-se num drama romântico por ter sido abandonada pelo troiano. Enéas fica comovido e tenta reencontra-la, nem que seja no além (e é o que faz, ajudado pelas artimanhas da mitologia greco-romana), e reencontra a finada. Mas há algo estranho, ela está catatônica, não liga pra ele e até mesmo foge. É como se estivesse envolta em um pensamento, tipo assim: mas que merda eu fiz! Onde eu estava com a cabeça! (pois é, me desculpem minha interpretação maluca, mas é o que senti na leitura, no paralelo do drama romântico com a consequência). Será que deu para sacar onde vou usar essa história como ilustração?
Ah, já li a Divina Comédia, só que tem um tempão e não lembro do reencontro. Quero relembrar o que Dante escreveu ou não na visão do antigo casal.
Algumas partes achei enfadonhas, pelo fato de me perder na leitura, não entendendo algumas coisas, porém, ao final, vi que a leitura foi produtiva, interessante, reveladora e mais instigante que estressante.
No YouTube tem uns filmes e animações de Eneida, mas em espanhol (passo). Será que a EBAL quadrinizou ou tem alguma outra HQ que no momento não conheço? Venha... Venha até mim... Venha....