antuan_reloaded 27/05/2023
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Publicado dois anos antes de sua morte, "Relíquias da Casa Velha" (1906) reúne sete contos que giram em torno da finitude da vida. Depois dessa curiosa coletânea, Machado publicaria apenas seu último romance, "Memorial do Aires", em 1908.
Assoladas pelo luto, as linhas dessa obra carregam um tom extremamente fúnebre, banhadas pela aniquilação, a ruína e o pessimismo. A começar pelo soneto de abertura, dedicado à esposa, todos os contos direta ou indiretamente tratam da morte.
São mortes diversas: aborto, assassinato, súbita, em combate, apoplexia, arma de fogo, causas naturais e até um possível suicídio. Com isso, condensa-se o pessimismo, reforçado pelo inerente luto que Machado carregaria consigo até o túmulo.
Além disso, são contos que marcam politicamente o seu instante. Há sempre menções a insurreições. Liberais, republicanos, revolucionários, circulam aqui verborragicamente. O conto "Evolução" escangalha isso e as linhas "O Brasil está engatinhando; só andará com estradas de ferro", podem ainda ser sentidas hoje, um século depois.
Em suma, Machado nunca esteve tão afiado como agora. Sua forma irônica de lidar com questões humanas está no seu auge e, intensificada pela desesperança, não mede esforços para cutucar e denunciar a hipocrisia burguesa da época. "Pais contra Mãe", "Maria Cora" e "Pílades e Orestes" são excelentes exemplos disso.