Kelly Oliveira Barbosa 10/12/2020“Há mal-entendidos demais numa vida humana.”
“Mas a palavra é desde sempre insuficiente para abarcar a vida e aquele que escreve se condena ao fracasso.”
A primeira vez que li Meus Desacontecimentos, o livro de memórias da jornalista brasileira Eliane Brum, foi em 2016 e ali o impacto já foi surpreendentemente grande. Surpreendente porque não esperava encontrar uma Eliane Brum tão vulnerável, quebrada como ela mesma diz. Grande porque nunca me esqueci do seu estilo de escrita, do poder de fazer-se lida até por quem “discorda de mim”. Esse livro, o único que li dela até o momento, é bem isso já que li e reli mesmo discordando dela em quase tudo.
Sua crença (ou ausência dela), seus valores, sua política… sua percepção de mundo. Isso nos separa. Porém e aqui está, ela sabe se fazer lida não só em palavras, mas em humanidade, em uma linguagem universal. Isso nos aproxima.
É por isso e por mais (bem mais) que memórias é o meu gênero favorito da literatura e desde que o conheci. Ler memórias, conhecer a vida de pessoas, pela narrativa delas mesmas, a partir da forma como elas entenderam a própria vida – mesmo sabendo do problema do ego humano, dos exageros e omissões de toda história contada – é a mais bela e amável maneira de se conhecer alguém. Nessas narrativas a dor sempre aparece e a dor é o campo de batalha bem conhecido de todos nós – isso nos aproxima.
Eliane Brum em Meus Desacontecimentos, conta não a história de sua vida, mas um corte dela. Nascida em 1966, em Ijuí, Rio Grande do Sul, ela narra sua infância e adolescência até a entrada na faculdade. Como ela explica: escreve sua história com as palavras.
Sua escrita é profunda, melancólica e rítmica. Seu estilo, marcante. Outros livros dela são: A vida que ninguém vê (2006) – ganhador do prêmio Jabuti 2007, como melhor livro de reportagem -, Uma Duas (2011), A menina quebrada (2013) – finalista do prêmio Jabuti desse mesmo ano – e Brasil Construtor de ruínas (2020).
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