Bíh948 23/03/2024
"? O que é otimismo? ? perguntou Cacambo. ? Ai de mim! ? disse Cândido. ? É o furor de defender que tudo está bem quando estamos mal."
Há alguns anos atrás tive contato pela primeira vez com essa obra, através de um "Aulando Livros" que meu professor de filosofia dava durante o ensino médio. Ele contava a história de uma maneira super interativa e fácil de entender. Me lembro até que me usou de exemplo para ser a Cunegunda (ou Cunegundes no original) e eu achei aquilo muito divertido. Lembro também do quanto aquela aula me deixou reflexiva.
Agora, alguns anos depois, já na faculdade e querendo me aprofundar mais em leituras de filosofia, que sempre foi algo que me encantou, eu me deparei novamente com esse livro.
Apesar de ser contado como uma sátira e ter várias situações bem cômicas, esse livro é muito pesado, porque te faz questionar tudo sobre a sua existência. O mundo é intrinsecamente bom ou ruim? E por que o é? Se Deus é bom e criou o mundo à sua semelhança, então o mundo também é bom? Então todas as coisas ruins que acontecem todos os dias são para um bem maior? E se o mundo não é bom e Deus não faz nada quanto à isso, então Deus é ruim? Ou foi o homem que corrompeu o que havia de bom no mundo? São algumas das várias perguntas que me fiz.
O conto traz várias críticas à religiosidade, à escravização da população negra, à subjugação das mulheres e dos pobres, entre outros, que se utilizam de uma moral cristã como modo de dominação política e social. Se utilizam do otimismo como modo de apaziguar qualquer tipo de questionamento ou retaliação dos oprimidos contra os opressores. Afinal, esse é o melhor dos mundos possíveis, e tudo acontece por uma razão, e quando você morrer você será recompensado no céu pelo seu sofrimento em terra, e assim a vida segue...
Achei a linguagem fácil de entender, acredito que muito por conta da tradução. As imagens eram incríveis e eu adorei que o artista trouxe elementos modernos para serem comparados à narrativa, como aquela imagem do jorrnalista "enforcado" pela ditadura empresarial-militar. A história em si é muito interessante pelo seu teor filosófico, mas confesso que às vezes acabava ficando um pouco repetitiva, principalmente quando os personagens "morriam" e depois apareciam vivos umas duzentas vezes kkkkkk
O Cândido é um personagem bem intrigante. No final, parece que ele cria um certo senso crítico, mas durante a maior parte do livro dá pra ver que ele se prende muito à presença de algum "guru", alguém para lhe dizer o que fazer e pensar. Quando isso não acontece, ele se sente perdido. A ingenuidade dele em vários momentos causou uma certa raiva em mim. Inclusive, há uma passagem que diz "Cândido, que havia sido criado para junca julgar nada por si mesmo".
Entretanto, há momentos em que ele corrompe sua candura. E isso acontece durante a história toda. Há momentos em que algo péssimo acontece, e ele começa a questionar a filosofia do Pangloss, mas logo após, algo de bom ocorre e ele lhe dá razão. Acredito que a vida também é assim, nunca tenho certeza sobre o que pensar dela, já que está sempre mudando.
Pangloss também é um carinho curioso, já que no final ele mesmo diz que não acredita muito em sua própria teoria, mas que se apega à ela.
Acho que é essa um pouco da mensagem que o final tenta passar, de que às vezes precisamos precisamos deixar de lado um pouco as indagações filosóficas e construir a nossa própria história, sem se questionar muito sobre o sentido das coisas. Talvez apenas não haja um sentido. Entretanto, ainda estou em dúvida se eu gostei do final ou não. Não acho que ele realmente tentou dar uma resposta à tudo, mas mesmo assim tive a sensação de que foi um tanto simplista demais.
Ah e gostei muito dos vários locais onde se passa a história, principalmente em Eldorado. Achei tão interessante! Um lugar de uma lenda indígena da época da colonização bem aqui na América do Sul. Um lugar feito de ouro e pedras preciosas e que chegou a atrair vários europeus buscando riqueza. Como foi que eu nunca ouvi falar disso?! É tão legal! Quero saber mais sobre.
Pra acabar com essa resenha gigantesca kkkkkkk, o final do livro me lembrou um trecho de Paradise do BTS, que sempre me acalenta quando eu penso que não tenho sentido na vida, e que diz que tudo bem não ter: Está tudo bem parar; Não há necessidade em correr sem ao menos saber o motivo; Está tudo bem não ter um sonho; Contanto que haja momentos em que você sinta felicidade.
Enfim, ainda pensarei muito nesse livro. Não dá pra absorver tudo de uma vez