Thiago662 06/01/2022
"Se este é o melhor dos mundos possíveis, como serão os outros?" (6/1/2021)
Nunca tinha lido nada aprofundado de Voltaire e que texto! Consegui entender um pouco mais sobre o século XVIII, sobre as discussões filosóficas e sobre o que defendia um "luminista".
Cândido foi criado na crença filosófica de que Deus havia criado o melhor dos mundos possíveis e que tudo tinha um motivo para acontecer ou existir. Voltaire, contrário a essa ideologia em voga no XVIII, não deixaria barato e mostraria, por a mais b, que o nosso mundo é uma merda (e talvez, veja, já se passaram uns bons três séculos, pouca coisa mude com o tempo).
Cândido, bastardo, sem comprovar as 70 gerações de nobreza (kkkk), se apaixona pela filha do barão, seu protetor, e logo é expulso do "paraíso". A partir daí é crítica sobre crítica, a tudo e a todos, a países e pessoas, a filosofias e religiões. Nada escapa da pena de Voltaire e temos passagens hilárias, porém tristíssimas sobre a ausência de liberdade, crueldade humana, ganância, egoísmo.
Dois eventos parecem exercer maior influência sobre a escrita do livro. O grande terremoto que matou milhares de pessoas em Portugal, em 1755, e a Guerra dos Sete anos que corroeu a Europa. Brasileiro que somos como não rir da passagem de Cândido por Portugal? Tem um problema? Queime alguém, que Deus escutará nossas preces. A mácula dessa colonização nos persegue ainda hoje no Brasil fanático.
Na América temos passagens ácidas sobre a colonização:
Cacambo analisando os jesuítas solta essa pérola: "Los padres têm tudo lá e as pessoas não têm nada. É a obra prima da razão e da justiça".
Em uma das fugas encontram um escravo com metade das roupas, sem um braço e sem uma perna. Horrorizado Cândido questiona quem havia feito aquilo e a resposta simples: o senhor, "é por esse preço que vocês comem açúcar na Europa".
Haveria muito mais, mas, se eu puder dizer mais alguma coisa, recomendo que leia.
E a edição da Antofágica? Tudo muito lindo!