kiki.marino 14/12/2021
Então temos uma cena comum no século XVII, dois viajantes à cavalo numa estrada pelo interior da França,numa conversa informal mas logo descobrimos que são de classes sociais diferentes:Jacques o "servo" e o seu "Mestre", sem nome.
Essas barreiras e papéis são logo subvertidas porque Jacques é o protagonista e contador de estórias dessa obra que intriga ,irrita,fascina o narrador.
Um tagarela conversador, que domina as palavras e a narrativa ,com as estórias e causos de sua vida e de conhecidos, por onde passa. Um humilde filosofo,ora vulgar,ora profundo, uma figura irreverente,
carismática, que tem seu modo de viver resumido neste
motif derivado de Spinoza " Está escrito acima " que traz pra trama lições e reflexões filosóficos sobre o livre arbítrio e destino nas ações humanas.
Seu Mestre , um ouvinte, muito curioso da vida amorosa de Jacques ,um "insolente",que começa e termina suas estórias quando quer..
"Mestre: Um bom contador de histórias é um homem raro.
JACQUES: E é exatamente por isso que eu não gosto de histórias - a menos que eu esteja contando.
MESTRE: Você prefere falar mal a ficar quieto.
JACQUES: Isso é verdade.
MESTRE: E eu prefiro ouvir alguém falando mal do que absolutamente nada."
Além de tecer uma olhadela na vida dos simples plebeus e nobres do interior da França, com suas morais tradições e comportamento corrompidas e hipócritas.
Afinal a vida humana debaixo do firmamento é previsível,porém nunca entediante .
"A vida é uma série de mal-entendidos. Existem os mal-entendidos de amor, os mal-entendidos de amizade, os mal-entendidos de política, finanças, igreja, lei, comércio, mulheres, maridos..."
Uma leitura fácil e prazerosa que me lembrou uma das minhas leituras favoritas deste ano :"Lucas Procopio " do Autran Dourado que também tem influencias de Dom Quixote e seu parceiro Sancho Pança.
Como o narrador remete ao leitor, destas histórias tirem sua própria conclusão.