Meridiano de sangue

Meridiano de sangue Cormac McCarthy




Resenhas - Meridiano de Sangue


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Fabio.Nunes 20/02/2024

Meridiano de sangue ? Cormac McCarthy
Editora: Alfaguara, 2020

LC com as amigas Flávia Menezes e Andrea Carvalho.

Meados do século XIX; sul dos EUA. Época da expansão para o oeste e para o sul, ainda sob a ideologia da doutrina Monroe, antes da guerra de secessão. Bandos de pistoleiros arriscavam a vida na caça aos povos originários, dos quais retiravam os escalpos para serem vendidos. Ultrapassavam regiões áridas sem fronteira definida, onde tudo o que se encontra é violência, sangue e morte.
McCarthy é dono de uma escrita original, que requer um certo tempo de adaptação. Depois desse período de estranheza inicial um mundo se abre.
Mais do que um bom livro, uma obra de arte.
Posso garantir que até este dia poucos livros me impactaram tanto. O que eu sinto ao escrever essas palavras é pura agonia. A sensação de ter passado por uma experiência dura, que requererá tempo para ser digerida.
Na pele de nosso protagonista, o Kid, um menino de 14 anos que foge de casa, é que a narrativa do livro se desenrola.
Por meio dele, nas palavras de um narrador em terceira pessoa, somos tragados para uma terra de ninguém, onde o deserto não é apenas um lugar, mas tudo o que se lê. Em alguns momentos parece que a terra é quem fala.

"Por toda a noite relâmpagos difusos sem origem definida estremeceram a oeste atrás das massas tempestuosas de nuvens da meia-noite, provocando um dia azulado no deserto distante, as montanhas no horizonte súbito abruptas e negras e lívidas como uma terra longínqua de alguma outra ordem cuja genuína geologia fosse não pedra mas medo."

Um ecossistema da violência onde tudo que há é o vazio (do deserto e das pessoas), preenchido apenas pelo sangue; e onde a aridez não permite brotar sentimentos. A negação da vida num meridiano sem lei.
Lugar, circunstâncias e momento histórico nos conduzem a sermos expectadores do que há de pior no comportamento humano. Desses humanos, um se destaca: o juiz. Um personagem complexo, capaz de suscitar admiração e nojo ao mesmo tempo. Mais do que isso, o que ele me causa é medo. Terror.
Com vocês, o juiz:

"Tudo que existe, disse. Tudo o que na criação existe sem meu conhecimento existe sem meu consentimento."

"O homem que acredita que o segredos do mundo estão escondidos para sempre vive em mistério e medo. A superstição o arrasta para o fundo. A erosão da chuva vai apagar os feitos de sua vida. Mas o homem que impõe a si mesmo a tarefa de descoser o fio que ordena a tapeçaria terá mediante a mera decisão assumido o comando do mundo e é somente assumindo o comando que levará a efeito um modo de ditar os termos de seu próprio destino."

"O que une os homens, disse, não é a partilha do pão mas a partilha dos inimigos."

"Logo você, dentre todos os homens, não pode desconhecer esse sentimento, o vazio e o desespero. É contra isso que pegamos em armas, não é? Acaso não é sangue o agente aglutinador na argamassa que dá liga entre nós?"

"Aquele sujeito ali. Olhe para ele. Aquele homem sem chapéu. Você sabe qual é a opinião que ele tem sobre o mundo. Dá para ler no rosto dele, na postura. E contudo sua queixa de que a vida de um homem não é nenhum negócio da china mascara a verdadeira questão em seu caso. A de que os homens não fazem o que desejam fazer. Que nunca fizeram, nunca vão fazer. É assim que as coisas se dão com ele e sua vida é tão estorvada pela dificuldade e de tal forma se desvia da arquitetura pretendida que constitui pouco mais que uma choupana itinerante dificilmente adequada para abrigar até mesmo o espírito humano."

"Esse deserto no qual tantos foram subjugados é vasto e exige grandeza de coração mas também é no fim das contas vazio. É impiedoso, é estéril. Sua verdadeira natureza é a pedra."

?Somente aquele homem que se consagrou inteiramente ao sangue da guerra, que conheceu o fundo do poço e viu o horror de todos os ângulos e aprendeu enfim o apelo que ele exerce no mais fundo de seu íntimo, só esse homem sabe dançar.?

Este não é um livro fácil de ser lido, tanto pelo texto quanto pelo que ele conta, mas é uma experiência literária sem igual.
Literatura para os fortes, viu. Depois não diga que não avisei.

"E acaso a raça humana não é ainda mais predatória? É da natureza do mundo vicejar e florir e morrer mas nos negócios do homem não há definhamento e o zênite de sua expressão sinaliza o começo da noite. Seu espírito está exausto no auge de sua realização. Seu meridiano é ao mesmo tempo seu escurecer e o ocaso de seu dia."
Leo Moura 20/02/2024minha estante
Concordo totalmente, Fabio! Livro brutal demais, porém construído com tamanha maestria. Muito bom rever essa obra pela experiência de quem também atravessou esse deserto kk. Li há 3 anos, mas parece que foi semana passada, marcante demais.


Flávia Menezes 20/02/2024minha estante
Muito obrigada pela sua companhia e por ter compartilhado suas impressões e ideias que ajudaram tanto a clarear essa narrativa tão complexa.


Fabio.Nunes 20/02/2024minha estante
Marcante mesmo Leo.


Fabio.Nunes 20/02/2024minha estante
Eu que agradeço tua companhia Flávia, e da Andrea tbm. A leitura foi outra coisa escutando a playlist que vc indicou. Dava arrepios rsrs


AndrAa58 21/02/2024minha estante
Fábio, obrigada! Acabo de ler a sua resenha e consegui encaixar uma peça solta por aqui ? Você e a Flávia arrasaram nas resenhas. Muito legal, complementam-se. Acho que ainda estou me escondendo do juiz, não consegui sair de trás da pedra, mas você acaba de me fazer encará-lo de frente. Espero conseguir estar à altura de vocês. Obrigada pela companhia e por me ajudarem nessa travessia pelo 'inferno' ?


Fabio.Nunes 21/02/2024minha estante
Oh Andrea, nem vem com essa de "estar à altura" pq seus comentários o longo da leitura é que abriram mtas portas pra mim. Qto à Flávia, já sabe né: não se trata de resenha, e sim de peça jornalística o que essa mulher faz. Na melhor das hipóteses eu tento convencer algum desavisado a ler o livro por meio daquilo que senti, nada muito informativo.


Flávia Menezes 21/02/2024minha estante
Até parece né amigos! Vocês dois travavam discussões tão calorosas no grupo, que eu ficava quietinha só olhando e absorvendo todo o conhecimento que vocês passaram ali. Sou uma carioca exxxperta!!! ????


AndrAa58 22/02/2024minha estante
??? Fábio e Flávia, vocês dois são ótimos e a experiência de ler com vocês foi maravilhosa! Espero poder repetir ? A verdade é que estou empacada, amigos. Ambas as resenhas estão me ajudando a perceber a imensidão deste 'Meridiano de Sangue'. Me sinto muito pequena, um grão de areia. Vou precisar do fim de semana e talvez um pouco mais para dar uma olhada em algumas passagens. Se pudesse, releria. Enfim, sou muito grata mesmo. Às vezes, vejo pelo em ovo e vocês me trazem para o chão ???????




Peter.Molina 23/02/2024

Meridiano de muito sangue
Esse livro traz um relato de um período nos EUA no final do século XIX, nas fronteiras com o México e arredores, contando o massacre indígena e a violência do velho oeste. Escrito numa linguagem um pouco rebuscada e difícil, porém com descrições poéticas, o livro tem dezenas de cenas com massacres e carnificina em detalhes. O embate do personagem Kid com o grotesco Juiz fazem as melhores partes desse livro. Pra mim não funcionou, apesar da beleza de muitas passagens um pouco mórbidas, a excessiva violência a todo instante me dificultou a conexão com a história. Um final Tb bem decepcionante.
CPF1964 23/02/2024minha estante
???????


CPF1964 23/02/2024minha estante
Que coração peludo !!!


CPF1964 23/02/2024minha estante
Este livro não é um curso para açougueiro ?


Peter.Molina 24/02/2024minha estante
Praticamente um curso de como esquartejar e escalpelar de maneira prática e eficaz Cassius.


CPF1964 24/02/2024minha estante
???


Fabio 25/02/2024minha estante
LItro e litros de sangue kkkkkkk


CPF1964 25/02/2024minha estante
????




Leo Moura 05/11/2021

Delicadeza brutal
Se prestarmos bem atenção, logo abaixo da camada de crueldade, ali, entre uma e outra carnificina, esta narrativa nos revela trechos carregados de uma ternura e poesia sem igual. Por vezes, é apontada a delicadeza dos pequenos seres, logo adiante, descortina-se a grandiosidade dos astros distantes, sempre sob um prisma surpreendente e original. Nessa mescla, são discutidas, vida e morte, fortuna e desgraça, sem cerimônias.
Tudo isso embalado em um tom de western envolvente.
Valeu muito o tempo dedicado. Anotado pra releitura.
Cleuzita 16/01/2022minha estante
Tô com esse livro paradinho aqui me esperando.


Leo Moura 16/01/2022minha estante
Minha experiência com esse livro foi muito boa, já tô doido pra reler!


Cleuzita 16/01/2022minha estante
É duro viu, fui aproveitando promoções e agora tô cheia de livro bem referenciado, como esse aí, só esperando a vez. Que aflitivo querer ler todos ao mesmo tempo. ?


Leo Moura 17/01/2022minha estante
Também sinto isso às vezes... são tantas obras maravilhosas esperando sua vez...




Fernando Lafaiete 25/04/2020

Meridiano de Sangue: O Diabo caminha entre nós?
******************************NÃO contém spoiler******************************

Certa vez um professor de literatura afirmou em sala de aula que um livro deve nos perturbar (não necessariamente no sentido ruim), nos deixar incomodados, pensativos e nos desafiar como leitores desde o momento em que o abrimos e iniciamos a leitura. Se uma obra deve exercer essas funções na jornada de um leitor, então caros amigos, "Meridiano de Sangue" cumpre com maestria o seu papel. Embarcar na leitura da elogiada e emblemática obra de Cormac McCarthy, não me foi um processo fácil e nem dos mais agradáveis. Com uma escrita experimental e uma narrativa bastante linear,  McCarthy tece uma história deveras sangrenta, que se desenvolve através de uma estrutura textual constituída de sentenças longas, com fluxo narrativo contínuo que não sofre interrupções pontuais - com exceção do ponto final que exerce sua função gramatical de encerrar uma sentença e iniciar outra - se fundindo com seus diálogos que se misturam com a narrativa onisciente, já que não são apresentados com travessão e nem com as aspas (técnica utilizada em textos em inglês). O que traz à escrita do escritor uma "inovação" estilística muito elogiada pela crítica especializada, já que quem inova, se reinventa, surpreende e se destaca. (O que não significa que tenha me agradado)

Se utilizando de fatos históricos, "Meridiano de Sangue" traz a realidade à superfície da ficção, entregando ao leitor um recorte importante da história norte-americana, nos colocando em uma jornada de confrontos entre índios, mexicanos e americanos, onde o que se vê são corpos sendo desmembrados, escalpados, crianças estupradas e muito sangue jorrando, o que faz total sentido ao título da obra, ao mesmo tempo que choca e encanta, não pelas barbáries descritas ao longo das 352 páginas, mas sim pelo lirismo e metáforas inseridas  em sua escrita, o que se assemelha e muito ao que Nabokov fez com maestria em Lolita.

Mas nada supera na obra de McCarthy - por mais elogiado e genial que seja - um dos personagens mais interessantes, assustador, enigmático e inteligente que tive a oportunidade de conhecer. Juiz Holden, um homem alto, careca, que não possui pelos pelo corpo, pedófilo, assassino, poliglota, "onisciente", que nunca dorme, que não envelhece, que se diz imortal, que caminha através do fogo sem se queimar e que fascina e amedronta não somente os personagens, mas também ao leitor. Quem seria este ser? O diabo em forma humana? Tal questionamento intriga e coloca o romance gótico de MarcCarthy ao lado de obras fáusticas como "Fausto" de Goethe e "Grande Sertão Veredas" de Guimarães Rosa. Tal antagonista se equilibra muito bem com o protagonista Kid, o garoto de comportamentos ambíguos, de inocência perdida, desejado e perseguido por Holden. A jornada e embates entre os personagens nos faz questionar os limites e raciocínios quanto a crueldade humana e a humanidade em sua amplitude. Em meio a tantos conflitos onde vidas são diariamente ceifadas, não estaria realmente o diabo entre nós?

"O juiz se curvou para mais perto. O que acha que é a morte, homem? De quem estamos falando quando falamos de um homem que existiu e não existe mais? Serão esses enigmas incompreensíveis ou não farão parte da jurisdição de todo homem? O que é a morte senão um agente?"

"Não faz diferença o que o homem pensa da guerra, disse o juiz. A guerra perdura. É a mesma coisa que perguntar o que o homem pensa da pedra. A guerra sempre vai existir. Antes do homem aparecer, a guerra estava a sua espera. A ocupação suprema à espera do praticante supremo. Assim foi e assim será. Assim e de mais nenhum outro jeito."

Entretanto, por mais que eu veja o romance de Cormac McCarthy com diversos pontos  interessantes a serem analisados; devo frisar que suas descrições quase nulas a respeito dos personagens, dificultou e muito minha visualização dos mesmos. Esse aspecto atrelado a sua narrativa repleta de situações repetitivas fizeram com que eu não conseguisse me imergir completamente na história, o que resultou também no meu não apego aos personagens. Contudo, suas descrições ganham maior profundidade quando se volta para a ambientação - para as cenas de confrontos e massacres - onde o autor não se poupa e nem nos poupa das atrocidades que faz questão de narrar com detalhes sórdidos, que enojam e traz à tona o objetivo da obra... a de nos chocar.

Como romance gótico, faroeste, fáustico e crítico, ele funciona. Mesmo com sua aridez e narrativa direta, sem muita emoção e curvas narrativas, a obra de McCarthy impressiona. Talvez ele só não funcione como romance de formação como muitas o classificam. Tendo como referência obras clássicas como "Demian" de Herman Hesse e "David Copperfield" de Charles Dickens, devo dizer que "Meridiano de Sangue" navega de forma superficial quanto ao amadurecimento do personagem central. Sua ausência ao longo de milhares de páginas fazem de seu amadurecimento algo superficial que não me convenceu. Seu crescimento fica evidente apenas quando Kid (criança em inglês) passa a ser tratado pela nomenclatura homem. Uma técnica de escrita direta demais para os meus padrões analíticos e críticos de leitor.

"Meridiano de Sangue" é uma obra para se ler com muita atenção. Devemos decifrar os diálogos, as situações e narrações como se nossa vida dependesse disso. É uma leitura desafiadora e complexa, que traz questionamentos que estão além da literatura convencional. Tchékhov uma vez disse que o bom escritor era aquele que enxergava sua arte e sua vida através de uma perspectiva mais ampla, indo além de sua própria vida e tempo. Talvez esteja aí a resposta de como criar um clássico. Gostando ou não gostando, sendo um livro complexo, arrastado e as vezes maçante, a verdade é que "Meridiano de Sangue" já nasceu clássico. Um livro que se transforma e nos transforma.
Helder 21/10/2021minha estante
Embarquei nesta viagem e não está sendo fácil. Qdo terminar volto aqui pra ler sua resenha.


Fernando Lafaiete 13/02/2022minha estante
kkkk... Estou voltando a ativa agora Helder. O que achou?


Helder 13/02/2022minha estante
O caminho foi difícil. Muitas vezes me perguntei pra que eu estava lendo aquilo, mas no fim foi muito bom. Me senti um leitor vitorioso. Tem muita coisa neste livro.




Leila 18/11/2023

Misericórdia! Misericórdia! Misericórdia!
Pensa num livro bom pra c@r@lho? mas que também é ruim! Então...é o caso de Meridiano de sangue de Cormac McCarthy. Gente do céu, isso aqui é para os fortes (literalmente). Eita livrinho que me deu trabalho para ler, não porque seja difícil de ler, mas porque é indigesto demais, violento demais, há maldade em excesso aqui, então há de se ter muito estomago para lê-lo e digeri-lo. (Sim, o texto hoje é aos borbotões, porque não tenho estrutura emocional para fazer algo formatadinho e bonitinho, superem!)
Quando eu pensava que já tinha lido de tudo de ruim que o ser humano era capaz de fazer, veio o McCarthy me mostrar que eu ainda não havia visto tudo, que eu ainda tinha uma certa inocência sobre a índole humana (tadinha de mim). Esse inferno de juiz Holden está no hall de piores personagens da face da terra, cruz credo, nossinhora! que homi ruim dos infernos, era o próprio capeta encarnado, num é possível?! Picopata passou longe dele, nunca vi um ser tão insano e cruel! Ainda vai e se junta com mais um bando de endemoninhados e saem Oeste americano afora fazendo miserê e "rancando" escalpo dos outros, sem salvar ninguém, nem mesmo crianças (olha as piores cenas pra mim são justamente com as crianças) mas de piores cenas o livro tá cheio e nisso você vai se esbaldar, caso goste.
Esse foi um dos raros casos de leitura que eu fiz muito picado, tipo lia um pouquinho e parava para fazer outra coisa, como assistir uma comédia romântica bem água com açúcar no netflix (só assim pra contrabalançar a coisa). O meu estarrecimento foi do início ao fim da leitura, então vou repetir de novo, é bom, mas é muito ruim. É uma obra que te tira totalmente da zona de conforto, te tira da inocência, da beleza da vida (do céu azul, do canto dos pássaros e das cores lindas da natureza) e te joga no inferno na terra. Não pense em se apegar a ninguém não, porque vida humana e grão de areia são a mesma coisa, tá? Nem o nosso outro personagem central, o kid (sim, com letra minúscula) que de todos é o menos pior, se salva nessa insanidade toda aí e vai lendo, vai lendo pra tu ver aonde tudo isso vai dar... Então se você quiser encarar, vá bemmm preparado, porque a rapadura não é nem doce aqui nesse caso e muito menos mole. Esteja avisado. Ahh pode ser que um remedinho para engulhos também seja necessário. rs
Erika 19/11/2023minha estante
Pesadooo


Leila 19/11/2023minha estante
sim, amiga, muito pesado




Luiz Roberto Silva 20/03/2022

“A lei moral é uma invenção da humanidade..."
Brutal. Um dos romances mais violentos já escritos. É uma história de horror sobre a maldade que emerge do homem quando ele não se impõe qualquer sanção moral quando livre entre outros homens dispostos ao mesmo e em um ambiente selvagem. “Vaqueros” perdidos na desolação de suas próprias vidas, entregues à maldade de seus próprios corações.
Por mais contraditório possa parecer, para mim, se o leitor não se sentir constrangido pela violência, o autor não conseguiu alcançar seu real objetivo (não que McCarthy pareça se importar com que o pensam de seus textos). Existe uma satisfação na dor infligida ao fraco e em poucos momentos, pouquíssimos, os fortes realmente se confrontam e lutam de igual para igual. Aqui a violência serve a um propósito, como em Onde Os Fracos Não Tem Vez, a estilização da violência é cadenciada (oferecida) de uma forma que o leitor se sinta instigado a desejar por mais violência e então se encontre, a si mesmo, na escuridão detrás de algum cacto, sob o Sol fervente e caçado por coiotes e veja a si mesmo como uma vítima de seu próprio desejo. O prazer da leitura desse livro nos cobre da vergonha de sermos os animais que somos. É a carne da caça que se come escondido e que sangrenta nos expõe como os monstros incivilizados que somos (ou talvez possamos nos tornar) e nos ajusta na posição de caçador e não caça.
A história é baseada em My Confession, a autobiografia do comandante da Guerra Civil Samuel Chamberlain, que fez parte de um grupo de mercenários norte-americanos contratados pelo governo mexicano para massacrar nativos.
Meridiano de Sangue é a história do “Juiz”. Mais de 2,10 metros de altura, sem pelos, albino, descrito como tendo um rosto infantil e assaz inteligente. O que ele é? O diabo? Um homem de carne e osso que perdeu qualquer empatia pelo humano? A única certeza é que ele é irremissível e inevitável. É uma lasca da cruz de maldade que a humanidade arrasta.
Scorpion 20/03/2022minha estante
Fiquei curioso!!


Mari Pereira 22/03/2022minha estante
Esse livro é INCRÍVEL!




Mari Pereira 29/04/2021

É possível um livro ser extremamente violento e, ainda assim, profundamente belo?
Em Meridiano de sangue, Cormac McCarthy prova que sim.
Acompanhando as ações de uma organização paramilitar contratada para exterminar a população indígena, tida como selvagem, no "velho" oeste, na fronteira entre EUA e México, McCarthy nos guia por uma história épica, brutal e devastadora. No fim das contas, fica a certeza que nada supera a crueldade do homem branco.
O livro desmistifica a ideia do "herói americano" e a passividade indígena. (Impossível não fazer paralelo com os bandeirantes, tidos ainda como heróis brasileiros.)
Ao narrar a trajetória desses homens altamente individualistas e centrados na própria ideia de grandeza, o autor nos mostra que, nessa lógica, qualquer coisa identificada como "outro" é menos digno de vida.
De quebra, McCarthy ainda nos brinda com belíssimas descrições e uma escrita cheia de lirismo.
Um livro fantástico, que merece ser lido.
Impossível ficar indiferente diante de uma obra tão potente!
Lysiane 29/04/2021minha estante
Sua resenha me deu vontade de ler!


Mari Pereira 29/04/2021minha estante
Leia sim! Vale muito a pena!




ilhaparadis 10/11/2024

Visceral
Logo de cara dá pra notar que se trata de uma leitura difícil e nada confortável, não pela linguagem, porque é uma linguagem de fácil compreensão, mas é uma leitura extremamente difícil pelo seu conteúdo cru, visceral e muito direto.
Aqui vemos a história do Kid, que é um garoto muito pobre e que entra para o bando do Glanton, que é conhecido por caçar indígenas e coletar os escalpos e levar para quem os contratou.
Durante todo o livro nós vamos ver esse bando se locomover a procura de conseguir um determinado número de escalpos para levar. Então é uma viagem muito longa.
A violência é muito muito gráfica, porém, ela não é gratuita; nos trechos em que a encontramos é sempre com o objetivo de desenvolver a história e trazer consequências depois. Só que precisa ter estômago, pois trata-se de uma missão desumana e que nos trás a realidade sobre a raiz do mal que habita o ser humano.
Infelizmente o povo indigena na américa do norte sofreu muito.
Um personagem que me chamou a atenção foi o Juiz, ele é misterioso e pelo que eu pude entender, ele é a representação do mal. É algo quase sobrenatural, pois ele é extremamente inteligente, estrategista, polido quando necessário, onipresente e extremamente mau. Ele é complexo e um vilão detalhadamente construído.
Não é uma leitura que eu recomendaria para todo mundo, mas se você tem serenidade pra encarar eu acho que vai valer a pena, porque é um livro muito reflexivo, infelizmente nós conseguimos ver muito daqui na nossa sociedade atual, e ter os olhos atentos para essas coisas é o objetivo da literatura em primeiro lugar.
KatAudaz 14/11/2024minha estante
Já foi para o meu ?Quero ler?


ilhaparadis 14/11/2024minha estante
@KatAudaz vale muito a leitura, disparado um dos melhores que eu li esse ano




pete_7 28/07/2024

Atire no mal, senão seu destino já está escrito
Provavelmente, um dos livros mais assombrosos, cínicos e miseráveis que alguém pode ler. Eu não me assusto muito com leituras pesadas, mas essa daqui me arrematou para as margens da humanidade.
Deve ser uma das piores coisas que já li. Mas com certeza me fez pensar muito.
Só podia ter saído da cabeça de um americano.
Confuso, cínico, não é leitura fácil, muito embora não seja tão difícil quanto Faulkner (comparação esdrúxula).
HotGirlReading 29/07/2024minha estante
Medo de ler esse livro.


pete_7 30/07/2024minha estante
Não sei como te responder aqui, mas talvez você gostasse. Mas é uma leitura miserável mesmo KKKKKKKK E achei você muito cheia de luz, você não merece isso




arqueofarias 26/02/2023

Um livro bem difícil de terminar pra mim. Apesar de eu entender o porquê de ser um clássico e a importância da temática da narrativa - o extermínio de grupos originários nos EUA - , a história em si não me prendeu. Eu senti que estava andando em círculos- assim como a travessia dos personagens kkkkk - e não acontecia muita coisa. Me parecia uma repetição de eventos.
Me lembrou muito grande sertao veredas, inclusive - que eu acho muito bom, apesar de eu ainda não o ter finalizado.
Enfim, não funcionou pra mim. Mas é um livro muito importante e necessário para o entendimento desse contexto de devassamento na história norteamericana.
Krishna.Nunes 14/08/2023minha estante
Acontece que se você achou que ele é um livro sobre o extermínio de populações originárias nos EUA, você não entendeu o livro. Esse é apenas o cenário. O livro poderia se passar em qualquer cenário de brutalidade e violência, seja ele medieval ou de guerra, sem perder sua essência.
Meridiano de sangue faz enormes referências a Paraíso perdido, A divina comédia, Fausto e principalmente à Bíblia. Tudo isso delimita nele um contexto filosófico que, se você já não conhece previamente, dificilmente apreciará as nuances do romance. Aí só sobrará violência gratuita e repetição de cenas sem propósito.




Rodrigo1001 06/01/2024

Dois Estômagos (Sem Spoilers)
Título: Meridiano de Sangue ou O Rubor Crepuscular no Oeste
Título original: Blood Meridian; or the Evening Redness in the West
Autor: Cormac McCarthy
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 344

Bárbaro, dilacerante, selvagem e indômito.

Com um estilo de escrita épico-monumental que cria cenários de beleza estarrecedora, Meridiano de Sangue sequestra o leitor, tornando-o refém de uma orgia de sangue e violência em seu estado mais elementar.

Para lê-lo, são necessários dois estômagos.

Assim, de antemão, alerto que Meridiano de Sangue não é um livro palatável. É, na verdade, extraordinariamente indigesto. Um livro difícil. Um livro duro se ser lido até o fim. Nele se adensam os subterrâneos da barbárie, da incredulidade e do horror. Um épico que te desconcerta de início só para fisgá-lo logo à frente, mantendo-o em rédeas curtas até o virar da última página. Um livro que domina o leitor de capa à capa.

Pessoalmente, tive uma catarse com esse livro. Enveredei madrugada afora sem conseguir soltá-lo, tamanho o seu magnetismo. Pérfido e sedutor, o livro nos envolve em uma prosa brilhante e assombrosa, causando pequenos curtos-circuitos durante o processo de leitura - afinal, diante de tanta barbárie, como se pode gostar de um livro desses?

Mas, é justamente aí que reside o encanto de Meridiano de Sangue! O autor esculpe as frases. Tudo é milimetricamente pensando - cada palavra, cada vírgula omitida, cada travessão ignorado, cada situação. Tudo isso faz com que o livro não apenas conte uma história, mas tenha uma cadência, um compasso durante a leitura que nos aprisiona, nos perturba e nos desafia como leitores.

Com relação aos personagens, todos são lapidados à mão. A tocha do protagonismo é passada de personagem para personagem sem aviso prévio. A violência é entorpecente, rotineira como a chuva e corre em cada página como sangue fresco pulsando nas veias. Durante todos esses dias, enquanto lia e relia o livro, a história ficou alojada como uma lasca no meu cérebro, não se soltando mesmo quando eu estava longe dela. Não há espaço seguro (não no sentido contemporâneo do termo) de onde você possa observar o que se desenrola. Um tipo de farpa cuja dor e beleza você deseja sentir antes de finalmente extirpá-la em um ato final de desespero.

E mesmo que eu tenha lido com o máximo de cuidado possível, há partes que terei de ler novamente para poder digerir completamente suas propriedades místicas. Qualquer pessoa que tenha lido McCarthy sabe como uma única de suas frases preenche rotineiramente um parágrafo inteiro ou mesmo páginas inteiras. Não apenas isso, mas essas frases podem consistir em verbos e substantivos ininteligíveis e, às vezes, em palavras que são puras invenções: houve mais de uma ocasião em que procurei uma palavra no dicionário apenas para descobrir que, assim como as criações febris de McCarthy, é uma coisa fantasmagórica que só existe no céu e no inferno de seus personagens. Há muita associação livre em Meridiano de Sangue, mas de alguma forma, tudo é hipnotizante.

Extremamente violento, e, ainda assim, belo.

E é assim que este marco épico deve ser lido - como um aviso sobre as profundezas humanas e a própria escuridão espiritual.

Por fim, entendendo que nada mais posso adicionar à uma obra tão amplamente consagrada, estudada e debatida como Meridiano de Sangue, só me cabe alçá-lo ao meu rol particular de obras favoritas e irretocáveis.

Um recorte essencial da história da fronteira entre EUA e México no século XIX...

Uma força da natureza...

Enfim, um dos livros mais interessantes que li nos últimos tempos e que certamente me assombrará por um longo período.

Leva 5 de 5 estrelas cadentes.
Gleidson 06/01/2024minha estante
Excelente resenha meu amigo! Sintetizou bem o que o livro representa. ??




Campos 06/08/2023

Não é para mim
Sei que muita gente gosta do autor, mas para mim não funcionou. Um texto arrastado, com falas enormes, e cenas de crueldade com animais sem sentido algum, sei que fazem parte de um contexto histórico. Mas para mim nada funcionou
Krishna.Nunes 14/08/2023minha estante
Meridiano de sangue faz enormes referências a Paraíso perdido, A divina comédia, Fausto e principalmente à Bíblia. Tudo isso delimita nele um contexto filosófico que, se você já não conhece previamente, dificilmente apreciará as nuances do romance. Aí só sobrará violência gratuita, como você mesmo disse.




Douglas 09/12/2013

A loucura pode ser a maior verdade diante dos seus olhos, e você por ser racional demais, deva ser o louco.

Foi exatamente o que aprendi com esse livro, a maneira como se conduz o leitor beirando a mais dura verdade, dura como as rochas do deserto. A verdade ali exposta, o calor a fome e a sede que esses cavaleiros caçadores de escalpos encontram no deserto é quase nada, diante da bruta realidade e da naturalidade da morte diante de seus olhos. Assim como uma fogueira deve se apagar para continuar a jornada, uma vida pode ser tirada para o mesmo. McCarthy acredito que seja um gênio, um pensador como poucos, acredito que o juiz Holden se pareça com ele, ou melhor, que Carty seja muito mais, que Holden seja um pouco de Carty.
A maneira como é exposto os pensamentos de um jeito pouco imaginado sobre o que é a realidade diante de brutos homens que só sabem fazer o seu dever de sobrevivência, um pouco leigos, existe esse contraste do natural e do estranho, do louco e dos "normais" e esse conflito tão gritante no livro. A jornada é dura para os viajantes mas para o leitor também, mas ao mesmo tempo o dever que McCarthy tem de passar o sofrimento desses caçadores diante da mais bruta e impiedosa realidade seja tão forte que isso doa um pouco a quem lê, e a violência subestima a aceitação e talvez a sua aceitação lhe subestime.

Eu que sou ainda mero leitor, não pude enxergar a genialidade por trás disso, esse livro talvez eu devesse lê-lo novamente daqui há alguns anos, não tenho poder em carga literária suficiente para tanto, mesmo sabendo que um escritor como Carthy seja raro ou talvez extinto nos dias de hoje.
Hernani 06/04/2018minha estante
tem razão, revisite ele no futuro... porque 3 estrelas é a coisa mais injusta que se pode fazer com esse livro no skoob. se ajudar, procure uns textos de Harold Bloom sobre o livro, principalmente em Como e por que ler. vai entender diversas referencias que as vezes passam batidas... mas não deixe de relê-lo.




Francisco.comasetto 07/12/2023

Massa
Sensacional, simplesmente.
Tive muita dificuldade em passar pelas extensas linhas de descrição, mas terminei em relativo pouco tempo.
Muito se fala da repetitividade dos conflitos ao longo da narração, com isso concordo, mas se deu, pelo menos no meu caso, pela dificuldade em imaginar o que estava sendo descrito, talvez porque é (ainda) um pedaço muito novo da história americana para mim.
Nunca tive a mínima curiosidade no velho oeste, mas as temáticas contidas no livro são muito bem exploradas, algo que me fez permanecer firme na leitura.
O pricipal do livro concerteza é a figura do juíz. Fica claro o subtexto bíblico que cerca os dois protagonistas da narrativa, porém, nesse ponto, muitas interpretações divergem a respeito da composição do personagem Holden. Em minha percepção, ele é o próprio filho diabo, assim como Cristo é o próprio filho de Deus.
Holden cataloga cada objeto que o cerca e depois o descarta. Seja isso com os objetos arqueológicos ou a trupe de Glanton. O Diabo é visto como onipresente na vida de cada um dos membros da trupe, todos morrem e, para mim, o Kid é só mais um.
Versado em tudo que lhe possa ser útil, Holden é tão velho quanto o homem. Figura inevitável, é como se tudo na existência algum dia tenha seu fim nas mãos do Juíz. Um parasita obrigatório, nunca à espreita, sempre em plena luz, sorrindo e esperando cada um de nós.
Os diálogos são densos e confusos em muitas partes do livro, mas neles está a verdadeira essência dos protagonistas. A escrita é acessível, repleta de uma violência que espero ser somente ficção. Tal violência dificulta o progresso no livro, assim como a falta de virgulas, recurso quase que metalinguístico, talvez para transparecer o cansaço e a fadiga sentida pelos personagens.
O final é o ponto mais alto do livro. Se Cormac Mcarthy fosse meticuloso assim pelo resto do livro, seria facilmente meu livro favorito.
Impossível tocar em todos os pontos levantados pela narrativa, porém a essência está ai. Espero ler livros tão bons como este no futuro.
Francisco.comasetto 08/11/2024minha estante
Que merda de review. Não concordo com nada que eu disse, fora os erros de português! 0/10




Alessandro 24/04/2023

Esperava mais
Espera mais do livro. Ao longo das páginas se tornou extremamente repetitivo, com descrições intermináveis de paisagem e depois mortes.
Krishna.Nunes 14/08/2023minha estante
Meridiano de sangue faz enormes referências a Paraíso perdido, A divina comédia, Fausto e principalmente à Bíblia. Tudo isso delimita nele um contexto filosófico que, se você já não conhece previamente, dificilmente apreciará as nuances do romance. Aí só sobrará violência gratuita e morte.




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