Quincas Borba 10/08/2023
A velha e solitária velhice...
"Memorial de Aires" é o último romance de Machado de Assis, lançado em 1908, mesmo ano de sua morte. O enredo simples acompanha um memorial escrito pelo Conselheiro Aires, personagem do romance anterior "Esaú e Jacó", que narra seu dia a dia e acontecimentos.
"Memorial" é o último romance de Machado, e isso se mostra na sua escrita: foi escrito para ser o último. E aqui o autor retrata a solidão de Aires, bem como seu "confronto" com a velhice e a morte. Falo "confronto" com estas aspas pois o conselheiro não teme a morte: ele já a aceita, e parece a esperar pacientemente. Então, enquanto espera, relata eventos.
Vemos o desenvolvimento do casal Tristão e Fidélia, bem como a rotina do casal Aguiar, que espelha o casal Assis. Me pergunto o quanto dos mínimos detalhes sobre Aguiar e d. Carmo foram baseados em Machado e sua mulher, d. Carolina (morta alguns anos antes do lançamento do livro).
E, como último romance escrito por Machado, me senti em algumas partes como se fosse uma retrospectiva das obras de Machado. Temos o retorno da mulher forte e decisiva machadiana na figura de Fidélia, espelhando a fase romântica, junto de uma inocência, ainda com toques de pessimismo e ironia de Aires, remanescente do realismo de Machado. E são diversas frases e momentos, como Aguiar falando do cachorro morto, que me lembram de "Memórias Póstumas", "Quincas Borba" e "Dom Casmurro".
A escrita é bem leve e fluida. Dá para sentir o que o Conselheiro Aires passa no momento: sua apatia para com a vida e o remorso da velhice.
E acho um ótimo livro para terminar a carreira de Machado. Que autor incrível. Depois dessa saga dos romances, pretendo ler "Casa Velha" e seus contos.
Viva Machado!