Leitora 29/03/2024
Confesso que tinha uma visão um tanto deturpada de "O Príncipe". Achava que o livro seria bem mais imoral do que ele realmente é.
Não se engane, não significa que achei o livro moralmente retificado, pois é claro que em vários momentos o autor apresenta soluções e estratégias reprovadas pelos princípios morais. Mas percebo, nesta obra, que Maquiavel está empenhado em mostrar todas as formas de um governante conquistar e se manter no poder, sejam elas virtuosas ou não. Em alguns casos, a recomendação do autor ao príncipe é estritamente imoral, em outros, sua recomendação está de acordo com a moralidade. E, ainda, em outros, o autor apresenta soluções virtuosas e viciosas para um mesmo problema, descrevendo as consequências de cada uma delas, de modo que fica a critério daquele que busca o principado escolher qual delas irá utilizar.
Porém, por mais que Maquiavel apresente ações virtuosas, boas de serem praticadas por um príncipe, no fim das contas a recomendação do autor é que um príncipe deve prezar pela aparência de virtuosidade, mesmo que por trás dos panos aja viciosa e imoralmente. E além disso o autor escreve o livro inteiro levando em consideração que o príncipe busca o seu próprio interesse em detrimento do interesse de seus súditos, sem manifestar nenhuma objeção a isso (é claro). Tal ideia só está afastada no último capítulo, no qual ele faz recomendações a Lourenço II, visando a unificação e fortalecimento da Itália, a fim de livrá-la dos bárbaros, da igreja, dos mercenários e de nações externas.