Jardim de histórias 28/06/2023
A relatividade do tempo! A relatividade da vida!
Até quando, algo notável deverá impulsionar nossos desejos, para podermos saciar aquilo que idealizamos? Seria um singelo sinal da procrastinação?
Com essas perguntas, iniciamos a resenha deste livro maravilhoso "O deserto dos tártaros" de Dino Buzzati.
Um livro que vai propor uma reflexão filosófica sobre o tempo e o que fazemos ou como vivemos com o passar do tempo. Às vezes, projetamos ou idealizamos alguns objetivos, metas para servir de estímulo, e é se direcionando para essas conquistas, que vivemos e depositamos o sentido que atribuímos a nossa vida. Só que ignoramos a construção desta história, desprezando os momentos que compõem esses pilares. Por exemplo: o que pensaria uma pessoa que passou pela vida, e no fim, ao encarar a morte, fosse questionado sobre vossa existência? Pensaria talvez, com êxito ou lamúria sobre os objetivos alcançados. Mas será que lembrará dos obstáculos que marcaram sua história? Historias que foram compostas de escolhas, consequências, dor, alegria, frustração, sofrimento, dúvida, dívidas. Ou seja, todos os ingredientes e instrumentos para compor uma existência humana, que moldará o que conhecemos por vida, ou resultado da vida.
O tempo passa, e temos a sensação de que acontecimentos desta passagem, são totalmente subjetivos, o que é objetivo, é a passagem do tempo.
Assim, faço essa breve resenha sobre esse livro que me arrebatou, com uma história curta, densa, filosófica e muito sensível, que nos fará pensar muito, criando não só uma viagem imaginária no clima árido do deserto, no convívio no forte Bastiani, ao lado desses personagens inesquecíveis e suas passagens descritas na obra, mas também, somos arremessados para dentro de nós mesmos, presos em profundas e prazerosas reflexões.
Este livro, me trouxe muito de "A montanha mágica" de Thomas Mann, mas ressalvo a distinção das obras. É um livro para ler e reler, não pela complexidade da história, e sim pelas nuances poéticas que dão um contorno belíssimo, tornando-o essencial. Mas, é importante lembrar que, este livro, funcionou muito bem comigo, o que não necessariamente possa acontecer com você.
Sobre o tempo, ele passa, passa tão rápido e estamos tão presos aos grilhões desse tempo, que ele, o tempo, não perdoa. Só percebemos, quando os profundos sulcos que habitam nossa face, sussurram a nossa consciência, despertando-nos. Talvez, no contexto do tempo, ainda consigamos contemplar o canto dos pássaros, a fragrância do orvalho, nossos sonhos e quem sabe, viver intensamente o nosso agora. O tempo passa, assim como o rio, segue o seu fluxo, sem retroceder, uns mais lentamente, outros com todo o vigor, mostrando-nos, objetivamente, que o tempo e suas artérias passam nos permitindo protagonizar nossa história.
Incrível! Eterno! Edificante!