Stella F.. 09/07/2021
Homenagem!
Este livro é uma defesa expressa para dizer que Van Gogh não era louco, que ele era sim um gênio, e quem fez mal a ele foi a sociedade cheia de regras, com sua psiquiatria que cria modelos, que coloca todos em uma caixinha rotulada, que se você for de uma caixa diferente, então tem que passar a ter um ensinamento, e voltar ao padrão, a “normalidade”.
Não, Van Gogh não era louco, insiste Artaud neste texto inspirado, ou então ele o era no sentido desta autêntica alienação que a sociedade ignora, sociedade que confunde escrita com texto (em qualquer coisa escrita é corpo, desenho, teatro) ela que tacha de loucura as visões exorbitadas de seus artistas e sufoca seus gritos no “papel impresso”: “Foi assim que calaram Baudelaire, Edgar Poe, Gérard de Nerval e o impensável conde de Lautréamont. Porque tiveram medo de que suas poesias saíssem dos livros e revertessem a realidade”. (pág 14)
O autor vai a uma exposição de Van Gogh, após o seu suicídio, e fica maravilhada, e em cima de suas obras, faz todo um estudo de sua genialidade de pintor, das escolhas de cores e manchas, sua assinatura, pinturas de natureza que parecem uma explosão, de seu estilo único.
“Uma exposição de quadros de Van Gogh é sempre uma data na história, não na história das coisas pintadas, mas na história histórica mesma”. (pág 46)
Van Gogh teve seus surtos: cortou sua própria orelha, foi internado, era introspectivo e tinha uma grande amizade pelo irmão, que no fundo não o entendia, e no final fica desolado com seu suicídio.
E Artaud culpa a medicina, especificamente um determinado médico que cuidou de Van Gogh no sanatório e a seu irmão que se aliou ao médico, que queriam que Van Gogh funcionasse de um jeito que seria adequado a eles, e não ao pintor.
“Theo talvez fosse bondoso com seu irmão, do ponto de vista material, mas isso não impede que o considerasse delirante, iluminado, alucinado e, em vez de acompanhá-lo em seu delírio, esforçava-se para acalmá-lo. Se ele, depois, morreu de remorso, que importa”? (pág 60)
Livro de difícil entendimento mas muito interessante!
O autor Artaud, assim como Van Gogh, esteve internado, e por vários motivos acredita que a sociedade, com sua falsa moralidade, e com a psiquiatria, tolhe os gênios, os tenta colocar em um lugar comum, os tenta fazer "normais".
Fiquei interessada em conhecer a pintura e um pouco da vida de Van Gogh. Só por isso, já valeu a pena."