Carla.Parreira 08/11/2023
Muitas vidas, muitos mestres
Com a leitura aprendemos que através da meditação alcançamos o silêncio. O vazio total ou silêncio é indivisível. Independente de quantas vezes o silêncio é cortado ao meio, o resultado ainda será silêncio. Esse é o significado de agora. Talvez seja a essência de Deus, cuja unidade não pode ser dividida. Aprendemos que devemos saber não pela crença, mas pela experiência direta. Devemos viver de acordo com nosso próprio saber, em vez de viver segundo as experiências e os testemunhos de outros. Quanto mais experiências 'opostas' (sistemas de crenças opostos aos que nos são familiares) nos permitimos, mais conheceremos a nossa verdade. Aprendemos que os verdadeiros líderes gostam da confiança dos outros, o que é muito diferente de gostar de posturas arrogantes, bajulações e poder que o ego insiste em considerar como sinal de liderança.
Precisamos confiar nos outros para que confiem em nós. Para ser um verdadeiro líder em nossa própria vida e na dos outros é primordial resistir à necessidade de sermos reconhecidos, isto é, liderar sem pôr-nos em evidência e proporcionando confiança sempre que possível. A paciência manifesta-se como confiança, decisão e uma sensação de satisfação pacífica. Sejamos tão pacientes conosco mesmo, em todos os nossos sucessos e desapontamentos, quanto sentimos que Deus sempre foi conosco. Quando podemos transferir um problema a uma autoridade mais elevada com quem nos relacionamos, imediatamente assumimos a condição infinita de paciência e paramos de buscar insignificantes indicadores de sucesso, válidos apenas para o momento presente. Aprendemos a importância de perguntar a nós mesmos: Quando me sinto mais realizado? Quando me sinto extraordinário ou me vejo como uma pessoa fantástica? Qualquer que seja a resposta a tais questões, tem algo a ver com servir ao próximo, ao planeta ou a Deus. Diminuindo a influência do ego e comprometendo-se a estar inspirado e envolvido em algum projeto extraordinário que não beneficie apenas ao ego, saberemos o que fazer. Dentro de cada um de nós existe uma pessoa mais notável do que alguma vez imaginamos.
Aprendemos os seis erros humanos: A ilusão de que o progresso pessoal é obtido esmagando outros; A tendência a preocupar-se com coisas que não podem ser mudadas ou corrigidas; Insistir que uma coisa é impossível porque não podemos realizá-la; Recusar-se a abandonar preferências insignificantes; Negligenciar o desenvolvimento e o refinamento mental, e não adquirir o hábito de ler e estudar; e Tentar obrigar outras pessoas a acreditarem em nós e a viverem como nós. Aprendemos que quando conseguimos ser como crianças, compreendemos que em todos os adultos existe uma criança que quer, desesperadamente, ser conhecida. A criança é plena e o adulto, vazio. A plenitude da criança evidencia-se pela paz, pelo amor, pela ausência de julgamentos e pela tolerância. O vazio dos adultos revela-se no medo, na ansiedade, nos julgamentos precipitados e nas lutas.
O esclarecimento pode ser visto como um processo de recordação de que no coração de uma criança há pureza, e esse puro e divino amor e aceitação permitem a entrada no paraíso. São as nossas opiniões sobre as coisas e não as coisas propriamente ditas que provocam os transtornos nas nossas vidas. É uma grande fonte de libertação saber que ninguém pode nos perturbar, que nada pode causar-nos infelicidade, que controlamos como nos sentimos e como decidimos processar coisas, eventos e outras pessoas e suas opiniões.
Quando sabemos que somos uma manifestação de Deus, fazemos contato consciente com Ele e tratamos a nós mesmos e aos outros como expressões divinas. Era o que, há dois mil anos, Epiteto dizia em Roma e na Grécia. Confiemos na nossa natureza divina, jamais questionemos a nobreza do nosso verdadeiro eu e reverenciemo-nos do mesmo modo que veneramos a Deus. Quando se sentir transtornado, pergunte a si mesmos: como posso mudar a minha opinião sobre essas coisas para acabar com a minha intranquilidade? Depois trabalhe nisso até que o problema seja removido. Isso pode ser conseguido com bastante rapidez se estivermos dispostos a substituir a culpa pela realização em Deus como Epiteto incentivou há dois milênios.
Com o Provérbio Zen aprendemos que o esclarecimento não alterará nosso mundo exterior, mas mudaremos o modo de processá-lo.
O esclarecimento não é uma coisa que nos libertará, mas seremos nós mesmos que nos transformaremos na própria liberdade. Esse pequeno e simples provérbio zen, transmitido por quem busca o esclarecimento por milhares de anos, é um grande presente. Por dentro ou por fora de nós mesmo, nunca precisaremos mudar o que vemos, apenas a maneira de ver. Isso é esclarecimento! Aprendemos a importância de viver o agora. Isso livra-nos de todas as amarras do passado e não as usamos como desculpas para as nossas condições de vida atuais. Nós somos o resultado das escolhas que fazemos neste momento, e nada na nossa trilha pode afetar-nos se ficarmos atento a essa simples conclusão. Com São Francisco de Assis aprendemos que jamais estamos sozinhos.
Se Deus está em todos os lugares, então Ele também está em nosso interior. Com isso em mente, podemos rezar e pedir por nada mais que nossa força moral. Em vez de pedir proteção contra o perigo pedimos força para sermos destemidos. Em vez de pedir a eliminação da dor, buscamos a habilidade para transcendê-la e conquistá-la. Não supomos mais saber do que necessitamos e não desejamos mais ter do que nos ajudará nesse momento.
Nossa experiência nos ensina que muitas das coisas que nunca teríamos pedido acabam sendo as mais benéficas. Como uma vez disse William Shakespeare: 'Nós, ignorantes de nós mesmos, muitas vezes suplicamos nossos próprios males, que os sábios poderes nos negam para nosso próprio bem.' As quedas na nossa vida nos fornecem a energia que nos impulsiona a níveis mais elevados. Não precisamos fingir que gostamos da tragédia, apenas prometer usá-la para gerar a energia que nos impulsionará a um lugar mais elevado na vida.
É possível sentir a perda, expressá-la e ainda saber interiormente que em tudo isso há uma bênção. Talvez tenhamos aceitado sofrimento e dor como inseparáveis porque nos ensinaram que agir de outro modo mostra frieza e falta de humanidade. Entretanto, sabendo que todas as quedas são bênçãos e que todas as perdas estão na ordem divina, gradativamente suavizamos a dor e ganhamos a energia para pairar a uma altitude mais elevada em todas as áreas da nossa vida. Aprendemos que para evitar ser consumido por alguma coisa, precisamos ser capazes de nos afastar dela. No processo de afastamento começamos a ver nosso trabalho, família ou projeto, segundo uma perspectiva aparentemente menor. Devemos nos afastar, relaxar, não tentar com tanto esforço, parar de lutar e permitir que nossa orientação divina nos ajude. Quando nos distanciamos fisicamente do nosso trabalho, e nesse espaço relaxamos, esse processo é um convite à intervenção divina em nossa atividade.
Quando relaxamos e deixamos de nos preocupar, envolvemo-nos naturalmente no processo e, como num passe de mágica, o resultado final aparece. Devemos ter equilíbrio nas nossas vidas, independentemente das atividades. Envolvemo-nos por completo na nossa atividade, mas tentemos gostar dela pelo que ela é, em vez de pensar no resultado final. Além disso, estejamos pronto a nos afastar de uma atividade quando sentirmos que nosso julgamento não está em harmonia ou proporção. Fazendo isso recuperaremos a perspectiva e, paradoxalmente, aguçaremos, em vez de perder, nosso poder criativo.
Nunca dê atenção àqueles que tentam influenciá-lo com seu pessimismo. Tenhamos objetivos elevados, recusemos pensamentos mesquinhos e baixas expectativas e, acima de tudo, não nos deixemos seduzir pela ideia absurda de que ter demasiada esperança é perigoso.
Sir Edward Dyer em sua poesia declama: '...Alguns têm demais, e mesmo assim ainda anseiam; Eu tenho puco e não busco mais... Minha riqueza é saúde e perfeito bem-estar. Minha consciência limpa é a defesa que escolhi; Não busco agradar ninguém com subornos, nem por fraudes ofender...' Com ele aprendemos que a necessidade de obter mais do que o necessário, de buscar o sucesso a qualquer custo, de insistentemente querer a aprovação dos outros não nos é imposta, é função de como escolhemos empregar aquele mistério invisível dentro de nós, nossa mente. Muitos à nossa volta têm demais, e ainda estão insatisfeitos.
Nosso reino consiste em como usamos a mente frente a todas e quaisquer circunstâncias. Somos o regente final. Ninguém pode perturbar-nos sem o consentimento da nossa mente. Aprendemos a buscar a justiça conciliando-a com a misericórdia.
Transfiramos as inquietações mais importunas a Deus. Tenhamos por nós mesmos a compaixão merecida pelas ações do passado. Paremos de nos julgar com severidade. Todos os erros e atitudes erradas foram necessárias para a nossa evolução. Tratemo-nos com amabilidade e eliminemos todos os ressentimentos que nutrimos em relação a nós mesmos. Aprendemos que, quando nos consideramos conectados a todos, imediatamente paramos de julgar o próximo e vemonos conectado àquela pessoa por fios invisíveis, do mesmo modo que os tornozelos e cotovelos compartilham a mesma força vital silenciosa e não visível. Por esse motivo a compaixão torna-se uma reação automática a todos. Vemos a humanidade como uma família indistinta e indivisível.
Aprendemos que a constância da verdade, da paz e do amor nos dão os instrumentos para olhar o tempo diretamente nos olhos e dizer com convicção: 'Não o temo porque sou eterno e você não consegue me alcançar'. Aprendemos que a medida da grandeza e da felicidade é a capacidade de subjugar o ego até ser desnecessário qualquer crédito por realizações, de estar além da gratidão ou do aplauso, de não necessitar da boa opinião dos outros, de apenas se fazer o que se faz, porque o objetivo é esse. Aprendamos a viver despercebido e desconhecido, sem necessidade de chamar a atenção.
Façamos o que fazemos porque nos sentimos guiados e retiremo-nos com dignidade e em paz. Aprendemos a importância de sermos apaixonados por qualquer coisa ou pessoa, sem interferência do crítico interior. Quando ele tentar fazer com que nos sintamos tolo, gentilmente, mas com firmeza, devemos dizer-lhe para esperar na esquina e convida-lo a se juntar mais tarde, se quiser. Aprendemos que, quando conversamos com alguém num sonho, somos nós mesmos e, no mesmo instante, também somos a pessoa com que estamos falando.
Falamos conosco mesmos no sonho, pois podemos vermos em muitas de nossas personalidades simultaneamente. Podemos estar em muitos lugares ao mesmo tempo. E a grande lição é que, todo o feito em um terço da vida, ao dormir, também podemos realizar, se o quisermos, nos outros dois terços. Devemos curtir o dom de viver gratuitamente na imaginação e dar-nos a liberdade para perambular no estranho território da nossa mente, explorando novas possibilidades nas fantasias, sem exceção.
Esse vaguear imaginativo se torna o catalisador de uma vida ilimitada. Aprendemos a recusar-nos de fazer o que quer que seja apenas porque todos estão fazendo. Se estamos de acordo com a nossa definição de ética e justiça, continuemos, independente do que os outros digam ou falam. Aprendemos a importância de estar em paz sem julgar o mundo, de observá-lo sem tentar consertá-lo, mas sim aceitando a perfeição do que está torto e vivendo em harmonia com o fato. Devemos reverenciar a perfeição que existe em tudo tendo consciência de que muitas imperfeições são criações do nosso ego crítico.
Não precisamos perceber a nós e ao mundo segundo uma perspectiva de julgamento ou tentar melhorá-lo. Desfrutar da perfeição é um meio de aplicar a sabedoria das eras. Aprendemos que pureza de pensamento nos ajudará a manter um corpo puro e saudável. Lembremo-nos de que pensamentos curam o corpo, não há outro caminho. É por isso que uma atitude amável de reverência e gratidão para com o corpo é fator importante na elevação de nossa vida espiritual.
Aprendemos a fazer um esforço consciente para rir com mais frequência e não deixarmos passar um dia sem que tenhamos rido. Permitamo-nos ser um pouco louco, pois isso ameniza a vida. E quando as pessoas perguntarem o que há, é só dizer: são as endorfinas. Aprendemos a tirar momentos do dia para ficar em estado de apreciação pelo ambiente imediato que chamamos de lar, independente de quanto possa ser grandioso ou humilde.
Agradeçamos àqueles que fornecem esse lar, àqueles que o partilham conosco e a Deus por abençoar esse abrigo. Aprendemos que, quanto mais nos libertamos da auto-importância, mais alegria atrairemos para a nossa vida. Temos controle total sobre a quantidade de risos, canto e satisfação que experimentamos, não importa quanto nos convencemos do contrário.
É uma grande experiência fazer nada mais que somente estar num estado de aceitação metafísica. Neste estado olhamos para tudo, inclusive para nós mesmos, com um alegre desprendimento. Quando viemos a este mundo, nosso talento maior veio conosco.
Fomos feitos para algum trabalho específico e o desejo por esse trabalho foi colocado em nosso coração no momento em que nascemos. Quando essa tendência não ocorre de forma espontânea, devemos aprender a amar aquilo que fazemos, pois essa sensação de entrega a um serviço útil que necessita de nós gera um prazer maior do que a compensação do que se recebe pelo trabalho. Aprendemos que as características de pessoas autorealizadoras está em apreciar a beleza, ter senso de objetivo, resistir à aculturação, acolher de bom grado o desconhecido, entusiasmar-se facilmente, direcionar o interior, despreocupar com o resultado, independer das boas opiniões dos outros e não precisar de exercer controle sobre outras pessoas.
O nível mais elevado de percepção é aquele no qual não prestamos atenção na aparência, mas sim unicamente na revelação de Deus em cada indivíduo. Devemos ter satisfação pela vida não pelos resultados e recompensas no caminho, mas pura e simplesmente pela vida em si. Simultaneamente estamos no controle e não estamos. Aprender a viver com esse enigma é uma grande parte do que significa conhecer a Deus.