@garotadeleituras 02/01/2017
A odisseia de Cândido e o seu otimismo.
-Vamos para outro universo – dizia Cândido -; talvez seja neste que tudo está bem. (p.40)
Cândido ou o otimismo foi escrito em 1759, num tempo prodigioso de três dias e posteriormente, uma das obras mais conhecidas do autor. Permeada por uma sucessão de acontecimentos, ou melhor dizendo, desgraças, massacres e suplícios, um após o outro, no qual é quase impossível respirar; Esse Conto de Voltaire busca questionar uma reflexão filosófica bastante evidente daquele período: a origem do mal no homem, pondo em discussão correntes como a de Leibniz, no qual Deus estava isento de qualquer culpa.
Na sátira figura de Pangloss, a escolha de Deus seria sempre a melhor, as coisas sempre aconteceriam da melhor maneira possível e deveríamos enxergar esse melhor em todas as circunstâncias, inclusive a própria sociedade onde o jovem protagonista vive, com todos os seus defeitos é visto como o melhor lugar do mundo. E é exatamente essa ideia que Cândido absorve do seu mestre nos primeiros ensinos quando ainda residia no castelo de Vestfália. Após a expulsão, por beijar a jovem Cunegundes atrás do biombo, Cândido desamparado, começa sua própria odisseia, onde poderá vivenciar a teoria do otimismo na própria pele. A narrativa é vertiginosa, com tragédias sucessivas, em capítulos curtos, o que deixa a estória ágil e desperta a curiosidade do leitor.
Vários acontecimentos mundiais são citados e compartilhados durante a peregrinação de Cândido, como a Guerra dos sete anos entre a França e a Prússia, o terremoto de Lisboa, os auto da fé, uma viagem pela América do Sul, a visita a Eldorado e seu retorno não menos impregnado de tragédia para a Europa. Veja bem, em nenhum lugar os personagens que vão somando-se a comitiva de Cândido estão a salvo da desgraça. Os próprios desastres irão chocar constantemente com as ideias do mestre Pangloss, o que acaba por vezes tornando-se engraçado, e começa a surgir as dúvidas sobre esse otimismo tão impregnado. O infortúnio constante desses personagens, que morrem e depois reaparecem, marcados pelos acontecimentos de outrora vão pontuando ao longo da narrativa desconstruindo a corrente do mestre Pangloss, onde muitas vezes Cândido perdido, pergunta o que o mestre aconselharia, porque veja bem, essas desgraças não são pequenas viu!
Quando nosso herói chega a Eldorado e conhece a plenitude, resta agora procurar os motivos de contentamento e sabedoria para enfrentar o mundo real. Além de Cacambo, Cunegundes, a velha, surge outro personagem que vem contrabalancear esse otimismo, Martinho, este é representante da corrente maquineísta, que em contraponto, defendia que Deus criou tudo que é bom, mas há no homem e no universo um principio mau, não atribuído a Deus. Mas eis o que Cândido aprende depois de toda desgraça:
“Mas temos que cultivar nosso jardim.” (p.137)
Ou seja, mesmo com as grandes questões filosóficas, estas não devem impedi-lo de viver sua vida e cuidar das suas coisas. Ao invés de aceitar tudo na vida, levante e faça sua parte! Livraço, leia!!!