spoiler visualizarPlícela 15/04/2022
Aproveitando que fiz a resenha pra enviar para a faculdade ?
O livro Introdução à Retórica possui 276 páginas e foi escrito por Olivier Reboul, filósofo francês e também professor de Filosofia da Educação na Universidade de Estrasburgo. Foi publicado no Brasil no dia primeiro de janeiro de 1998, pela editora Martins Fontes.
Possui nove capítulos antes da conclusão, onde é exposto desde a origem da retórica na Grécia, as nuances da retórica e da dialética e o sistema retórico, até as definições de argumentação e figuras, bem como exemplos de leitura retórica. A leitura não precisa ser sequencial, pode-se ler os capítulos de forma aleatória sem prejuízo do aprendizado.
Dando foco ao Capitulo I, que trata das origens da retórica na Grécia, segundo o autor, pode-se dizer que a retórica é uma invenção grega. É apresentado o termo "técnica retórica", inventado pelos gregos, no qual se trata de um ensinamento distinto, que possibilitava defender qualquer causa e qualquer tese, independente dos conteúdos. Depois, eles inventaram a ?teoria da retórica?, ensinada como uma reflexão com vistas à compreensão, e não como uma habilidade útil.
São apresentadas duas datas como referência ao nascimento da retórica: 480 a.c., na batalha de Salamina, na qual os gregos coligados triunfaram definitivamente sobre a invasão persa, quando começou o grande período da Grécia clássica, e 399, a.c., com a morte de Sócrates.
Segundo o autor, a retórica tem origem judiciária, e não literária. Nasceu na Sicília grega, por volta de 465, quando não existiam advogados, então era preciso dar aos cidadãos despojados pelos tiranos uma maneira de se defender quando reclamaram seus bens.
Foi então publicada uma coletânea de preceitos práticos que continha exemplos para uso das pessoas que recorressem à justiça, chamada de "arte oratória". Córax e Tísias, os respectivos autores, apresentaram a primeira definição de retórica: a ?criadora de persuasão?. A cidade de Atenas mantinha estreitos laços com a Sicília, e imediatamente adotou a retórica.
Desta forma, diante da ausência de advogados, a retórica judiciária se tornou uma necessidade. Todavia, foi apresentada como instrumento de persuasão invencível, capaz de convencer qualquer pessoa de qualquer coisa e, por isso, surgiu o debate sobre a retórica não argumentar a partir do verdadeiro, mas a partir do verossímil (eikos).
É exposto também a obra Elogio de Helena, escrito pelo filosofo sofista Górgias, com uma retórica nova, mais estética e propriamente literária. Destaco aqui uma frase presente na referida obra: ?Quando as pessoas não têm memória do passado, visão do presente nem adivinhação do futuro, o discurso enganoso tem todas as facilidades. (Ibid., p. 1033)?.
Protágoras, mestre itinerante, ensina a técnica eristica, arte de vencer uma discussão contraditória, partindo do princípio de que a todo argumento e qualquer assunto pode-se opor outro, sendo sustentado ou refutado.
Já Isócrates propôs uma retórica mais plausível e moral do que a dos sofistas, no qual satisfez as quatro principais necessidades dos gregos: necessidade de técnica judiciária, de prosa literária, de filosofia, de ensino. Para ele, são necessárias três condições para ser orador: aptidões naturais, prática constante e ensino sistemático. Mas vale destacar que a prática e ensino podem melhorar o orador, mas não criá-lo.
Conclui-se o primeiro capítulo com um importante exemplo de Górgias, que pode ser utilizado até hoje, sobre a importância da retórica, ou seja, a importância de dominar a palavra e saber se impor: um Ministro da Saúde não precisa ser médico, um Ministro da Educação não precisa ser professor, e os melhores comandantes das guerras não são militares, isso porquê os grandes ministros raramente são especialistas em seu setor, e sim aqueles que, graças à cultura e à arte da eloquência, são capazes de fazer-se ouvir e arbitrar.
O Capítulo II aborda, num geral, a relação de Aristóteles com a retórica e a dialética, o filósofo grego define a retórica de maneira mais modesta que a dos sofistas, tornando-a mais plausível e eficaz. Enquanto para os sofistas, a retórica é "tudo", e para Platão, é "nada", a retórica, para Aristóteles é alguma coisa, de valor certo.
Nessa parte do livro, a retórica é apresentada como a arte de defender-se argumentando em situações nas quais a demonstração não é possível. Aristóteles aprofunda atribuindo-lhe um papel indispensável num mundo de incertezas e de conflitos, sendo ela a arte de encontrar tudo o que um caso contém de persuasivo, sempre que não houver outro recurso senão o debate contraditório.
Já a dialética, segundo Aristóteles, é a arte do diálogo ordenado. É como um jogo, discute-se pelo prazer de discutir, prazer compartilhado também pelo público. Seu objetivo é provar ou refutar uma tese respeitando-se as regras do raciocínio, o importante é que cada um mostre que raciocinou bem e utilizou todos os argumentos a seu alcance. Além disso, são apontados três benefícios secundários oferecidos pela dialética: o uso pedagógico, filosófico e social.
Há diferenças da dialética das atividades sérias, como a filosofia e a retórica, ainda que lhes seja indispensável. A distinção na demonstração filosófica e científica é raciocinar a partir do provável. E a distinção na erística sofista é raciocinar de modo rigoroso, respeitando estritamente as regras da lógica.
Sendo assim, a retórica e dialética são duas disciplinas diferentes, mas que se cruzam. A dialética, como um jogo intelectual, comporta a retórica entre suas possíveis aplicações, e, a retórica utiliza a dialética como um meio de persuadir.
O sistema retórico é abordado no Capítulo III, o autor inicia dividindo a retórica em quatro partes, não importando a sua ordem cronológica: A invenção, como a busca do orador de todos os argumentos e meios de persuasão relativos ao tema de seu discurso; A disposição, ordenação desses argumentos no discurso; A elocução, a redação escrita do discurso e; a ação, que é o próprio exercício do discurso e sua exteriorização, incluindo-se os efeitos de voz, mímicas e gestos. Na época romana, à ação será acrescentada a memória.
É exposto também uma classificação sobre os tipos de discurso: O discurso judiciário acusa ou defende, e tem como auditório o tribunal. O discurso deliberativo aconselha ou desaconselha as questões referentes à cidade, seu auditório é a Assembleia (Senado). Já o discurso epidíctico, censura e louva pessoas, como por exemplo os mortos na guerra, seus espectadores são todos os que assistem a discursos de aparato, como panegíricos, orações fúnebres e etc.
Aristóteles afirma que os três gêneros também se distinguem pelo tempo. O judiciário refere-se ao passado, pois são fatos passados que cumpre esclarecer, qualificar e julgar. O deliberativo refere-se ao futuro, pois inspira decisões e projetos. E o epidíctico refere-se ao presente, pois o orador propõe-se à admiração dos espectadores, ainda que extraia argumentos do passado e do futuro.
Três tipos de argumentos são definidos por Aristóteles, como instrumentos de persuação: etos e patos (de ordem afetiva), e logos (de ordem racional). Etos é a confiança que o orador deve assumir para que o auditório também possa confiar nele. Para isso, é necessário preencher as condições mínimas de credibilidade, mostrar-se sensato, sincero e simpático.
O patos é o caráter psicológico que o orador deve dominar e aplicar em seu discurso para provocar emoções, paixões e sentimentos em seu auditório, adaptando-se o orador aos diferentes públicos, segundo a idade e a condição social. Já o logos diz respeito a própria argumentação do discurso.
Cabe destacar as provas que são citadas nesse capítulo, na qual o orador pode se valer para dar maior credibilidade ao seu discurso. Alguns exemplos de provas extrínsecas são as leis, confissões, testemunhas, contratos, etc. Já as provas intrínsecas dependem do método e do talento pessoal do orador, pois são as criadas por ele.
Por fim, não se pode esquecer de valiosas regras antigas como a imposição da voz, o domínio da respiração, a variedade do tom e da elocução. Além disso, o discurso oral deve ser bem mais lento que uma leitura, pois o auditório ficaria perdido. Deve ser redundante, para suprir a memória. Todavia, para o discurso não parecer artificial, deve-se aplicar frases mais curtas e expressões mais concretas e familiares.
O Capítulo IV é mais histórico, aborda a forma que os séculos foram enriquecendo o sistema retórico, nas diferentes épocas, do século I ao XX. Começa discorrendo que, depois de Isócrates e Aristóteles, a retórica se instalou na cultura grega helenística como uma disciplina importante, como a matemática para nós.
É abordado que os romanos tinham advogados, ao contrário dos gregos, porém eles não tinham direito de serem pagos, apenas recebiam presentes. Cícero e Quintiliano são citados como grandes advogados da época, autores de livros que narram sobre suas práticas.
Quintiliano diz que não se pode atribuir "o nome de o mais belo dos ofícios a quem aconselhe perversidades" e ?Onde houver causa injusta, não haverá retórica?. Indicando-a não só como uma arte, mas como uma virtude. Virtude essa que, apesar dos debates da época envolvendo o uso e o desuso da sinceridade em sua aplicação, não se pode ignorar ou deixar de utiliza-la, pois a retórica é sinônimo de cultura, é a "Formação do orador". A ausência de retórica não passa de incapacidade para expressar-se e convencer.
A história da retórica na educação romana é retratada como artificial e vazia, como um instrumento que não era muito útil. Discursos fictícios eram usados como exercícios nas aulas de retórica, e eram classificados em três: Os elogios, os discursos epidícticos e os suasórios.
No século XIX, a retórica quase desapareceu. As novas ideias do Renascimento romperam o elo entre o argumentativo e o oratório, que lhe davam força e valor. Porém o cristianismo não tem relação com o declínio da retórica, esta se desenvolveu na literatura profana e na pregação durante a Idade Média.
A partir do século XVI, o humanista Pedro Ramus separou a dialética da retórica. Definindo a primeira como a arte da argumentação racional, e a segunda como o ?estudo dos meios de expressão ornados e agradáveis?, resumido pelo livro como a elocução. Em seguida, duas novas correntes de pensamento são apresentadas.
O positivismo, a primeira, rejeita a retórica em nome da verdade científica. É substituída pela filologia e pela história científica das literaturas. O romantismo, a segunda, rejeita a retórica em nome da sinceridade. Em 1885, a retórica desaparece do ensino francês, substituída pela história das literaturas grega, latina e francesa.
A partir daí a retórica perdeu o nome, porém não deixou de ser utilizada no ensino literário, nem nos discursos políticos e jurídicos. Inclusive renovou-se no século XX, com a comunicação de massa.
E em fim, dos anos 60 em diante, aparece na França e na Europa uma nova retórica, que logo fez imenso sucesso. Cujo objetivo não é produzir discursos, mas interpretá-los, se aproximando mais da gramática dos antigos.
O campo da moderna retórica se expandiu, não se limitando aos três gêneros oratórios, pelo contrário, agregando todas as formas modernas que lhe cabem, como por exemplo o discurso persuasivo, a começar pela publicidade, e mesmo dos gêneros não persuasivos, como a poesia. Além disso, a retórica incorpora as espécies de produções não verbais, como exemplo retórica do cartaz, do cinema, da música, e a retórica do inconsciente. Dito isso, conclui-se que a retórica moderna é fragmentada em estudos distinto pelo objeto e pela própria definição da palavra "retórica".
A argumentação é o tema do capítulo V, e já expõe que a retórica é composta de dois elementos: o argumentativo e o oratório. Essa segunda sendo mais significativa de acordo com a urgência da questão, é menos acessível à argumentação lógica o auditório, e mais restrita no acordo prévio. Assim, o etos e o patos tendem a supera o logos, e surgem as figuras.
A argumentação se apoia no verossímil, que é, em suma, tudo aquilo em que a confiança é presumida. Apoia-se como inerente a seu objeto, sem pretensões, podendo utilizar elementos demonstrativos.
Abordando o aspecto de uma boa argumentação, é preciso equilibrar o aspecto retórico. Além disso, uma argumentação oral deve combater a desatenção e esquecimento. Já sobre os aspectos da conclusão, é exposto que esta deve ser mais rica que as premissas, deve impor-se encerrando o debate.
Para concluir o capítulo, é abordada a argumentação pedagógica, judiciária e filosófica. Destacando algumas diferenças no uso da retórica entre elas, como no caso da primeira, o professor é associado com um orador, devendo atrair e prender a atenção no ensino, motivar o esforço, ilustrar conceitos e etc. Já o segundo caso, trata-se de um debate polêmico onde o objetivo, da acusação e da defesa, é convencer o tribunal. Por último, a finalidade de um filósofo é propor e sustentar uma tese de alcance universal, a longo prazo, para todos.
É apresentado no capítulo VI o conceito dos diferentes tipos de figuras, que é um estilo de expressar-se. Esse estilo pode ser livre, pois não é obrigatório comunicar-se por ela e, pode também ser codificado, pois constitui uma estrutura conhecida, repetível e transmissível.
Pode-se definir brevemente os tipos figuras como: de palavras, que dizem respeito à matéria sonora do discurso, como por exemplo o trocadilho, a rima; de sentido, que dizem respeito à significação das palavras ou dos grupos de palavras, como a metáfora; de construção, que dizem respeito à estrutura da frase, por vezes do discurso, a exemplo a elipse ou a antítese; e de pensamento, que dizem respeito à relação do discurso com seu sujeito (o orador) ou com seu objeto, como a alegoria e a ironia.
É importante destacar, entre as figuras de palavras, a etimologia, que serve de argumento tanto para as definições quanto para as dissociações. Com ela, o orador impõe seu "sentido", portanto seu ponto de vista, ao auditório. Todavia, não é sempre que ela se encaixa de maneira correta, isso pois, como citado no livro, os adversários de Freud pretendiam refutá-lo aduzindo o "sentido etimológico" de histeria, derivado do grego hystera, útero, para afirmar que, "por definição", histeria só poderia ser doença de mulher.
Todo o restante do capítulo se preocupa em definir e distinguir as diversas formas de figuras e suas derivações, mas o maior destaque é que muitas são utilizadas diariamente na comunicação humana, nos discursos e, enfim, na retórica.
Em seguida, no capítulo VII, é abordada a leitura retórica dos textos, que é crítica, munida de juízos de valor, mas sem deixar de admirar a força e a fraqueza do texto, absorvendo seus ensinamentos. A leitura retórica é um diálogo. Deve-se fazer algumas perguntas, chamadas de lugares da interpretação, que podem dizer respeito ao orador, ao auditório e ao discurso. São elas: Quem? Quando? Contra o quê? Por quê? Como?
É importante destacar que a regra de ouro da retórica é levar em conta o auditório, pois já foi exposto no livro e é relembrado neste capítulo. Os auditórios são diferentes em diversos sentidos, como pelo tamanho, que pode ser um único indivíduo ou toda a humanidade; pelas características psicológicas decorrentes de idade, sexo, profissão, cultura, etc.; pela competência, podendo ser um grupo de especialistas ou um público leigo e; pela ideologia, seja ela política, religiosa ou outra.
Aborda-se como necessário um acordo prévio entre o orador e o auditório, se não, a argumentação, o entendimento, o diálogo serão impossíveis entre os interlocutores. Podendo até mesmo haver violência ou ignorância recíproca.
O gênero também é uma questão importante na leitura retórica, pois comanda estreitamente o conteúdo persuasivo do discurso. É impossível classificar exaustivamente os gêneros, porém as obras apresentam aspectos fundamentais em comum, como a tragédia, poema lírico, tese, etc.
Aristóteles diferencia duas estruturas argumentativas, o exemplo, que vai do particular ao geral, do fato à regra, sendo, portanto, uma indução, e o entimema, que vai do geral ao particular, sendo, portanto, uma dedução.
Outro ponto importante é encontrar o motivo central de um texto, que é um procedimento retórico, figura ou argumento, que serve de princípio organizador para o texto, que permite dizer se é ironia, alegoria, argumento de autoridade, etc. Não se pode distinguir um motivo central em todos os textos, mas encontrando-o, encontra-se a unidade viva do discurso.
O capítulo VIII auxilia-nos na identificação dos argumentos, utilizando a classificação do Traité de I 'argumentation [Tratado da argumentação (TA)] de Perelman-Tyteca.
No capítulo anterior foi exposta a classificação dos argumentos segundo Aristóteles, que os divide em indutivos (exemplo) e dedutivos (entimema). Porém, Aristóteles não trata da forma da argumentação, da relação entre as premissas. Já o referido TA estuda o conteúdo das próprias premissas, define tipos de argumentos (lugares) que permitem propor uma premissa maior, à qual se pode depois subsumir o caso em questão.
São apresentados pelo TA, então, quatro tipos de argumentos: os quase lógicos; os que se fundam na estrutura do real; os que fundam a estrutura do real; os que dissociam uma noção.
Também é apresentada a distinção de dois tipos de valores, segundo Perelman-Tyteca, que são os valores abstratos, como a justiça ou a verdade, que se fundam na razão, e os valores concretos, como França, Igreja, que exigem virtudes como obediência, fidelidade. Há uma hierarquia entre eles, como exemplo a preferência do justo ao útil.
O que o TA denomina de lugares do preferível, são um consenso genérico sobre o meio de estabelecer o valor de uma coisa, justificando uma escolha. São divididos em três espécies: Lugares da quantidade, lugares da qualidade e lugares da unidade, no qual o livro explica sobre cada um deles. É feita outra distinção na sequência, definindo na integra os quatro tipos de definição na argumentação, são elas: a normativa, a descritiva, a condensada e a oratória.
Os argumentos fundados na estrutura do real não se apoiam na lógica, mas na experiência. Nesses, argumentar não é implicar, é explicar. Os argumentos que fundamentam a estrutura do real são empíricos, mas não se apoiam na estrutura do real: criam-na; ou pelo menos a completam, fazendo que entre as coisas apareçam nexos antes não vistos, não suspeitados. Já a dissociação tem como objetivo essencial dirimir incompatibilidades, e é exatamente isso que a torna convincente e durável.
Em suma, são expostos ao longo do capítulo diversos tipos de argumentos, como exemplo: a comparação, o argumento do sacrifício, o exemplo, a ilustração, a analogia, a metáfora, o artificio e a sinceridade e etc.
Cabe destacar aqui o modelo, que também é um argumento muito comum de ser utilizado normalmente, ele serve como norma, e é mais que um exemplo, pois é dado como algo digno de imitação. Vale citar como exemplo cômico um trecho do livro: ?O pai: Na tua idade Napoleão era o primeiro da classe. O filho: Na tua ele era imperador?. Já o antimodelo, é o inverso, é o que não se deve imitar.
Visto isso, conclui-se que não há argumento infalível, todos eles podem ser questionados por outro argumento. Espera-se, então, que o argumento seja justo, e não apenas eficaz, de modo a ser capaz de persuadir qualquer auditório, até mesmo o universal.
O capítulo IX apresenta diversos textos para exemplos de leitura retórica, que logo após serem expostos, são analisados com tudo o que foi exposto no livro até o momento. Mas, além disso, é feita uma diferenciação entre o discurso e a unidade de texto.
O discurso é um conjunto coerente de frases, que têm uma unidade de sentido criada por seu autor, e que falam de um mesmo objeto. O autor quem decide quando começará, do que se falará, e quando acabará seu discurso. Por outro lado, a unidade do texto é obra de seu comentador, é ele que o destaca no interior do discurso.
É exposto também certas regras principais da leitura retórica, são elas: fazer perguntas ao texto, dando-lhe todas as oportunidades de responder; essas perguntas devem se referir o máximo possível ao conjunto do texto; a busca pelo vínculo íntimo entre o argumentativo e o oratório e; a leitura retórica pretende ser um diálogo com o texto.
À guisa de conclusão é o nome do capítulo final, nele se conclui todo o estudo e argumentos construídos ao decorrer da obra. Inclusive, afirmando que o próprio livro é retórico, visando a persuasão de seus leitores pelas teses sobre a retórica.
A retórica é definida, na obra, a partir da tradição, uma arte funcional, capaz de persuadir pelo discurso, se valendo de elementos como argumentos, planos, figuras e etc. Nela, não se separa beleza da verdade, pois um discurso pode, sem prejuízo, ser belo e verdadeiro
É afirmado no livro que a retórica se trata do conjunto do estilo e da argumentação. E mais, que ela não está imune a críticas. Aborda-se também a arte como necessária a expressão, e a diferença entre arte e artifício, sendo essa última a ruína da arte, no qual a torna o discurso ineficaz.
A ilusão do livro do mestre é uma crítica particularmente interessante e merece destaque, pois se trata da utopia de existir, em algum lugar, algo como um livro, onde todos os problemas da vida (judiciários, políticos, econômicos, pedagógicos, éticos) estivessem escritos, com uma solução correta. Todavia, isso não existe. Só depois de muito debate, trabalho, dúvidas, pesquisas é que algo é ?estabelecido? como verdade, e sempre estará sujeita a mudanças. E além disso, até o injusto merece defesa, pois, se não, o debate judiciário se mostraria inútil.
Retornando a uma argumentação citada nos primeiros capítulos do livro. A obra é finalizada questionando sobre a polêmica incessante entre advogados, políticos, publicitários e pregadores, em que cada adversário tem como único objetivo vencer o outro mesmo à custa da verdade. Pois o ganhador não é quem tem razão, mas quem detém a força da palavra. Sendo assim, a retórica deve ser utilizada com consciência e respeito a verdade, mesmo possuindo ciência de que nem todos assim fazem.