Evelyn Marques 30/07/2014
“ As mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho natural (…). É por isso que tanto Napoleão quanto Mussolini insistiam tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, se elas não fossem inferiores, eles deixariam de crescer. Isso explica, em parte, a necessidade que as mulheres representam para os homens. E serve para explicar o quanto eles ficam incomodados com as críticas delas (…) Pois se ela resolver falar a verdade, a figura refletida no espelho encolherá; sua disposição para a vida diminuirá. Como ele continuará a fazer julgamentos, civilizar nativos, criar leis, escrever livros, vestir-se bem e discursar banquetes, a menos que consiga ver a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente tem?”
O livro “Um Teto Todo Seu”, da escritora inglesa Virginia Woolf, marcou-a como um influente símbolo feminista. O ensaio – que foi escrito para uma palestra que Virginia daria para mulheres na Universidade de Cambridge – é escrito com um toque de ficção, onde Virginia discorre sobre suas ideias sob o pseudônimo de Mary Seaton (ou Benton, ou Hamilton ou Charmichael – referindo-se a uma balada antiga sobre as damas de companhia da rainha Mary Stuart, da Escócia) e faz uma narração sobre a busca dessa personagem pela resposta ao desafio que lhe foi proposto: falar sobre mulheres e ficção.
Já no começo do livro, a autora demonstra a submissão da mulher na sociedade da época através de simples detalhes – o fato de não poderem entrar na biblioteca dos homens (apenas acompanhadas de outro estudante ou com alguma carta de recomendação), de comer uma comida diferente, mais insossa, ali na própria faculdade, enquanto os homens têm a possibilidade de desfrutar de pratos mais requintados.
Partindo da questão de que não havia muitas mulheres escrevendo ficção na época – argumento que supostamente provava que o sexo masculino era intelectualmente superior ao masculino – Virginia revisita sua própria biblioteca à procura da história da mulher, desde a Idade Média, até os dias atuais (Virginia trabalhou no livro por volta do ano de 1928). Até pouco tempo atrás as mulheres recebiam pouca ou nenhuma educação, o que as impossibilitava de criar uma obra literária de destaque. Como produzir um livro de grande teor intelectual quando desde os primórdios a mulher foi criada para cuidar da casa, parir quantos filhos o marido quisesse e viver em função deste? Como conseguir sentar, pensar, escrever, dedicar-se a uma obra sem qualquer base educacional, em um ambiente cheio de crianças e, geralmente, com tão poucos recursos? É de se admirar que Charlote Brontë e Jane Austen tenham produzido obras clássicas como Jane Eyre e Orgulho e Preconceito, respectivamente, numa sociedade onde a mulher mal vivia para si mesma.
Para exemplificar seus argumentos, Woolf faz seguinte pergunta: E se Shakespeare tivesse uma irmã com o mesmo talento e base educacional que ele? Ela teria a oportunidade de explorar este talento e ser reconhecida mundialmente através dos séculos? Virginia então começa a narrar uma fictícia história sobre essa irmã que, obviamente, encontra bastante dificuldade – principalmente pelo preconceito – de evoluir e compartilhar seu talento.
Além do mais, como diz a frase clássica do livro, para uma mulher se dedicar à ficção, ela precisa de um teto todo seu e dinheiro suficiente para se sustentar. O que, na época, era privilégio para poucas.
Apesar de ter sido chamada para falar sobre a relação direta da mulher com a ficção, Virginia não dos dá uma ideia pronta sobre o assunto. Ela convida às mulheres a arregaçarem as mangas, molhar a pena no tinteiro e escrever, verdadeiramente, sobre o que se pensa, sobre o que se sente, sempre tentando enxergar além.
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site: http://sonhosdeletras.com.br/2014/07/28/resenha-04-um-teto-todo-seu/