joaoggur 31/05/2024
O tempo de sonhar é em cima da terra.
Quando um livro nacional & contemporâneo se torna best-seller e/ou muito bem comentado pela ?crítica especializada? (com aspas de tamanho astronômico), sempre fico com o pé atrás. Ao saber que a primeira ideia desta história surgira numa oficina ministrada por Gabriel Garcia Marquez, acabei decidindo dar uma chance. Valeu a pena.
Começamos ao acompanhar Samuel, que uma vez tendo perdido sua mãe [Mariinha], peregrina durante dias até a cidade de sua avó (que ele nunca conheceu), chamada Candeia, em busca de seu pai (que ele também nunca conheceu). Após uma porrada de percalços, ele acaba indo morar n?uma grande cabeça de santo, na periferia da minúscula cidade, - e lá dentro? ah, lá dentro. Aí começa o tal do realismo mágico.
Qualquer sinopse-de-um-parágrafo será inócua para realmente falar consistentemente sobre o livro; acredite, são 176 páginas frenéticas. Parece que estamos vendo um filme do Wes Anderson se passado no Nordeste; as coisas mudam em uma questão de uma linha, de um parágrafo, de uma virada de página (interprete ?as coisas? como cenários, relações entre personagens, diálogos?). O que por vezes deixou a leitura fluída (autores um pouco mais sisudos/classicos como Jorge Amado ou Graciliano Ramos, se idealizassem essa história, iriam desenvolve-la com o quádruplo de páginas), por outras, acabou sendo danoso a obra; tudo é muito efêmero, deixando o leitor genuinamente cansado e até, por vezes, confuso.
E não poderia não citar a primorosa habilidade de Socorro Acioli na criação de cenários (ponto alto da obra); provou que não é preciso uma pluralidade de palavras e/ou páginas para descrever um local. Conseguia imaginar cada cenário, cada cidade, cada cômodo, tal como os personagens, - esses, infelizmente, não possuem profundidade; são rapidamente introduzidos e retirados da obra, em momentos por conveniência do roteiro, e por outras por simples encheção de linguiça.
Entretanto, creio que a maioria dos problemas são sobrepujados por uma narração única e lindíssima, que consegue nos transportar para um mundo próprio, - particularmente, a cada vez que eu abria aquelas páginas, era como se viajasse para aquele mundo, uma realidade que não quis dar adeus. Ler é prazer, - e foi uma experiência prazeirosa.