umreplicante 27/07/2023
Algumas observações sobre o Príncipe de Maquiavel
Maquiavel trata dos principados, de suas formas, e da manutenção de poder. E apesar de ser um livro direcionado à Médici, e de aparentar um manual, a visão que eu tive lendo Maquiavel foi mais pragmática.
Primeiro, ao meu ver, existe um rompimento de Maquiavel com o pensamento predominantemente católico de sua época. Por mais que em diversos momentos ele trate de questões religiosas, e expresse uma religiosidade (que eu não sei se pertence realmente a ele), seu escrito claramente faz um contraponto à moralidade cristã.
Quando ele afirma não ser da razão humana dialogar sobre os principados eclesiásticos, ele está separando os governos dos homens do governo de Deus. Dessa forma um príncipe não pode ser bom, e essa bondade também se refere à bondade puramente cristã, uma vez que ele não defende a tirania e grande parte (para não dizer todos) dos seus exemplos de príncipes tiranos termina em morte, Maquiavel advoga muito mais numa linha “progressista”. Dizer que Maquiavel era favorável à tirania, é ser anacrônico com sua leitura, além de ignorar todas as partes do texto que falam sobre não cometer injúrias descabidas.
Voltando nessa questão da religiosidade, o centauro é outro elemento que vem para romper com essa tradição. A parte animal é a bestialidade do homem, tudo aquilo que não é puro. É ali que reside formas de agir e pensar, que não pertence a esse homem puro, como a astúcia da raposa. Ou seja, o príncipe não pode ser essa figura que dá a outra face, precisa entender que a bondade por si só não é o melhor caminho para um governante. Um governante bondoso, e que deixa de agir com severidade quando assim precisa fazer, pode causar o mal de centenas de outras pessoas. Bondade por Bondade não existe.
No mais, o livro apresenta muito mais uma visão republicana do que absolutista. Porém, sua análise não foge da conjuntura política ao qual ele se encontrava por se fundamentar sobretudo numa visão Realista sobre os principados, e apresentar uma “solução” viável ao problema que a Itália passava naquela época.